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Renata Freitas

O tropicalismo e sua influência na moda: um apelo ao retorno da subversão tupiniquim

Inicio o texto dessa semana com um pedido de desculpas. Se você veio até esta coluna de moda procurando looks e apenas looks, peço desculpas pela confusão. Pensaremos sobre música, movimentos de contracultura e sua influência, também, na moda.

Começando pelo começo, buscando pautas interessantes, deparei-me com os looks belíssimos de Caetano Veloso e Maria Bethânia para o Show da Virada, em Copacabana.




Crédito de Imagem: Instagram oficial de Caetano Veloso


Gosto de justificar as ideias para partirmos do mesmo ponto, então, mais uma justificativa: sou a favor de utilizarmos a moda como forma de expressão até suas últimas consequências. Seria hipocrisia escrever um texto de tal importância ditando regras morais de estilo. Apoio aos movimentos feministas, queer e antirracistas, que se utilizam da narrativa de reapropriação dos corpos como estratégia de resistência. Muito me incomoda, no entanto, a subversão dessa estratégia pelo capitalismo, no qual a hiperssexualização dos corpos é um importante valor de mercado, assim como a espetacularização de pautas importantes como estratégias de alienação. Na moda, confundimos essa hiperssexualização mercadológica com a estética brasileira de um país tropical, de altas temperaturas, em que, inclusive, é estratégia de sobrevivência usar poucas roupas.

Dito isto e pensando em outros fatores como o etarismo, na crescente onda de ideologias reacionárias, na desvalorização desse movimento cultural tão importante para o Brasil como foi a Tropicália e no apagamento sistemático de nossas memórias para que esqueçamos da força dos movimentos populares, ainda acho que a turnê destas entidades brasileiras tem caráter revolucionário. Defendo, ainda, que deveria ter sido o show principal, se é que houve coisa assim. Aquele jeito da MPB de falar coisas importantíssimas em linguagem poética popular.


Créditos de Imagens: perfil do Instagram @acervo_mpb

Pensando, especificamente, na estética que acompanhou esse movimento artístico, vemos a afirmação das mensagens cantadas através dos códigos de vestimenta. Cores, texturas, estampas, maximalismos e penduricalhos implorando pelo retorno da alegria, da abundância e da criatividade roubadas pelo horror do regime Ditatorial em que vivemos por mais de 20 anos. Com influências dos movimentos hippie e do rock psicodélico, criamos um movimento cultural de luta e resistência, a Tropicália. Essas referências são traduzidas para o tupiniquim através da exaltação, também, dos códigos de vestimenta ancestrais de povos indígenas e afro-brasileiros. Uma completa rejeição à rigidez intelectual e ao controle total dos corpos.

Nas passarelas internacionais, os questionamentos de gênero eram propostos através da apropriação de peças do armário masculino pelos códigos de vestimenta femininos. Aqui no Brasil, artistas se tornavam referências estéticas pela apropriação de peças do armário feminino aos códigos de vestimenta masculinos. Basta pensarmos que essa comunicação do povo para o povo, de estratégias de sobrevivência, que alcançava as massas em festivais de música populares e trilhas sonoras de novela, causou tanto perigo aos poderes autoritários que muitos artistas foram presos e exilados. Para relembrarmos a força de movimentos populares nestes períodos antidemocráticos, acho imprescindível buscarmos força e inspiração no movimento tropicalista pela sua genialidade que, entre frestas, como bem explica o professor Luiz Antônio Simas, encontrou caminhos de resistência e pertencimento para o povo brasileiro.

Renata Freitas



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