Em outra matéria, falei de maneira bem sutil sobre algumas curiosidades da vida do cantor e compositor Cazuza. Entre elas, algo pouco conhecido: o fato de Cazuza e o então apresentador Pedro Bial terem estudado juntos na infância.
Um relato me chamou a atenção e causou certa estranheza, e confesso que, num primeiro momento, tive receio em falar sobre o ocorrido. Era uma novidade para mim e uma história intrigante, contada por Pedro Bial em algumas ocasiões com uma naturalidade que soa bem problemática atualmente, embora, particularmente, eu acredite que deveria ter sido encarada assim desde aquela época.
Aos 10 ou 11 anos, Cazuza e Pedro precisavam fazer um trabalho escolar que consistia em entrevistar uma personalidade conhecida na mídia. Com os contatos e a influência que o pai de Cazuza possuía, não foi difícil conseguirem uma entrevista com o poeta Vinicius de Moraes, que, por sinal, não era muito fã de crianças, mas aceitou conversar com os meninos.
Pedro relata que Vinicius os recebeu em sua casa por volta das 10:00 da manhã, enquanto tomava uísque na banheira. O fato de duas crianças irem sozinhas à casa de um adulto para uma entrevista escolar já é uma situação questionável. A história se torna ainda mais peculiar ao saber que os meninos foram recebidos na banheira de Vinicius.
Com muita naturalidade, Pedro narra essa história de uma forma um tanto cômica. Durante a entrevista, o poeta ofereceu uísque a ele e a Cazuza, e ambos aceitaram. O pai de Cazuza conta que os meninos chegaram em casa já à noite, totalmente embriagados.
Essa história é mencionada pelo pai de Cazuza no especial Por Toda a Minha Vida, exibido pela Rede Globo. São tantos problemas envolvidos que fica difícil enumerar todos!
Primeiro ponto: Por que os pais de dois menores de idade não estavam presentes com os filhos durante a realização de um trabalho escolar na casa de um homem adulto?
Segundo ponto: Por que Vinicius de Moraes, o adulto em questão, teria recebido as crianças em sua banheira? E o que lhe passou pela cabeça ao oferecer bebida alcoólica para duas crianças?
Terceiro ponto: Onde estavam os pais das crianças, que aparentemente não estranharam a demora? As crianças chegaram à casa de Vinicius pela manhã e só retornaram já à noite.
Talvez você esteja lendo esta matéria e pensando: "Era outra época, as coisas não eram vistas assim; Hoje vocês veem problema em tudo." Mas me responda com sinceridade: você deixaria seu filho passar o dia na casa de um adulto sem supervisão? Sentir-se-ia confortável ao saber que ele foi recebido na banheira? Como reagiria ao perceber que seu filho estava demorando a voltar para casa? E, mais ainda, qual seria sua reação ao vê-lo chegar completamente bêbado?
Eu, mulher de 33 anos, sem filhos, não me sentiria nada confortável com essa situação. E talvez, por não ser mãe, alguns digam que este não é meu lugar de fala. Mas, você, que é pai ou mãe, como veria essa situação?
Deixo claro que não estou, em momento algum, sugerindo que Vinicius de Moraes era pedófilo ou algo semelhante. Contudo, tanto naquela época quanto atualmente, muitos abusos ocorrem na infância, e muitas crianças se calam por medo. Espero que nada de errado tenha ocorrido naquele estranho dia na casa de Vinicius, mas é uma questão sobre a qual jamais saberemos. O que podemos afirmar, no entanto, é que houve uma falta de responsabilidade por parte do poeta ao oferecer bebida alcoólica a duas crianças.
Essa reflexão não se aplica apenas ao meio artístico, mas à vida de todos. É fundamental estarmos atentos aos ambientes frequentados por nossos filhos. Logo, esta matéria é destinada, de certa forma, aos pais e ao quanto estão dedicando a atenção que suas crianças precisam e merecem.
Ainda sobre Vinicius de Moraes, curiosamente, o poeta foi encontrado morto por seu parceiro musical, Toquinho, justamente em sua banheira, após sofrer um edema pulmonar.
Para Vinicius de Moraes, o canto mais especial de sua casa era, sem dúvida, a banheira. Isso mesmo. O "poetinha" adorava esse local inusitado para mergulhar em leituras, reflexões e colher inspirações para suas célebres e eternas obras. Em dias de preguiça, ele até dava entrevistas direto da banheira, sempre acompanhado de seu fiel amigo: um copo de uísque, a quem ele, carinhosamente, chamava de “cachorro engarrafado”.
Rosi Velozo
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