Sete brasileiras premiadas mostram que o futuro da ciência é feminino, mas os desafios ainda são tão gigantes quanto os buracos negros que pesquisam
O Brasil está cheio de histórias inspiradoras, mas algumas merecem holofotes que vão além da emoção: elas demandam ação. É o caso das sete cientistas brasileiras premiadas na 19ª edição do programa Para Mulheres na Ciência, uma parceria do Grupo L’Oréal com a UNESCO e a Academia Brasileira de Ciências. Um prêmio que celebra não só a ciência, mas a resistência. Porque, convenhamos, ser mulher e cientista no Brasil exige mais do que estudo: é luta diária contra preconceitos e estruturas que ainda insistem em silenciar as vozes femininas nos laboratórios e nas lideranças acadêmicas.
Enquanto as mulheres avançam na produção científica — somos responsáveis por 49% dos artigos no Brasil —, um relatório da Elsevier-Bori mostra que o crescimento na presença feminina em áreas como Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) está desacelerando. Isso num país onde 54% da população universitária é feminina. Que ironia, não? A academia até abre as portas, mas será que entrega as chaves para a liderança?
As premiadas deste ano provam que não basta abrir caminho; é preciso pavimentá-lo. São elas que estão desafiando paradigmas e redefinindo o impacto da ciência. Raquel Aparecida Moreira, bióloga da USP, por exemplo, expõe a contaminação silenciosa dos ecossistemas aquáticos por antidepressivos e ansiolíticos. O que essas substâncias fazem com a biodiversidade é tão assustador quanto a falta de políticas para barrar essa contaminação.
Na linha de frente da saúde pública, Manuela Sales Lima Nascimento, da UFRN, e Luisa Campos Caldeira Brant, da UFMG, desafiam problemas urgentes: infecções congênitas e a gestão pós-hospitalar com tecnologia acessível. Elas mostram que ciência também é empatia — e que soluções podem (e devem) falar a língua do SUS.
Enquanto isso, no coração da Amazônia, Marcele Fonseca Passos reinventa tratamentos bacterianos com a riqueza da floresta e respeito às comunidades locais. Já Larissa Ávila Matos, da Unicamp, trabalha com números que salvam vidas, desenvolvendo métodos para lidar com dados imperfeitos — uma realidade dura em contextos de equipamentos limitados. Isso é traduzir ciência em esperança.
E não dá para ignorar o cosmos quando se fala de grandes avanços. Carolina Loureiro Benone, da UFPA, olha para os misteriosos buracos negros, enquanto desafiamos a nossa própria compreensão de existência. Uma ciência que é quase poesia, mas com um pé bem firme no chão.
Essas mulheres não são apenas cientistas;
são símbolos de transformação. Representam um Brasil que sonha grande, mas que ainda precisa lutar muito para honrar essas vozes. Não basta aplaudir; é preciso agir. Que tal começar pressionando por mais políticas de incentivo e visibilidade para mulheres na ciência? A transformação que elas lideram é a mesma que pode mudar a história do país.
Porque se o futuro é feminino, a ciência agradece.
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