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Ana Soáres

O Carnaval Brasileiro: Uma Celebração Entre o Profano e o Sagrado

Os Mistérios e Conexões do Carnaval com o Sagrado




Agô! Mo jubá! Laroyê Esú! Licença à ancestralidade que se faz presente, conectando-nos aos mistérios e saberes que permeiam essa época tão singular para iniciar uma série de quatro matérias voltadas para o Sagrado em tempo de carnaval.


Em um convite aos ritmos dos tambores e à dança que transcende o espaço, o Carnaval se revela como uma celebração que vai além da mera festa. É nos tambores que ecoam os segredos do corpo e do coletivo, nos levando a dançar entre os véus da vida e da morte, mantendo-nos coletivamente humanos.


Contrariando a visão comum de um Carnaval apenas profano, mergulhamos nas raízes históricas dessa festa multifacetada. Da Grécia antiga às saturnálias e Lupercálias romanas, a celebrações remonta há tempos imemoriais, onde o exagero e a liberdade se entrelaçavam com rituais sagrados e trocas temporárias de papéis sociais, festas anuais romanas para garantir fertilidade, proteger a cidade e espantar os maus espíritos que durava dias de celebração, em um movimento que remete ao carnaval de hoje. Saturno, Baco, Dionísio e Ísis emergem como figuras centrais nesse mosaico de tradições, onde o profano e o sagrado se entrelaçam em uma dança cósmica.


Do Promíscuo Cristão para o Sagrado Afro-Indígena Brasileiro: A Complexa Relação entre Profano e Sagrado


Por trás da folia e da animação do Carnaval, há uma intricada teia de influências religiosas, especialmente das tradições afro-indígenas. As práticas sincretizadas da jurema, umbanda e candomblé conferem ao período carnavalesco um sentido sagrado, onde rituais de proteção e devoção se mesclam com os festejos profanos. É um momento em que o sagrado e o profano se entrelaçam, onde a música dos tambores ecoa não apenas pela alegria, mas também pela conexão com o divino e com a ancestralidade.


No solo fértil do Brasil, o Carnaval encontrou terreno propício para se transformar em uma festa mestiça, onde os ritmos africanos se fundem com as tradições europeias. Dos entrudos coloniais aos desfiles das escolas de samba, a festa evoluiu, incorporando elementos da cultura afro-brasileira. É nos terreiros e nas rodas de samba que o sagrado encontra sua expressão mais vibrante, permeando cada batida do tambor e cada passo de dança.


Uma das coisas que geralmente não se conta é que por trás da figura festiva do Rei Momo, há uma rica herança mitológica que remonta à Grécia Antiga. Representando a extravagância e a ousadia, o Rei Momo personifica o espírito irreverente do Carnaval baseado na Deusa Momo (uma mulher irônica, sarcástica e delirante, com características masculinas, expulsa do Olimpo por infidelidade), enquanto nos lembra das profundezas da mitologia que permeiam essa festividade.


O Carnaval como Espaço de Resistência e Expressão Cultural


Apesar das adversidades e da marginalização, o Carnaval brasileiro emerge como um espaço de resistência e expressão cultural. Das proibições policiais aos julgamentos moralizantes, a festa soube se reinventar, mantendo viva a chama da tradição afro-brasileira. É nas ruas enfeitadas e nos desfiles coloridos que a diversidade se faz presente, celebrando a miscigenação como a verdadeira essência do povo brasileiro.


Hoje, mais do que nunca, o Carnaval se revela como um espaço de interseção entre o sagrado e o profano. Das rodas de samba aos rituais nos terreiros, a festa é permeada por uma aura de espiritualidade, onde Exu e os orixás caminham lado a lado com os foliões. É na dança, na música e na alegria compartilhada que o Carnaval brasileiro se renova a cada ano, mantendo viva a chama da tradição e da cultura afro-brasileira.



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