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Nadia Aurelio

Sororidade ancestral e a libertação feminina


Por Aline Valencio

 

                                              Ancestralidade feminina e a força da mulher.

 


Vamos dar continuidade à conversa da semana passada. Para você que está lendo essa coluna pela primeira vez, peço a gentileza de ler a matéria da semana anterior para se inteirar melhor do que se trata.   Segue um resumo.


Basicamente, discorremos sobre a ideia de que, quando aceitamos nossos familiares como eles são, nos tornamos absolutamente responsáveis pela nossa vida, e nos libertamos de qualquer responsabilidade de corresponder às expectativas deles. É pesaroso, porém, que, destarte, não existem mais muletas para nos vitimizarmos. Urge, portanto, sair da zona de conforto, evoluir e crescer. Só que crescer é muito consternador. Além de exigir comprometimento, disciplina, paciência, generosidade, fé, e muito (mas muito) autoamor e generosidade todos os dias para consigo mesma. Crescer, entretanto, configura-se num ato de resistência e liberdade, de propriedade cabal sobre si própria.

 

Outrossim, sabe o que acontece quando, com afinco, nos desvinculamos da nossa mãe e enxergamos a mulher? Tornamo-nos artífices na arte de estar serenas diante dos motivos pelos quais ela se comporta de determinada maneira. Assim, aprendemos e, principalmente, não necessitamos mais alimentar discussões ou desavenças. Motivo: compreendemos, finalmente, que ela não está fazendo aquilo para nos ferir e sim porque não consegue e não sabe lidar com os problemas dela e você é apenas um espelho de tudo isso. Ou seja, cada vez que ela olha para você, ela está se deparando com as próprias dores e traumas escondidos e esquecidos dentro dela e nos quais ela não quer mexer. Olhar para você é como se lembrar, todos os dias, de que é preciso confrontar seus monstros internos e se curar. Atenho-me, todavia, a enfatizar que cada um é responsável por si. Inclusive, por suas emoções e pensamentos. Logo, tudo que, neste momento, estamos abordando, não é, de forma alguma, para você se punir por estar, quem sabe, se sentindo livre de todas essas penalidades impostas pela sociedade. Pelo contrário, o intuito é exclusivamente este mesmo: libertação.


Será libertador, acredite, quando, você descobrir, que sua mãe não está se referindo a você e sim a ela mesma. Provavelmente, sua mãe não desfrutou do ensejo que você, por exemplo, está usufruindo, de despertar, de compreender, de conhecer e se libertar. Ou ainda, pode ser que ela não queira evoluir e, lamentavelmente, isso é um direito dela, goste você ou não. E também é um problema dela. Esta coluna trata de você, não dos outros.


Analise comigo um instante, por favor. Se estivéssemos nos referindo a outra mulher, tenho certeza que em você, de pronto, surgiria um sentimento de acolhimento e empatia. Dessa forma, o fato de ela ser sua mãe, faz com que você não tenha sororidade por ela? Quem sabe porque a sociedade nos ensinou, de forma extremamente subjetiva, que é ingrato, desleal e maldoso “matar a mãe”, como já pregava o próprio Freud. O que você pensa a respeito?


Você já parou para pensar que, apesar de tudo, todas as suas ancestrais aceitaram uma a outra? Uma acolheu a outra? Cada uma aceitou receber outra dentro de si, no seu ventre, de geração para geração, e ser veículo de evolução para você? Sim, exatamente isso. Se você está aqui, nessa encarnação hoje, vivendo essa experiência na Terra, é porque elas aceitaram a missão de conceber, receber e acolher em seus úteros cada uma delas. Um grande e estratosférico detalhe que deveria ser motivo para uma infinita gratidão. Viu a bondade delas?


Analisando por esse ângulo, não é difícil compreender que se conectar com suas ancestrais é como ter um chão. É como uma árvore que tem o privilégio de crescer cada vez mais alto porque suas raízes são sólidas e a seguram bem firme na terra. É como um prédio e seu alicerce. Sem a conexão com a ancestralidade, sem a compreensão e respeito às nossas ancestrais, nos assalta aquela sensação de estarmos à deriva e ficamos tomadas pela impressão de não pertencimento. Dá um vazio! Faço questão, porém, de esclarecer algumas coisas: conhecer, conectar-se, respeitar e honrar nossa ancestralidade não é continuar repetindo os mesmos padrões familiares somente por lealdade familiar. E esse processo é inconsciente! Digo mais: é justamente o fato de estarmos buscando obstinadamente fazer diferente do histórico familiar que somos impelidas a romper ciclos, padrões e neuroses familiares, que estão compondo o cenário comportamental e povoando o inconsciente coletivo familiar há séculos. Sororidade ancestral é não julgar as escolhas feitas pelas mulheres da nossa árvore genealógica, acolhendo o passado com amor, mas pedindo licença para fazer diferente nas nossas vidas e seguir em frente sem culpa. Pode acreditar, funciona. Eu sou a prova vivíssima disso.


Observo mulheres que não querem saber o que aconteceu com suas ancestrais, se negam a destrinchar o passado e depois indagam a razão de muitas vezes as coisas não mudarem nas suas vidas. Com isso, continuam repetindo os mesmos padrões familiares limitantes que empacam a vida. Saber o que aconteceu com as mulheres que vieram antes da gente e situações que viveram é proporcionar para nós que muitos dos nossos próprios comportamentos são exímias repetições que não nos deixam ir para frente. Muitas vezes, trata-se de uma bagagem que trazemos de outras encarnações. Por isso, muitas vezes, não prosperamos, por mais que a gente trabalhe, por mais que a gente se dedique, se entregue e se comprometa com as coisas. Resumindo, quanto mais você contestar sua ancestralidade, quanto mais você resistir, mais das mesmas situações bloqueadoras vão se repetir até você finalmente aceitar que precisa mudar e ir em busca dessa transformação.


Fui rigorosa demais nas minhas palavras? Perdoem-me, mas minha função é te ver nas alturas, brilhando e realizando tudo que você quiser. Desse modo, não posso me dar ao luxo de sempre falar o que você gostaria de ouvir. Mas gostaria de dizer que amo você e te espero na próxima semana.


Até lá!



 

 

 

 

 

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