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Marcelo Teixeira

Réquiem para Washington Olivetto

          


Embora eu creia que nada se perde quando alguém morre, começo este texto com que é tradicionalmente dito em casos de morte de gente famosa e/ou querida: o Brasil perdeu, no domingo, 13 de outubro de 2024, o homem que revolucionou e popularizou a arte de fazer publicidade no Brasil: Washington Olivetto.

 

Paulistano filho de imigrantes italianos, Olivetto sempre teve tino para vender escrevendo ou escrever vendendo, como ele mesmo dizia. Para juntar estas duas habilidades, resolveu estudar publicidade.

 

Em pleno curso, o pneu do carro dele furou na frente de uma conceituada agência. Ele, então, enxergou no contratempo uma oportunidade, entrou na agência e falou para um dos donos: “Sou estudante de publicidade e acho melhor vocês me darem um estágio, pois não é todo dia que o pneu do meu carro fura em frente a esta agência”.

 

Ganhou o estágio e começou uma carreira de muito sucesso. Primeiramente, na DPZ, onde pediu estágio e na qual cresceu como publicitário. Tempos depois, fundava, em parceria com um grupo europeu, a W/GGK, que se transformaria na W/Brasil e nos brindaria com campanhas publicitárias geniais e ao mesmo tempo populares. Washington Olivetto mostrou com todas as letras e ideias que a publicidade, para ser eficiente, pode ser simples. Em suma: ele provou que, quando a ideia é boa, ela se basta. Não precisa de firulas ou superprodução. A boa ideia fala por si.

 

As provas disso, ele foi deixando pelo caminho. Começo pela genial campanha da Bom Bril, protagonizada, por anos, pelo ator Carlos Moreno. Foram mais de 250 comerciais em que Moreno, interpretando um sujeito tímido e desajeitado, divulgava os produtos da marca: esponja de aço, amaciante, detergente etc. Era a boa ideia executada de forma simples. Bastava um estúdio, o ator e os produtos da empresa em cima de um balcão. O sucesso estava garantido.


Vieram, no entanto, para nosso deleite, outras campanhas para os mais variados anunciantes. Nossa memória afetiva guardará para sempre o primeiro sutiã da Valisère, o cãozinho Turbogás dos Amortecedores Cofap, o currículo bacana de Adolph Hitler para o jornal “Folha de São Paulo”, entre muitos sucessos que tornaram WO o mais renomado e premiado publicitário do país e que serviu para projetar outros tantos talentos da publicidade, como Agnelo Pacheco, Cristina Carvalho Pinto, Eduardo Fischer, Nizan Guanaes e Celso Loducca.

 

Com Olivetto, a publicidade ganhou status de profissão conceituada e cobiçada. Para mim, que sou publicitário além de jornalista, é um prazer lidar com ideias que podem se transformar numa sacada criativa e resultar num slogan ou jingle que cairá na boca do povo e tornará um produto ou marca amplamente conhecido e respeitado.


A morte, contudo, chega para todos. E chegou para o gênio da publicidade e corinthiano doente que, no clube, ajudou a fundar a Democracia Corinthiana, da qual foi diretor de marketing. Liderado por importantes jogadores do Corinthians de então (Sócrates, Casagrande e Zenon, entre outros), a Democracia Corinthiana se caracterizou como o maior movimento ideológico da história do futebol brasileiro. Objetivo: politizar jogadores e torcedores e combater o autoritarismo e a ditadura militar ainda vigentes no país. Deu certo!

 

Por isso, quando se fala que o Brasil perdeu Washington Olivetto, pergunto: quem perdeu? E respondo: ninguém. Todo mundo saiu ganhando. Ganhou ele, por ter sido genial, criativo e democrata. Ganharam os anunciantes que com ele trabalharam. Idem os que dividiram o dia a dia profissional com ele (o que deve ter sido um luxo). Ibidem o público, que se deleitava com os comercias que eram uma delícia de se assistir. E até o futebol brasileiro saiu ganhando com o exemplo de cidadania e democracia dado pelo Timão.

 

Ninguém, portanto, perdeu. Todo mundo ganhou! Por que, então, ele morreu? Porque a morte é um fenômeno natural que faz parte da vida e pelo qual todos nós passaremos um dia. Faço votos que seja um ganho para nós e para todos à nossa volta, tal qual foi com Washington Olivetto.

 

Até um dia, queridão! De preferência, um dia transbordando de criatividade.

 

Marcelo Teixeira

 

 

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