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Cigana Carmem

O legado cigano


Por Cigana Carmem

 

 

                                      A cultura cigana e seu legado.

 

Amigos leitores e leitoras, mais uma terça feira onde venho escrever para você com meu coração repleto de gratidão. Tenho muito orgulho de ser uma cigana e de todo o legado da nossa cultura. E como já comentei em outra matéria, embora nossa cultura seja transmitida oralmente, de geração para geração - e isso incorra em equívocos e interpretações maldosas a nosso respeito -, o que importa é a verdade que cada um carrega dento de si. Afinal, Deus sabe a verdade da alma de cada um de nós. Podemos enganar aos outros, mas a Deus e a nós mesmos não. Sendo assim, vou compartilhar com vocês algumas particularidades da nossa descendência. Como as músicas, e nossa maneira de se vestir, entre outras curiosidades. O assunto que tenciono conversar com você hoje é nossa adoração pelo ouro.

 

A origem do povo cigano é indiana. Sim, nossa procedência é da Índia. Nesse país, como todos sabem, as mulheres andam cobertas de ouro. Muito ouro. O significado disso é o olhar que os indianos têm em relação às mulheres e que é o mesmo que nós, ciganos, temos da figura feminina, uma vez que nossa origem é a mesma. Para os indianos, mulheres são seres sagrados, divinos. Isso explica muito acerca da nossa apreciação por joias.


Saiba que nada tem a ver com ganância ou ambição. Pelo contrário. O ouro é apenas um símbolo de prosperidade e abundância. A cor dourada tem esse arquétipo. Logo, ao usarmos ornamentos, nossa intenção não é ostentar, e sim, celebrar a vida, que é tão rica e próspera. É um ritual que comunica ao universo nossa gratidão pela existência e por toda as bênçãos que recebemos de Deus. Para a espiritualidade, o ouro é frequentemente associado à iluminação, sabedoria e ao conhecimento divino. E segundo a tradição grega, o ouro evoca o sol, e a sua simbologia está relacionada à fecundidade, ao amor e é um dos símbolos de Jesus Cristo. O ouro, é bom frisar, foi o primeiro presente que Jesus recebeu ao nascer, dos três reis magos.

 



Para a cultura indiana, o ouro possui caráter divino. E sendo a nossa origem, nossa cultura, esse também é nosso olhar sobre esses adornos. Torna-se mais simples, portanto, atinar por que pessoas ricas amam tanto o ouro e compram muitas joias preciosas. Elas possuem esse conhecimento a respeito da simbologia do ouro. Quanto mais ouro, mais prosperidade. Na maioria das vezes, nada tem a ver com ganância. As crenças arraigadas no nosso inconsciente nos levam a torcer o nariz para os ricos. Entretanto, sua riqueza está fundamentada nesse conhecimento.


Você já reparou que os ricos, muitas vezes, ficam ainda mais ricos e não conseguimos entender como eles conseguem? Acontece que, sendo possuidoras desse conhecimento, pessoas ricas vão em busca da cura interior, do aperfeiçoamento interno e da reforma íntima, uma vez que elas sabem que, para acessar a abundância e a prosperidade material, é primordial, e é, digamos, quase uma regra da existência, a busca por autoconhecimento e regeneração espiritual. Logo, quanto melhores seres humanos nos tornamos, com mais facilidade acessamos a abundância e a prosperidade existentes no universo.

 

Tal fato esclarece também por que diversas civilizações foram (ou ainda são) tão abundantes e muito ricas. Basta recordar da sociedade egípcia. É uma cultura riquíssima, não somente em se tratando da sabedoria e do conhecimento divino, como também das leis universais que regem a vida e que nos embalam para a bonança da existência. Essas culturas são exímias autoridades na arte de assimilar o que está além da compreensão humana e que nos colidem com o fluxo da vida, que é, por natureza, próspera e abundante.


Sendo assim, para nós, povo cigano, esse conhecimento é inerente à nossa alma. É uma herança, um legado originário da Índia e toda a sabedoria intrínseca à sua cultura. Mais do que isso. Nós, ciganos, dedicamos tempo para nos vestirmos, nos embelezarmos. Esse ritual demanda muita dedicação e comprometimento. É como uma oferenda ao divino. Ao emprestarmos nossos corpos para que enfeites nos cubram, estamos cultuando a abundancia divina. É uma reverência a toda a riqueza do universo, tanto espiritual, quanto  material.

 

A moeda simboliza, para nós, proteção e prosperidade. Ela, como todos sabem, tem dois lados: cara e coroa. Cara representa o ouro físico, da matéria; coroa significa a riqueza espiritual. Sendo assim, a partir do momento em que nos revestimos de ouro, acreditamos que estamos protegidos pelos deuses divinos e bondosos.


Há, ainda, algo fundamental para se revelar aqui: as duas riquezas andam juntas. E é assim até hoje. Não há como alcançar riqueza material sem antes, acessar dentro de si mesmo a riqueza espiritual, emocional, psíquica e energética. O universo é um todo, e nós somos parte inerente do cosmos. Se almejamos riqueza material, é preciso, primeiramente, coragem e disposição para atravessar uma jornada para dentro de si, alinhando-se com toda a abastança interior que sempre existiu dentro de nós, para, só então, vermos do lado de fora o esplendor material se manifestar concretamente em nossas vidas.

 

Nós, ciganos, não estamos apegados a conceitos sociais que bloqueiam o fluxo abastado da existência. Pelo contrário. O desapego, a fé inabalável de que agimos em parceria com a inteligência maior é que nos torna livres. E não entenda sermos livres tão somente no sentido de sermos nômades. Estou me referindo à liberdade da alma, à liberdade de uma verdade ancestral que carregamos e cultuamos e que nos abastece de riqueza divina, espiritual e material. É nessa força ancestral do nosso legado, é na perpetuação do nosso ensinamento cultural que se consolida nossa força e nossa cultura.


Para terminar, gostaria de enfatizar que a sociedade não sabe lidar com pessoas livres porque o conceito que se perpetua no inconsciente coletivo é de que pessoas livres são desocupadas, à toa, a nada apegadas. Para a sociedade em que vivemos, se você não está apegado a um diploma, título, casa, carro, celular e não se encaixota para caber dentro desse padrão, você não tem valor humano. Gente livre, nessa concepção, não é gente séria. Para ser sério, você precisa estar doente, estressado, preocupado e correndo atrás, a qualquer custo, de bens materiais, somente. É isso que importa. Mas não para nós, ciganos. Para nós, o valor está na vida humana e no feliz privilégio e oportunidade de vir ao mundo evoluir.

 

Um afago.

 

Cigana Carmem

 

 

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