Esses serão os uniformes utilizados na apresentação da delegação brasileira na abertura das Olimpíadas 2024. O que era para ser um momento de celebração do nosso senso de comunidade, nacionalismo e patriotismo se tornou um constrangimento estético questionado, criticado e repercutido em várias redes e veículos de comunicação.
Em minhas análises, fujo de uma crítica relacionada ao senso do que é feio ou bonito e de observações pautadas em perspectivas estritamente individuais.
Então, o ponto principal que observo aqui é: o quanto nossa cultura material é invisibilidade quando precisamos contar a história do nosso país. Isso não acontece ao acaso. É político. É sobre economia. Sobre protagonistas nesse sistema.
Me entristece perceber que a criação de narrativa de um uniforme da delegação brasileira, foi entregue a uma rede que pensa a moda acelerada, lucrativa e pouco diversificada. E sim, estamos falando aqui da varejista Riachuelo, escolhida para a execução desses trajes.
O resultado é um discurso raso e desconectado das expectativas, realidades e pluralidades. Em seus textos comerciais, se apresentam dessa forma:
“Mantemos uma parceria sólida com comitê olímpico do Brasil, desde 2021. Demonstrando nossa paixão pelo esporte. Nosso compromisso com estilo, conforto e qualidade." Riachuelo, site, 2024)
No site da marca nos deparamos com preços altíssimos de peças extremamente críticas e questionadas. Como vem ocorrido com a produção para roupas cotidianas também.
E tem mais! Algo que sempre me chama atenção, é quando essas empresas do varejo utilizam um único elemento para se sentirem amparados em possíveis críticas. Nesse caso, foi adicionado uma manualidade de bordado potiguares nas jaquetas e também a pauta da sustentabilidade.
Na tentativa, a meu ver, tímida de dizer: estudamos um pouquinho sobre nosso país e pautas, aqui está! Mas ao analisar a comunicação disso com a execução da coleção, não há um diálogo coeso não verbal, de deixar tudo isso em evidência.
E algo tão incrível, se dissipa em um discurso vazio rentável.
Mas essa é a história que resolveram contar. Um discurso que tentou, mas a imagem não acompanhou. O lucro apaga profundidades e pautas. Isso é um fenômeno comum no nosso país.
Como apontado por Rene Oliveira em suas redes sociais, em postagem profunda e reflexiva sobre a valorização da cultura de moda brasileira: "Enquanto não olharmos a nossa moda e nossos criativos com respeito que merecem, estaremos fadados a seguirmos assim, sendo conhecidos com o país da estampas tropicais e rasteirinhas. Não adianta também cobrar uma boa execução e senso estético dos nossos uniformes, se na primeira oportunidade você optar por comprar uma bolsa que não fala português."
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