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Isabella Wandermurem

O feminismo silencioso de Teen Wolf: Como as personagens femininas romperam o estereótipo de donzela em perigo


Teen Wolf
Créditos: Reprodução: Instagram/teenwolf

Séries sobrenaturais costumam se apoiar em um conjunto de arquétipos previsíveis quando se trata da representação feminina. A “donzela em perigo”, frequentemente usada como catalisador da ação masculina, tornou-se uma figura quase inevitável.


No entanto, a série Teen Wolf, exibida entre 2011 e 2017, subverteu essas expectativas de forma sutil. Longe de ser uma narrativa puramente masculina focada em lobisomens e confrontos épicos, a série introduziu personagens femininas fortes e complexas que não apenas desafiam os estereótipos do gênero, mas também moldaram ativamente o rumo da trama.


Teen Wolf ofereceu ao público um feminismo embutido nas camadas da história, onde as personagens foram agentes de suas próprias narrativas.


Allison Argent: o conflito entre herança e escolha


Quando Allison Argent (Crystal Reed) faz sua estreia na série, ela carrega a marca típica da personagem feminina que se insere em uma trama sobrenatural como o interesse amoroso do herói. Porém, ao longo das temporadas, a série vai descamando essa camada inicial, revelando uma figura central mais densa e multifacetada.


Descendente de uma longa linhagem de caçadores, Allison tem sua vida moldada por códigos familiares rígidos, uma estrutura que poderia facilmente aprisioná-la. Mas Teen Wolf, opta por outro caminho: Allison gradualmente se torna uma guerreira decidida, cujas escolhas — e não seus laços afetivos — a definem.


O arco de Allison está repleto de dilemas morais. Ela não só herda uma tradição, como também a questiona. É importante notar que sua evolução não depende de sua relação com Scott McCall, o protagonista, mas sim de sua própria busca por propósito. 


Allison emerge como um exemplo de personagem que, ao lidar com suas heranças familiares, escolhe seu próprio destino — uma narrativa de empoderamento que raramente se vê em figuras femininas dentro desse tipo de trama.


Lydia Martin: a intelectualidade feminina como força de combate


Lydia Martin (Holland Roden) começa a série como uma caricatura: a “rainha da escola”, cercada por superficialidade e apatia. No entanto, ao longo de seis temporadas, Lydia se transforma em uma das personagens mais dinâmicas e essenciais de Teen Wolf.


Seu despertar como banshee simboliza sua descoberta de poderes sobrenaturais e a aceitação de sua inteligência como ferramenta de poder.


O que Teen Wolf faz de forma brilhante é construir Lydia como uma força intelectual, sem deixar que isso a distancie de sua feminilidade. Em um gênero onde a mulher inteligente muitas vezes é retratada como fria ou desprovida de emoções, Lydia equilibra racionalidade e empatia, sem sacrificar nenhuma das duas.


Sua capacidade de desvendar mistérios e suas visões sobre o perigo iminente a colocam no centro da ação, desafiando o clichê de que o conhecimento, nas mãos das mulheres, é sempre secundário à força física dos homens.


Malia Tate e Kira Yukimura: novas formas de força feminina


Enquanto Allison e Lydia representam arquétipos de guerreira e inteligência, Malia Tate (Shelley Hennig) e Kira Yukimura (Arden Cho) ampliam ainda mais o espectro da representação feminina em Teen Wolf.


Malia, uma coiote, é uma personagem cuja brutalidade e instinto animal colidem frequentemente com a convivência em sociedade, desafia as expectativas de como as mulheres devem ser moldadas por suas experiências traumáticas. 


Ela é uma sobrevivente de um passado marcado pela violência e isolamento, mas sua jornada de reaproximação com o mundo humano é construída com autenticidade. Malia é tão feroz quanto vulnerável, e essa dualidade fez dela uma personagem complexa e interessante.


Já Kira, com sua herança kitsune (uma raposa), traz uma perspectiva diferente. Como uma das poucas personagens asiáticas em séries sobrenaturais de grande alcance, Kira traz consigo a riqueza cultural da mitologia japonesa, e a série não a coloca em uma posição de exotificação, mas sim de respeito a sua identidade.


Suas habilidades sobrenaturais são desenvolvidas ao longo da trama, e Kira se torna uma figura central em batalhas cruciais, mostrando que a força e a graça podem coexistir.


Desafiando o papel da donzela em perigo - Teen Wolf


Em muitas séries sobrenaturais, o perigo que ronda as personagens femininas é um dispositivo narrativo para avançar a trama masculina. Teen Wolf, contudo, ressignifica essa dinâmica. Não são as mulheres que precisam ser salvas, elas também são salvadoras. Os roteiristas da série optaram por não posicionar as personagens femininas como vítimas indefesas. Allison, Lydia, Malia e Kira lutam, lideram e, em muitos casos, protegem os homens ao seu redor.


Essa inversão de papéis é especialmente relevante quando considerada no contexto de outras produções do gênero na mesma época. Enquanto muitas séries ainda exploravam a vulnerabilidade feminina como fonte de tensão dramática, Teen Wolf colocava as mulheres na linha de frente, tomando decisões críticas, muitas vezes em momentos em que os homens estão incapacitados.


Embora Teen Wolf nunca tenha se declarado uma série feminista, a construção e o desenvolvimento de suas personagens femininas revela um subtexto poderoso. Elas tinham profundidade, lutavam suas próprias batalhas e, acima de tudo, tinham autonomia.


Ao final da série, fica claro que Teen Wolf não apenas cumpriu sua promessa de ser uma série sobrenatural de lobisomens e outras criaturas, mas também sobre a evolução de personagens que, com suas forças, redefiniram o papel das mulheres em tramas do gênero. 



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