
Cinema brasileiro alcança um marco histórico ao conquistar seu primeiro Oscar na categoria de Melhor Filme Internacional com filme que trata a luta contra ditadura militar.
No último domingo (02/03) o filme "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles e protagonizado por Fernanda Torres, ganhou o prêmio do Oscar na categoria de Melhor Filme Internacional. Este feito não apenas consagra o cinema nacional, mas também traz uma reflexão profunda sobre a memória e a resistência em tempos de autoritarismo, temas que são particularmente relevantes atualmente.
O Impacto cultural e a mensagem nos tempos atuais
"Ainda Estou Aqui" foi baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva que narra a luta de Eunice Paiva, uma mulher que busca justiça durante a ditadura militar brasileira, um período marcado por repressão e autoritarismo que durou de 1964 a 1985.
A vitória do filme não é apenas um feito histórico para o cinema brasileiro, mas também um resgate da memória nacional que dialoga com o presente. O filme destaca a força das mulheres que desafiaram o silêncio e o medo durante um dos períodos mais sombrios da história brasileira. Em tempos de crescente polarização política e desafios à democracia, a história de Eunice Paiva serve como um lembrete poderoso da importância da resistência e da luta pela verdade.
Walter Salles, em seu discurso de agradecimento, destacou a importância da história de Eunice Paiva, dedicando o prêmio a ela e às atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, que deram vida à personagem. Salles enfatizou que o filme é uma homenagem à resistência e o amor, valores que são essenciais para superar os desafios atuais. Após a conquista em uma coletiva de impressa, Walter divulgou seu até então principal discurso que já estava pronto para ser compartilhado caso ganhasse a disputa, mas devido ao nervosismo, não conseguiu encontrá-lo no palco.

Fernanda Torres refletiu sobre o impacto do filme: "Acho que o filme toca em um momento muito especial da história brasileira, e isso faz com que as pessoas se sintam conectadas a ele. É uma história de amor, de perda, mas também de resistência e luta pela verdade. Em tempos de incerteza, é fundamental lembrar que a arte pode ser uma ferramenta poderosa para nos fazer refletir sobre quem somos e onde estamos."

Selton Mello, ator e crítico cultural que interpreta Rubens Paiva, também comentou sobre no evento: "O que 'Ainda Estou Aqui' faz é trazer a uma memória que muitas vezes é esquecida. É um lembrete de que a arte pode ser uma poderosa ferramenta para nos fazer refletir sobre quem somos e onde estamos. Em um mundo cada vez mais complexo, é crucial que nos lembremos das lições do passado para construir um futuro melhor."

Repercussão internacional
A vitória do filme ocorre em um momento de crescente interesse internacional por temas ligados a direitos humanos e democracia. A crítica americana Caryn James destacou que "poucos filmes retrataram os efeitos devastadores da política sobre os indivíduos de maneira tão íntima, visceral e oportuna". Isso reflete a relevância global da história contada em "Ainda Estou Aqui", que transcende fronteiras culturais e políticas.

A construção de um legado e um olhar para o futuro
"Ainda Estou Aqui" se tornou um fenômeno cultural no Brasil, contribuindo para o resgate da autoestima e da bilheteria do cinema nacional. O filme foi visto por mais de 5,1 milhões de espectadores e arrecadou mais de 104,7 milhões de reais, tornando-se um dos maiores sucessos de bilheteria do país desde 2018, ocupando o terceiro lugar das maiores bilheterias de filmes nacionais.
A vitória abre um leque de possibilidades para novos projetos cinematográficos brasileiros, aumentando as oportunidades de coprodução e interesse internacional pelo cinema nacional. Como destacou Cíntia Domit Bittar, integrante da comissão da Academia Brasileira de Cinema, o sucesso do filme fortalece o senso de pertencimento dos brasileiros ao seu cinema, um resgate importante após anos de desafios para a indústria audiovisual no país.
"Ainda Estou Aqui" é mais do que um filme; é um chamado à reflexão sobre a importância da memória, da resistência e da luta pela verdade em tempos de autoritarismo. Sua vitória no Oscar é um reconhecimento internacional da força desse recado, que ecoa não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.
matéria incrível, adorei esse filme