Obsolescência Programada - A Programação do Capitalismo Contra a Sustentabilidade

Obsolescência programada 

Você já ouviu esse termo alguma vez? Bem, eu mesmo falei sobre ele no primeiro artigo da revista, porém agora, vou detalhar mais sobre o que se trata e como ele impacta de forma negativa nas nossas vidas e na questão da sustentabilidade.

Se você jogar o termo “obsolescência programada” no Google, vai ter como um dos retornos da pesquisa a seguinte descrição: obsolescência programada é a decisão do produtor propositadamente desenvolver, fabricar, distribuir e vender um produto para consumo de forma que se torne obsoleto ou não funcional especificamente para forçar o consumidor a comprar a nova geração do produto. 

Agora acredito que você já consiga entender melhor do que se trata, não é mesmo? Sim, a cada ano que passa, nossos aparelhos eletrônicos vêm se tornando ultrapassados com cada vez mais frequência, e não estou me referindo a estragarem, e sim de, em poucos anos, já não apresentarem mais as mesmas funcionalidades de outro que acabou de ser lançado e que grita para você o comprar, pois vai facilitar muito mais sua vida.

Embora isso aconteça de forma geral com todos os nossos eletroeletrônicos, vou usar como exemplo o mais conhecido e com certeza o mais comum para todos: nossos aparelhos celulares. Desde que se popularizaram entre as camadas mais baixas da sociedade, rapidamente os celulares que antes só faziam ligações que custavam caro nos créditos e muito mal enviavam mensagens de texto e tinha o “jogo da cobrinha”, se tornaram os chamados “smartphones”. A partir daí, eles, que antes só mudavam mesmo de modelo e de qualidade de câmera para te fazer querer comprar outro, passaram a apresentar cada vez mais recursos e esses recursos vieram se tornando ultrapassados cada vez mais rápido. É aplicativo para tudo, praticamente não se faz mais nada atualmente se não tiver aplicativo. Nós somos de uma certa forma obrigados a aderir a essas tecnologias para resolver as coisas. Oferecem descontos e promoções para quem compra pelo APP, fazem de tudo para você lotar o celular de aplicativos e mais aplicativos, e, como se não bastasse, de tempos em tempos, e diga-se de passagem, bem pouco tempo, você precisa atualizar seus aplicativos e daqui a pouco o seu smartphone não vai mais suportar as tecnologias de atualização que você é obrigado a fazer, começa a travar e você tem que logo comprar outro em questão de no máximo 4 anos de uso.

Além da questão dos aplicativos, tem também as câmeras que vão ficando com a resolução cada vez melhor, fazendo a sua se sentir uma vovó do início do século. Aí você já sente a necessidade de comprar outro celular, mais rápido, mais moderno, com uma resolução melhor de câmera e de tela.

Citei aqui o celular por ser uma tecnologia da qual hoje não vivemos mais sem, e por isso, todos vamos conseguir nos identificar com todos esses efeitos citados, mas a situação se aplica a todos os eletrônicos que consumimos, e não somente eletrônicos, mas também automóveis e outros. Tudo hoje dura menos. Tudo hoje é para você já ter que comprar outro no próximo ano, mês que vem, semana que vem.

Me lembro que quando me tornei adulto e deixei a casa dos meus pais, em meados dos anos 2000, a geladeira que minha mãe usava ainda era a mesma de quando eu era criança, isso não era incomum. Ela já estava ultrapassada se comparada com as mais modernas e cheias de recursos do mercado, mas funcionava perfeitamente ainda, apesar de já ter quase 20 anos de uso. Também me lembro que os móveis da casa da minha avó eram de madeira maciça, já tinham mais tempo de “vida” do que eu e meu pai e ainda durariam uma vida inteira. Hoje todo mundo sabe que uma geladeira que você compra quando casa, não vai mais estar funcionando quando seu filho entrar na faculdade. Os móveis, então, esses hoje nem de madeira legítima são mais fabricados. São lindos no design, mas a durabilidade é zero. São fabricados de MDF que é um montante de restos de madeira prensados que mal resistem a uma mudança de casa ou apartamento.

Sim, tudo para você se ver obrigado a comprar o que as empresas desenfreadamente produzem diariamente, e em ritmo cada vez mais acelerado!

Mas o que isso tem a ver com sustentabilidade? Não seria o caso de falarmos de consumismo? Bem, também, mas como nosso foco aqui é falar sobre sermos mais sustentáveis, vale ressaltar todos os efeitos que o consumismo produz na natureza e no uso dos recursos naturais. 

Para a produção de um único chip de 32MB utilizado nos celulares, por exemplo, gasta-se aproximadamente 16 mil litros de água. Um smartphone possui diversos minerais e metais em sua composição, o que requer a mineração desse material. Estima-se que são gastos 12.760 litros de água para a produção de um smartphone. E por aí vai, são anualmente gastos milhões de litros de água para a produção de roupas, carne, eletrônicos, e tudo mais que nós muitas vezes não precisamos, mas somos levados a pensar que sim devido à cultura do consumo desenfreado que o sistema capitalista vem gerando há muitas gerações.

Para onde vão todos esses produtos que funcionam, mas que, ao mesmo tempo, não nos servem mais? O problema vem na hora de produzir e também ao descartar tais materiais. O Brasil é o quinto país maior produtor de lixo eletrônico no mundo e produz cerca de 2 milhões de toneladas desse material por ano, conforme o mais recente relatório, divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2019. Conforme o levantamento, apenas 3% desse resíduo é reciclado.

Diante de todos esses dados que foram levantados, claro que não pretendemos mudar da noite para o dia nossa forma de produção e consumo, mas precisamos começar a repensá-los, tentando encontrar um equilíbrio e compensando de alguma forma o mal que fazemos ao meio ambiente. Vamos tentar, com essa coluna, plantar uma sementinha a cada artigo. Até a próxima!

Everton Montezi