Após ver um vídeo de entrevista do professor de História da Moda, João Braga, refleti sobre umas coisas que quero compartilhar aqui. Era o trecho de uma entrevista, em que ele falava sobre o movimento do Minimalismo na Moda. Ele constatou ali, o que eu tenho observado em minhas pesquisas e nas pesquisas de pensadores da Moda brasileira: o minimalismo não faz parte da cultura nativa brasileira, é uma importação. Citou personagens de novela e Carmem Miranda como símbolos de identificação do nosso maximalismo estético. Somos um povo multiétnico, na convergência de muitas culturas, é apenas natural entendermos que nossas referências, inclusive na moda, seja rica de cores e texturas.
O movimento Minimalista está, também, presente no repertório cultural brasileiro, mas é importante entender que é uma aquisição recente em nosso campo simbólico. Se pensarmos em ancestralidade como o que produz e mantém a cultura, é só lembrarmos dos povos que deram origem ao brasileiro contemporâneo. Povos originários e suas centenas de etnias, que nada têm de minimalismo em suas diversas formas de expressão, em ritualizações, cantos, mitologia, pinturas e acessórios corporais e até na vestimenta.
O processo de colonização que vivemos foi, também, mental e simbólico. A tentativa sistemática, desde o primeiro momento, de apagar e catequizar as memórias, um verdadeiro exorcismo cultural. Africanos sequestrados e escravizados, povos originários, europeus, colonizadores e refugiados, esta é a nossa herança de povo brasileiro. Tão importante quanto reconhecer as consequências desse processo colonizador, é reconhecer que, apesar das tentativas violentas de apagamento, a riquíssima cultura africana em diáspora, com a força de quem constrói uma nova nação para si, entre frestas, e unida ao que nesta terra encontrou de originário, fundam a identidade afro-brasileira contemporânea.
Sabemos que os movimentos culturais são cíclicos e, na Moda, não é diferente. Nas redes, vemos como o Estilo Elegante se impõe como regra na busca pelo sucesso e pela prosperidade. E as tendências como a estética clean girl ressurge também, como uma expressão do movimento minimalista na Moda.
Não é coincidência que observamos, neste mesmo fluxo, o crescimento das epidemias dos transtornos alimentares, trends nas redes sociais que ironizam o fato de ficarem doentes de forma proposital para emagrecer ou tomar aquele remédio dos famosos e alcançar o corpo perfeito. Até aqui, se vê a tentativa de apagamento de corpos e identidades plurais, na busca pelo encaixe no padrão inalcançável. Todos figurando como símbolos de status, de uma suposta superioridade, em que o maximalismo brasileiro é brega e datado.
A identidade estética brasileira só é respeitada por meio de apropriação cultural, como o caso do "Brasilcore". Mais uma trend nas redes sociais onde estrangeiros criam, através de estereótipos bem marcados, uma estética com os símbolos nacionais e, muitas vezes, periféricos. É bem recente o movimento de reconhecimento mais amplo, inclusive internacional, de Designers e Estilistas brasileiros.
Ouso dizer que é o medo ou ignorância de nossas origens, um movimento coletivo inconsciente de forças opostas aos movimentos de resistência negros e indígenas. Não trago, neste texto, crítica aos indivíduos que optam pelo movimento minimalista como estilo de vida ou na moda, falo sobre a importância de questionar como esses símbolos, no âmbito coletivo, colaboram com o apagamento sistemático de nossas memórias ancestrais.
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