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O Dia em que o Mundo Parou para Olhar o Racismo de Frente

Ana Soáres

Do Massacre de Sharpeville à Resistência no Brasil: Por que essa data ainda precisa ser lembrada?


 O Dia em que o Mundo Parou para Olhar o Racismo de Frente

Imagine um dia em que o mundo inteiro fosse forçado a encarar sua própria sombra. Um dia em que o racismo sistêmico fosse exposto sem filtros, sem desculpas e sem a falsa sensação de progresso. Esse dia existe: 21 de março, o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, estabelecido pela ONU para garantir que a humanidade nunca esqueça o horror do Massacre de Sharpeville – e, mais do que isso, para reforçar que a luta por igualdade racial está longe de terminar.

O sangue derramado que despertou o mundo

A África do Sul de 1960 ainda vivia sob o regime brutal do Apartheid, um sistema institucionalizado de segregação racial que negava à população negra os direitos mais básicos. Mas naquele dia, 20 mil sul-africanos decidiram desafiar as regras que os condenavam à marginalização. Eles saíram às ruas, protestando pacificamente contra uma lei absurda que limitava sua circulação em seu próprio país.

A resposta do governo foi tão brutal quanto previsível: 69 pessoas foram assassinadas e outras 180 ficaram feridas por militares que abriram fogo contra manifestantes desarmados. O Massacre de Sharpeville escancarou para o mundo a crueldade do Apartheid e, mais do que isso, mostrou que a luta por liberdade nunca foi gratuita – sempre foi paga com sangue preto.

O impacto foi imenso: a ONU condenou o regime sul-africano, organizações internacionais pressionaram pelo fim da segregação, e o mundo começou a olhar com mais atenção para a luta antirracista. Mas se engana quem acha que essa luta ficou no passado.

E no Brasil? O racismo veste novas roupas, mas nunca deixou de existir

Se você acha que o Brasil está distante dessa realidade, talvez seja hora de rever essa ideia. Por aqui, o racismo não foi institucionalizado como o Apartheid, mas se adaptou e continua operando nas sombras – e às vezes, nem tão nas sombras assim.

Somos o país que aboliu a escravidão sem garantir a inclusão da população negra, que estruturou um sistema em que a cor da pele ainda define quem tem acesso às melhores oportunidades e que, até hoje, mata mais negros do que qualquer outro país do mundo.

Os números não mentem:

📌 A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil.

📌 Negros são 75% das vítimas de homicídio no país.

📌 Mulheres negras ganham, em média, 44% a menos que homens brancos.

📌 Negros representam mais de 60% da população carcerária.

Dói ler isso? Pois é. Mas a verdade precisa ser dita.

21 de março no Brasil: tradição, resistência e luta

Falar de racismo no Brasil é falar também de resistência e identidade. Por isso, 21 de março também é o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé – um reconhecimento tardio, mas necessário, da riqueza cultural e espiritual que a África nos deu.

O Candomblé é mais do que uma religião: é uma filosofia de vida, um sistema de cura, uma conexão com a ancestralidade que resiste há séculos à intolerância religiosa e ao racismo estrutural. Um culto que já foi perseguido, criminalizado e demonizado, mas nunca silenciado.

É também um lembrete de que a intolerância religiosa ainda é uma das faces mais cruéis do racismo no Brasil. Terreiros incendiados, mães de santo agredidas, imagens sagradas destruídas – o ódio contra religiões de matriz africana é uma guerra silenciosa que ainda acontece nas esquinas das grandes cidades.

O que podemos (e devemos) fazer?

Se 21 de março nos ensina algo, é que o silêncio nunca foi uma opção para quem luta por justiça. Não basta relembrar os mortos de Sharpeville ou exaltar a cultura negra uma vez por ano. É preciso:

Denunciar o racismo em todas as suas formas – do assédio no trabalho à violência policial.

Apoiar lideranças negras – na política, na economia, na cultura e em todas as esferas da sociedade.

Fortalecer a educação antirracista – porque ninguém nasce racista, mas aprende a ser.

Proteger as religiões de matriz africana – garantindo liberdade e respeito.

Cobrar políticas públicas que promovam equidade racial real.

O Brasil tem uma dívida histórica com a população negra. E 21 de março é um lembrete de que essa dívida ainda não foi paga. Enquanto o racismo seguir matando, excluindo e marginalizando, esse dia seguirá sendo um chamado à luta.

E você? Vai ficar só assistindo ou vai fazer parte da mudança?

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