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Vitória: O Retorno Triunfal de Fernanda Montenegro ao Cinema com um Drama de Resistência

Da redação

Uma história real, um filme impactante e uma polêmica que levanta debates sobre representatividade

Vitória - Baseado em fatos reais/2025
Divulgação

Se o início do ano foi marcado pela consagração de Fernanda Torres nos palcos internacionais, agora é a vez de sua mãe, a icônica Fernanda Montenegro, brilhar novamente nas telonas. O filme Vitória, que estreou hoje (13) nos cinemas brasileiros, marca o retorno da dama do teatro e do audiovisual a um papel de protagonismo no cinema, trazendo uma narrativa intensa e carregada de emoções.


A obra, dirigida por Andrucha Waddington, nos apresenta a trajetória de Joana Zeferino da Paz, uma idosa aposentada que, cansada de viver à mercê do crime organizado, decide tomar as rédeas da própria história e denunciar a violência que assola seu bairro. A personagem, conhecida na trama como Dona Nina, grava secretamente as movimentações do tráfico e, com a ajuda do jornalista policial Flávio Godoy (Alan Rocha), desmantela uma rede criminosa.


A história não é ficção. Vitória é baseado em fatos reais, inspirando-se em uma mulher que viveu sob o Programa de Proteção à Testemunha após sua corajosa atuação contra o crime. E é justamente aí que começa a polêmica que tomou conta das redes sociais: Joana da Paz, a mulher por trás da história, era negra. Mas, nas telas, quem dá vida à personagem é Fernanda Montenegro.


Representatividade ou apagamento? O debate sobre a escolha do elenco


Desde que a produção do filme foi anunciada, a escolha da atriz principal gerou questionamentos. Após a exibição de uma reportagem no Fantástico sobre a verdadeira história de Joana, a discussão se intensificou.


A equipe do longa justificou a decisão argumentando que as mudanças foram feitas para evitar que a identidade da verdadeira protagonista fosse revelada durante sua vida. Mas, com sua morte em 2023 e a divulgação de sua identidade, a questão voltou à tona: até que ponto a escolha de uma atriz branca para interpretar uma personagem historicamente negra pode ser justificada?


A polêmica reacendeu um debate recorrente no cinema brasileiro sobre a falta de papéis de protagonismo para atores negros. O questionamento não se limita à cor da pele, mas à forma como histórias reais de pessoas negras são frequentemente embranquecidas nas telas, enquanto os próprios atores negros permanecem em papéis secundários ou estereotipados.


Linn da Quebrada, que interpreta Bibiana, a vizinha e confidente de Dona Nina, foi uma das poucas atrizes negras com destaque no elenco. Sua presença no filme, apesar de fundamental para a narrativa, não apaga o incômodo gerado pela escolha da protagonista.


O filme, a narrativa e a força de Fernanda Montenegro


Independentemente da polêmica, Vitória é um filme poderoso. Fernanda Montenegro entrega uma performance arrebatadora, conduzindo a trama com maestria. Dona Nina não é uma vítima passiva das circunstâncias; ela é uma mulher que resiste, que desafia a lógica da submissão e que, mesmo diante do medo, não recua.


A história é construída de maneira sensível, mostrando como a personagem se torna um obstáculo para o tráfico e, ao mesmo tempo, sofre com o descaso da polícia e da própria sociedade, que a vê apenas como uma idosa inconveniente. Sua relação com Marcinho (Thawan Lucas), um garoto em situação de vulnerabilidade que acaba sendo tragado pelo crime, adiciona ainda mais camadas à narrativa.


Em uma das cenas mais impactantes, quando recebe a proposta de entrar no Programa de Proteção à Testemunha e abandonar sua casa, Nina questiona a chefe de polícia com uma frase que já nasce icônica:


— A senhora quer que eu morra para não morrer?


É nessa dualidade que o filme se desenrola: entre o medo e a coragem, entre a denúncia e o silêncio, entre a invisibilidade e a resistência.


Vitória para quem? O impacto do filme no público e na crítica


Vitória tem todos os ingredientes para ser um dos grandes filmes nacionais do ano. Além da direção competente de Andrucha Waddington e do roteiro bem estruturado, a atuação de Montenegro emociona e carrega a força necessária para uma história como essa.


Mas a pergunta que fica é: até que ponto o cinema brasileiro está disposto a fazer justiça às histórias que conta? A ausência de uma protagonista negra em uma trama baseada na vida de uma mulher negra é um reflexo do quanto ainda precisamos avançar na representatividade dentro da cultura pop.


No final das contas, Vitória é um filme que faz pensar. Sobre resistência, sobre coragem, mas também sobre quem tem o direito de contar certas histórias. E, talvez, esse seja o maior mérito da produção: gerar um debate necessário e inadiável sobre raça, identidade e justiça no cinema brasileiro.


Agora, cabe ao público decidir.

Trailer Oficial/Sony Pictures


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