Uma homenagem à resistência, cultura e ancestralidade do povo preto

Acenda sua vela, bata o atabaque e reverencie seus Orixás, porque hoje é dia de celebração! 21 de março é uma data histórica para o Brasil: além de marcar o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, é agora também o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé.
Esse reconhecimento veio com a Lei nº 14.519, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2023, e representa um passo importante para valorizar uma das expressões mais ricas e potentes da cultura afro-brasileira. Mas, muito além de uma homenagem, essa data tem um significado profundo: é um grito contra a intolerância religiosa, um marco da resistência preta e uma reafirmação da identidade do povo de axé.
E convenhamos, já estava mais do que na hora de o país dar o devido valor a uma das maiores expressões culturais e espirituais de matriz africana. Afinal, o Candomblé não é só uma religião; é um elo vivo com nossas raízes africanas, um símbolo de pertencimento e um instrumento de luta contra a intolerância religiosa.
Axé, ancestralidade e resistência: o que representa o Candomblé?
O Candomblé chegou ao Brasil pelas mãos de africanos escravizados, principalmente do povo iorubá, jeje e bantu, que trouxeram consigo não apenas sua espiritualidade, mas também suas línguas, costumes e saberes. Aqui, em terras de colonização portuguesa e doutrinação cristã, essas práticas foram perseguidas, criminalizadas e demonizadas por séculos.
Mas, como diz o ditado: “o que é de axé, ninguém desfaz”. O Candomblé resistiu! Sobreviveu às senzalas, ao chicote, às perseguições da polícia e ao preconceito da sociedade. E, mais do que isso, se fortaleceu, tornando-se um dos maiores pilares da cultura afro-brasileira.
Com seus rituais, danças e cantos que atravessam gerações, o Candomblé não é apenas uma religião; é um verdadeiro patrimônio vivo. Os Orixás—divindades que representam forças da natureza e aspectos da vida—são homenageados em celebrações repletas de cores, batuques e energia. Quem já viu uma roda de candomblé sabe o impacto que a vibração dos atabaques e o gingado dos corpos em transe podem causar. É arrebatador!
A importância do Dia Nacional das Tradições do Candomblé

O Brasil, um país com uma das maiores populações negras fora da África, demorou a reconhecer oficialmente a grandeza dessa religião. Foi só em 2023 que o Dia Nacional das Tradições do Candomblé foi instituído, um marco para a valorização da fé afro-brasileira e para o combate à intolerância religiosa.
E, convenhamos, essa luta ainda está longe de acabar. Segundo o relatório do Disque 100, do Ministério dos Direitos Humanos, mais de 500 denúncias de intolerância religiosa foram registradas no Brasil em 2023, sendo a maioria contra religiões de matriz africana. Isso sem contar os ataques não denunciados, os terreiros incendiados e os adeptos perseguidos em suas próprias comunidades.
Mas hoje não é dia de lamentar—é dia de exaltar! Porque, mesmo diante de tantas adversidades, o Candomblé segue forte, sendo passado de geração em geração, renovando seu axé e reafirmando seu lugar na sociedade.
Muito além da fé, um patrimônio vivo
O Candomblé não é apenas uma religião. É um laço de pertencimento, uma conexão com os ancestrais, uma celebração da natureza e da coletividade. Com seus rituais de dança, cantos e oferendas, essa tradição africana atravessou o Atlântico, sobreviveu à brutalidade da escravidão e resistiu ao apagamento imposto pela colonização.
No Brasil, o Candomblé se firmou em nações como Ketu, Angola, Jeje e outras, cada uma com seus Orixás, Voduns e Inkices. Hoje, são milhões de adeptos espalhados pelo país, mantendo viva essa cultura através dos terreiros, dos ensinamentos dos mais velhos e da transmissão oral, que faz do Candomblé um verdadeiro patrimônio imaterial da humanidade.
Mas sejamos honestos: mesmo sendo uma das principais heranças africanas no Brasil, o Candomblé segue sendo alvo de preconceito, racismo religioso e ataques diretos. Em um país onde mais da metade da população é negra, as religiões de matriz africana ainda são demonizadas por setores conservadores e neopentecostais, e seus adeptos enfrentam perseguições constantes.
Candomblé é cultura, Candomblé é identidade
O impacto do Candomblé vai muito além dos terreiros. Ele está na música, no teatro, na dança, na culinária, no vocabulário que usamos no dia a dia. Expressões como “muvuca”, “xingar”, “bambambã” têm origem em línguas africanas que chegaram ao Brasil junto com a diáspora forçada. Sem falar nas delícias como acarajé, vatapá e caruru, que saíram dos tabuleiros das baianas e conquistaram o mundo.
A cultura afro-brasileira pulsa em cada canto deste país, e o Candomblé é uma de suas maiores expressões. Por isso, o 21 de março é mais do que uma data comemorativa; é um ato político, um grito de resistência, um convite para que todos conheçam, respeitem e celebrem essa tradição.
Que tal celebrar esse dia?

Se você nunca entrou em um terreiro, nunca ouviu um toque de atabaque ao vivo ou nunca conheceu uma Yalorixá (mãe de santo) ou Babalorixá (pai de santo), aproveite essa data para ampliar seus horizontes. Visite um espaço de candomblé, aprenda sobre os Orixás, valorize as manifestações afro-brasileiras e, acima de tudo, respeite!
O Candomblé é Brasil. O Candomblé é resistência. E hoje é dia de celebrar essa força ancestral que nos ensina, há séculos, que nenhuma tempestade pode apagar a luz de quem carrega o axé!
A importância da lei
A oficialização do Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé é mais do que uma data no calendário. É um avanço na luta por respeito, visibilidade e preservação das tradições afro-brasileiras.
Com essa lei, o Brasil reconhece formalmente a contribuição do Candomblé para a identidade nacional e reforça a necessidade de políticas públicas voltadas para a proteção dos terreiros e de seus praticantes. Mas, como sabemos, a luta não se faz apenas no papel—é preciso garantir que essa valorização se traduza em ações concretas.
O que podemos fazer para fortalecer essa luta?
Se você quer fazer parte dessa transformação, aqui vão algumas formas de apoiar e fortalecer o Candomblé e as tradições afro-brasileiras:
🖤 Respeite! Parece óbvio, mas ainda precisamos repetir: religião não se discute, se respeita!
📢 Denuncie a intolerância religiosa! Se presenciar qualquer ato de discriminação contra religiões de matriz africana, procure as autoridades ou ligue para o Disque 100.
📚 Aprenda! Estude a história do Candomblé, conheça seus fundamentos e desmistifique preconceitos. O desconhecimento é um dos principais combustíveis do racismo religioso.
✊🏿 Apoie os terreiros! Muitos centros religiosos enfrentam dificuldades financeiras e estruturais. Participe de eventos, contribua e ajude a fortalecer essas comunidades.
🎭 Valorize a cultura afro-brasileira! O Candomblé está presente na música, na dança, na gastronomia e até nas palavras que usamos no dia a dia. Acarajé, samba, capoeira e tantas outras manifestações culturais têm raiz africana—e isso merece ser exaltado!
21 de março é um dia para celebrar, mas também para refletir
Que este dia sirva para honrar os Orixás, exaltar a resistência preta e reforçar a luta contra a intolerância religiosa. Que cada terreiro siga pulsando forte, que cada tambor ecoe alto e que cada filho e filha de santo possa praticar sua fé sem medo.
Porque o Brasil é terra de axé. E isso, ninguém pode apagar!
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