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Silver Marraz

Quando o estupro é inevitável, o que resta é relaxar

Por Silver D'Madriaga Marraz




Queria relaxar mesmo, comendo pipoca e vendo o filme destes machistas sendo estuprados e  sentindo as mesmas dores físicas e psicológicas que sofrem as mulheres e crianças (meninos e meninas) vítimas de abusos sexuais. Queria sentar e ri da escatológica cena e gargalhar com estes “machões” conseguindo sentir prazer ao serem violentamente estuprados e condenados psicologicamente para o resto de suas vidas. E depois de me fartar de pipoca e risos, sentar com cada um, após a cena, e perguntar como fazem com as mulheres:

 

“Mas o que você estava fazendo na rua a essa hora e com essa roupa?”

“Você tem certeza de que foi estupro mesmo”

“Mas ele era seu namorado/marido, não era? ”

“Deus só coloca sobre você o peso que você é capaz de carregar.”

“Melhor não dizer nada, ninguém vai acreditar mesmo.”

“Mas você tinha bebido muito. Será que não foi consensual?”

“Agora, você é mais forte por causa disso.”

 

A diferença é que eu não iria querer ouvir as respostas. Queria apenas vê-los sorrir a cada reflexão e questionamento, deixando-os cientes de que os seus silêncios eram a resposta mais saudável que os seus rostos poderiam produzir.

 

É isso. Eu Q.U.E.R.I.A. Queria, porque, muitas vezes, só entende a dor quando se passa por ela e absorvem-se todos os danos que ela causa. Queria porque não dá para aceitar o ESTUPRO e nem podemos pensar que um ato tão bestial consiga ser aceito por milhões de homens que mantém o seu machismo em alta e ainda levam ao âmbito político para votar em favor dele.

 

Fico me perguntando: será que têm mãe? Mulheres? Filhas? Como se comportam em casa e na rua com outras mulheres? Essas perguntas me assombram, porque revelam a hipocrisia e a brutalidade de uma sociedade que ainda permite que atos tão desumanos aconteçam.

 

O estupro não é apenas um crime; é uma violação completa da dignidade, da liberdade e da integridade física e psicológica de uma pessoa. É um ato que destrói vidas, que deixa cicatrizes profundas e que perpetua uma cultura de medo e submissão. É inadmissível que ainda existam pessoas que minimizam ou até justificam esse tipo de violência.

 

É fácil culpar a vítima. Frases como "ela estava pedindo" ou "ela se colocou nessa situação" são comuns e revelam o quanto estamos distantes de uma verdadeira compreensão e empatia. Estupro não tem desculpa. Não importa a roupa que a vítima estava usando, a hora do dia, o lugar onde ela estava ou qualquer outro detalhe. A responsabilidade é única e exclusivamente do agressor.

 

O machismo estrutural está enraizado em nossa sociedade, ensinando homens e meninos que têm o direito de dominar e possuir mulheres. Essa mentalidade arcaica e perversa é perpetuada através de gerações, e é aí que reside um dos maiores desafios que enfrentamos. Precisamos educar nossos filhos para que vejam as mulheres como iguais, para que respeitem suas vontades, seus corpos e suas liberdades.

 

Além da educação, a legislação precisa ser rigorosa e efetiva. A impunidade é um dos maiores aliados do estupro. Casos de violência sexual devem ser tratados com seriedade e rapidez, garantindo que os agressores sejam punidos exemplarmente. As vítimas precisam de apoio, não só da justiça, mas também da sociedade como um todo, incluindo suporte psicológico e acolhimento.

 

A mudança cultural é fundamental. É necessário um esforço coletivo para desmantelar as bases do machismo e construir uma sociedade onde o respeito e a igualdade prevaleçam. Isso começa com pequenas atitudes no dia a dia: desde a forma como falamos sobre as mulheres, até como reagimos a piadas misóginas e como ensinamos as próximas gerações sobre consentimento e respeito.

 

Como sociedade, temos a obrigação de proteger e valorizar todas as pessoas. Não podemos permitir que o estupro seja normalizado ou minimizado. Precisamos, sim, indignar-nos, levantar nossas vozes e exigir mudanças. Não há espaço para complacência quando se trata de direitos humanos e dignidade.

 

Acredito que só através da conscientização, da educação e de políticas públicas eficazes poderemos transformar essa realidade. O caminho é longo e árduo, mas cada passo na direção certa é uma vitória para todos nós. No entanto, mais que não aceitar nada menos do que o fim da violência sexual e tentar ensinar às mulheres como se defenderem, precisamos todos –HOMENS e MULHERES CONSCIENTES – não silenciar, não calar, não aceitar, vociferar, gritar, berrar, esgoelar-se, esganiçar-se, bradar, clamar, vozear, esbravejar, estrondar, estrondear, bravejar, goelar-se, DENUNCIAR e dizer NÃO.

 

Nesta questão, mais uma vez, o poeta francês Charles Baudelaire está certo: “Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada não bordaram ainda com desenhos finos a trama vã de nossos míseros destinos, é que nossa alma arriscou pouco ou quase nada”. Então, machista, entenda como quiser e se permita estrupar-se e estrepar-se. E ponto final.

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jullysslone
Jun 14
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