O Rio de Janeiro foi palco, em novembro de 2024, de um dos eventos mais significativos do cenário político-econômico global: a Cúpula do G20. Entre discussões de líderes sobre transição energética e mudanças climáticas, um momento marcante foi a entrega de uma carta-manifesto pela Aliança de Juventudes por Governança Energética, composta por dez organizações do Norte e Nordeste do Brasil. Este gesto corajoso expôs a luta de comunidades tradicionais por justiça ambiental e energética, levantando questões que transcendem fronteiras e redefinem o papel do Brasil no debate global.
A Luta por Justiça Energética
Enquanto grandes potências discutem metas climáticas, as juventudes brasileiras colocaram um foco essencial: a conexão entre energia, justiça social e os direitos das comunidades tradicionais. Liderados por jovens ativistas como Natalia Mapuá e Sabrina Cabral, o manifesto destacou os riscos de um modelo energético predatório, que privilegia grandes corporações em detrimento das populações locais.
A exploração de petróleo na Margem Equatorial e os impactos das usinas eólicas foram exemplos emblemáticos levantados pelos jovens. Esses projetos, segundo os ativistas, não apenas degradam o meio ambiente, mas perpetuam desigualdades históricas ao desconsiderar os direitos de povos que dependem diretamente desses territórios para sua sobrevivência cultural e econômica.
O Papel do Brasil no G20
Como anfitrião, o Brasil teve a oportunidade de destacar sua importância no cenário ambiental global. A Amazônia, frequentemente descrita como "o pulmão do mundo", é também o epicentro de disputas que envolvem soberania, economia e preservação ambiental. No entanto, o governo brasileiro enfrenta o desafio de equilibrar compromissos internacionais com pressões internas para explorar recursos naturais.
O manifesto das juventudes trouxe uma crítica ao modelo atual, que ainda trata a Amazônia e outras áreas ricas em biodiversidade como meros recursos exploráveis. Esse modelo, apontaram os ativistas, ignora o potencial de alternativas sustentáveis que poderiam fortalecer as economias locais sem comprometer o futuro do planeta.
Um Alerta Global
As demandas das juventudes não são apenas um grito local; elas ecoam globalmente. A transição energética justa, tema central do G20, não pode ser debatida sem considerar as vozes das comunidades diretamente impactadas. A falha em incluir esses grupos no planejamento e execução de políticas pode resultar em mais desigualdade e crises humanitárias.
No entanto, a inclusão dessas pautas no G20 também revelou um otimismo cauteloso. Com o apoio de iniciativas como o Youth20, representado por Marcus Barão, há esperança de que esses diálogos resultem em políticas mais inclusivas e em mecanismos concretos de proteção para os territórios vulneráveis.
O Que Está em Jogo
O Brasil, enquanto líder ambiental e detentor de recursos estratégicos, precisa urgentemente tomar uma posição clara. O país pode optar por liderar um movimento global de transição energética inclusiva ou continuar refém de um modelo econômico insustentável e excludente.
A carta-manifesto entregue no G20 é um lembrete de que as decisões tomadas hoje terão impacto profundo nas futuras gerações. Ao ouvir as vozes das juventudes e adotar políticas que priorizem justiça e sustentabilidade, o Brasil tem a chance de se tornar um modelo para o mundo.
Mas o tempo está contra nós. Assim como o manifesto enfatiza, “não há transição energética sem justiça.” É hora de transformar palavras em ações, de incluir todas as vozes no caminho para um futuro mais equitativo e de proteger, acima de tudo, as vidas que dependem diretamente dos territórios que são a base do nosso planeta.
POESIA
Nas veias abertas da América Latina
Latifúndios
Mineradoras
Hidrelétricas
De marco em marco eles nos zeram
Testam
Colonizam
Dizimam
Mercurizam
Perfuram
Alagam
Apagam
Logo nós os donos da energia
Palhaços
Fazemos o circo funcionar
Mas não provamos do pão
Ou melhor, do linhão
Excluídos de propósito das linhas de transmissão
Petróleo pra mim ou pro patrão?
Para o capital ou Marias e Joãos?
Não!
Não vamos deixar nos perfurarem com essas mãos
Que se enchem de sangue
Mas que no bolso está cheio de milhão.
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