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Marcelo Teixeira

No escurinho do cinema

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Nos últimos dias, o Brasil assistiu, entusiasmado, à consagração do filme “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, no Festival de Cinema de Veneza. Embora não tenha ganhado o prêmio de melhor filme, faturou o de melhor roteiro adaptado e deixou claro que fará uma bela carreira internacional.

 

Protagonizado por Fernanda Torres e Selton Mello e baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, “Ainda estou aqui” conta a história de Eunice Paiva, viúva do político Rubens Paiva, que foi torturado e assassinado à época da ditadura militar. Eunice trava uma batalha para esclarecer o que houve com o marido e também se torna uma ativista e tanto pelos direitos humanos, já que decide se formar em direito para ter mais ferramentas para lutar. Uma estória da nossa tão mal contada História que, tomara, leve muitas pessoas ao cinema.

 

Enfatizo a palavra cinema porque sinto falta das filas longas que se formavam ao longo da entrada dos cinemas de rua. Era muito legal encontrar conhecidos na fila ou no saguão, formarmos grupos inesperados para assistirmos ao candidato ao Oscar ou sucesso da filmografia nacional. Depois, saímos para comer uma pizza ou similar e colocar o papo em dia. Filme consagrado era sinônimo de fila na porta dos cinemas e motivo de conversas e polêmicas que às vezes duravam semanas, dependendo, inclusive do conteúdo do filme. Erótico por demais? Cruel e sangrento? Engraçado a ponto de desopilarmos o fígado? Emocionante de fazer o peito doer de tanto chorarmos? As notícias logo se espalhavam e faziam a temporada cinematográfica durar um bom tempo e lotando as salas de exibição que, diga-se de passagem, costumavam ser muito bonitas e muito grandes.

 

O escurinho do cinema era um personagem à parte. Nele, namoros começavam, carícias mais ousadas eram feitas, o choro e o riso vinham de forma espontânea e todos mergulhavam juntos e anonimamente na aventura que se apresentava na tela. Uma fascinante experiência pessoal e coletiva ao mesmo tempo.

 

Ainda é assim? Decerto. A magia da sétima arte dentro do cinema nunca morrerá. Mas o advento das fitas de videocassete, dos DVDs e, atualmente, dos serviços de streaming tirou muito do charme que era sair para ir ao cinema e depois esticar num restaurante ou bar e recomendar o filme aos amigos.

 

Espero que “Ainda estou aqui” e outros tantos que virão recuperem um pouco dessa magia. Afinal, ainda estamos aqui, ávidos por vivermos as mais incríveis aventuras no escurinho do cinema.


Marcelo Teixeira

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