Por Silver Marraz
A moda é a tradução visual da personalidade, onde o estilo se mistura à elegância para criar uma presença marcante.
A moda sempre foi vista como um território dominado pela juventude, moldada por corpos idealizados e padrões rígidos que delimitam quem pode ou não ser considerado elegante, ou estiloso. Porém, exemplos como o de Margret Chola, conhecida como "Legendary Glamma" da Zâmbia, vêm para desafiar essas noções ultrapassadas. Sua história evidencia que a moda não conhece limites de idade, gênero ou classe social. Mais do que um reflexo estético, esses exemplos são expressões de uma transformação cultural que questiona preconceitos e redefine o que significa ser relevante nesse universo.
Margret, aos 80 anos, fez mais do que apenas adotar a alta-costura: ela a incorporou ao cotidiano, misturando a sofisticação dos grandes desfiles com elementos da vida rural. Ao tornar-se um ícone global, ela não só inspira as gerações mais jovens, mas também mostra que a moda é uma ferramenta poderosa de empoderamento e expressão pessoal. Embora sua trajetória possa parecer singular, ela reflete um movimento maior: a democratização da moda e a celebração da individualidade.
Por muito tempo, a moda foi limitada por estereótipos rígidos que excluíam amplos grupos sociais, especialmente os idosos. A ideia predominante era de que, com o passar dos anos, as pessoas perdiam o direito de se expressar por meio do vestuário, como se elegância e ousadia fossem privilégios da juventude. Mas histórias como a de Margret contestam essa lógica excludente. Seus looks exuberantes, marcados por cores vibrantes e acessórios ousados, comunicam uma mensagem clara: a moda não pertence a uma faixa etária. Vestir-se é uma forma de conectar-se consigo mesmo e com o mundo, e essa conexão se torna ainda mais rica com a experiência acumulada ao longo dos anos.
Além da idade, a moda tradicional também foi marcada por divisões de gênero e classe que restringiam quem podia fazer parte desse universo. Roupas eram rigidamente categorizadas como masculinas ou femininas, e o acesso a estilos mais sofisticados era privilégio de uma elite. No entanto, vivemos uma época em que essas barreiras vêm sendo desafiadas. Margret, com sua autenticidade, exemplifica isso ao combinar peças de alta-costura com elementos de sua realidade cotidiana, como o uso de um "ibende", um bastão de madeira típico do trabalho rural, ou mesmo um braseiro de carvão. Sua capacidade de unir tradições locais ao glamour moderno desmistifica a ideia de que sofisticação é exclusividade de poucos. Ao contrário, ela celebra a diversidade cultural e revela que a moda pode ser um elo entre mundos aparentemente opostos.
Outro ponto poderoso da história de Margret é como ela usa a moda para resistir aos rótulos impostos pela sociedade. Suas escolhas de vestuário, muitas vezes maximalistas e chamativas, rompem com as expectativas de que pessoas mais velhas devem ser discretas ou vestir-se de forma "apropriada". Ao adotar perucas coloridas e acessórios marcantes, ela reafirma sua individualidade e demonstra que envelhecer não significa desaparecer ou ser reduzido a um papel secundário na sociedade. Margret nos mostra que ousar é um ato de liberdade, e que reinventar-se é uma possibilidade em qualquer fase da vida.
Mais do que expressão pessoal, a moda também se mostra como um poderoso elo entre gerações. O projeto criado pela neta de Margret, Diana Kaumba, ao transformá-la em musa da alta-costura, é um exemplo perfeito dessa ponte intergeracional. Esse trabalho não só fortaleceu os laços familiares como também revelou ao mundo a importância de valorizar a sabedoria e a experiência de pessoas mais velhas. Esse diálogo entre gerações prova que a moda pode ser um espaço de colaboração. Enquanto Diana trouxe a alta-costura para a realidade rural de Margret, sua avó lhe ensinou o poder de abraçar a autenticidade e encontrar beleza no que é simples.
A história de Margret Chola transcende o individual e aponta para um futuro da moda que é mais inclusivo e diverso. Designers, marcas e consumidores começam a perceber que beleza não é única ou limitada a moldes predefinidos. Ao contrário, a diversidade de corpos, idades, culturas e estilos enriquece a moda, tornando-a mais fiel à realidade plural em que vivemos. Embora ainda haja muito a ser feito para desconstruir padrões excludentes, figuras como Margret nos lembram que o futuro pode — e deve — ser mais aberto. Quando celebramos vozes como a de uma avó zambiana que mescla jeans com joias tradicionais, criamos um mundo onde todos se sintam representados.
No fim das contas, Margret nos ensina que estilo não tem idade, cultura não tem fronteiras e a moda é, acima de tudo, uma celebração da individualidade. Em uma sociedade que ainda luta contra preconceitos, sua trajetória é uma inspiração para reavaliarmos a relação entre moda e identidade. O verdadeiro glamour não está em seguir padrões, mas em abraçar quem somos. Quando a moda é vista como um espaço de liberdade, ela não só transforma vidas, mas também conecta pessoas e nos convida a imaginar um futuro onde todos possam brilhar à sua maneira.
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