
Trabalhei, de 1983 a 1993, numa multinacional sediada no Centro da cidade do Rio de Janeiro. Um prédio imponente bem próximo à igreja da Candelária.
A empresa, de origem inglesa, pagava gratificação no meio do ano (14º) e outra no fim do ano (15º). Os salários eram bons também. Ótimos tempos, apesar de ter sido um período de inflação alta. O ambiente de trabalho era excelente, pelo menos no meu setor – exportação. Creio que se a empresa não tivesse passado por uma crise aguda que a fez demitir grande parte da mão de obra a partir do início da década de 90, eu e meus colegas estaríamos lá até hoje. Mas foi uma crise que afetou várias empresas da área de comércio exterior. Hoje, a empresa não é nem a terça parte do que foi. Pena!
Estou dizendo isso tudo porque lembrei, há alguns dias, de um episódio que, à época, me passou despercebido, mas que hoje, ao vir à lembrança, me comove. Havíamos recebido o 15º numa sexta-feira de dezembro. Era o ano de 1987, se não me engano. Quando cheguei a Petrópolis, fui direto ao supermercado e fiz compras de Natal para a família. Lembro que enchi o carrinho de iguarias doces e salgadas para que tivéssemos uma ceia de Natal bem farta e meus pais não tivessem de se preocupar em comprar mais nada. Cheguei feliz da vida em casa e mostrei a meus pais e irmãos o que havia comprado! Acho que tive essa atitude porque era o meu primeiro 15º com salário alto.
Recordo-me até hoje da cara de felicidade de meu pai, minha mãe, minha irmã e meu irmão. Foi como se eu estivesse bancando um Papai Noel que resolve chegar de surpresa trazendo presentes para a família. A felicidade deles me fez feliz também!
Meu pai se foi em 1999. Meus irmãos, em 2007. Minha mãe, em maio de 2018, ano do meu primeiro Natal sem a presença deles juntos.
Tenho tios e primos, uma tia que mora comigo e é uma segunda mãe para mim, além de dois sobrinhos e quatro sobrinhos-netos que tenho como filhos. Tenho família para celebrar a Noite Feliz, portanto. O Natal de 2018, no entanto, foi o primeiro sem os quatro que, por alguns anos, dividiram comigo as alegrias do 13º, do 14º e do 15º salários. Mesmo porque, nos dias atuais, o panorama econômico mudou; e os salários, também.
Analisando esse episódio com a distância que o tempo proporciona, percebo como fui feliz levando felicidade em forma de fartura para eles. Foi uma época de Natais, Páscoas e aniversários gordos. Minha tia – além de minha avó e um casal de tios, os três já falecidos – também ganharam muitos bons presentes meus no mesmo período.
Quanta saudade! Não propriamente deles, pois entendo que cumpriram suas provas e missões e voltaram para o plano espiritual – a verdadeira vida – e que permanecem, onde estiverem, vibrando por mim. A saudade maior é da alegria que proporcionei a eles em tantas datas especiais e da qual só agora me dou conta.
Marcelo Teixeira
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