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Silver Marraz

Quem tem santo é quem entende

Por Silver Marraz


A probabilidade de alcançar o desenvolvimento nacional é maior quando o povo demonstra respeito por seus símbolos, cultura, história, identidade e território pátrio.




A tarde desta segunda-feira (13), o Teatro Municipal do Rio de Janeiro foi palco de um encontro histórico: a entrega do Prêmio Iyalodè, uma iniciativa da Confraria de Olosuns na pessoa do seu idealizador Babalorisá Mauro T'osun. Instituído nos anos de 2021, pela renomada Irmandade, num cenário pandêmico da Covid, a Confraria busca reconhecer e tirar da margem o povo do santo que na maioria das vezes é excluso de solenidades e contemplações de reconhecimento. O objetivo primordial do evento foi garantir mais visibilidade e reconhecimento às religiões de matriz africana, seus locais sagrados de culto e às pessoas dedicadas a manter viva essa rica cultura ancestral.

Tomado por uma atmosfera de celebração e compromisso com a valorização da

diversidade cultural e o combate às formas de discriminação – especialmente a intolerância religiosa e o racismo estrutural que ainda permeiam a sociedade brasileira – o Babalorixá Anderson Santiago, figura proeminente na promoção e preservação das tradições do candomblé, foi honrado, entre outros participantes, com o Prêmio Iyalodè 2024. Em suas palavras, ele destacou a importância da visibilidade e do reconhecimento para o povo das religiões de matriz africana e a indicação ao recebimento da honraria.  “Para a gente da religião, que se dedica, batalha, busca sempre uma melhoria dentro do Candomblé, dentro da religião é realmente uma honraria receber esse prêmio. Sou muito privilegiado por eu conseguir agregar na minha vida tamanha confiança de vocês”, ressalta o babalorixá.


Um dos focos principais dessa iniciativa foi resgatar e valorizar os babalorixás mais antigos, que por muito tempo estiveram à margem da sociedade. Uma ênfase na necessidade de resgatar a história desses líderes religiosos e sua significância para a cultura afro-brasileira. Vale saúvas ao censo do IBGE, apontando falhas na contabilização de terreiros e instando uma maior atenção para essa realidade muitas vezes negligenciada.


Apesar deste grande festejo, precisamos colocar em questão que as religiões de matriz africana, como o candomblé, a umbanda e outras, têm enfrentado séculos de preconceito, discriminação e marginalização. Desde a colonização do Brasil, essas práticas espirituais foram alvo de perseguições e tentativas de apagamento cultural. No entanto, é crucial ressaltar a importância dessas tradições e o papel fundamental dos Orixás em seu resgate e elevação.


Os Orixás, divindades ancestrais, representam diferentes aspectos da natureza e da vida humana. Por exemplo, Oxum é associada às águas doces, à fertilidade e ao amor, enquanto Xangô personifica a justiça, a sabedoria e o poder. Cada Orixá possui uma função específica na cosmologia das religiões de matriz africana, contribuindo para a harmonia e o equilíbrio do universo e, estes deuses – como o fazem com os deuses dos brancos europeus – precisam ser respeitados como também são essências de Deus.


Apesar dos desafios enfrentados, as comunidades que praticam essas religiões têm lutado incansavelmente pela sua valorização e reconhecimento. O resgate dos ensinamentos dos Orixás é um ato de resistência e afirmação cultural, uma forma de reafirmar a identidade e a herança deixada pelos antepassados africanos.


Além disso, as religiões de matriz africana têm um papel crucial na promoção da diversidade religiosa e na luta contra a intolerância religiosa. Ao celebrar a pluralidade de crenças e culturas, essas práticas espirituais contribuem para a construção de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa com as diferenças.


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