Por Manu Cárvalho
Na Coreia do Sul, um movimento poderoso e silencioso tem desafiado as normas sociais e as expectativas patriarcais profundamente enraizadas no país. Conhecido como Movimento 4B, ele representa uma revolução liderada por mulheres que estão rejeitando as pressões tradicionais de casamento, maternidade e relacionamentos, abrindo espaço para uma vida mais autônoma e autodeterminada.
O que é o movimento 4B?
O termo "4B" deriva de quatro palavras coreanas que começam com o prefixo "bi", significando "não":
Bihon (비혼): não se casar.
Biyeonae (비연애): não namorar.
Bisekseu (비섹스): não fazer sexo.
Bichulsan (비출산): não ter filhos.
Mais do que uma rejeição, o 4B é uma escolha consciente de muitas mulheres jovens que optam por não seguir os papéis tradicionalmente esperados delas na sociedade coreana. O movimento é uma resposta direta às pressões sociais e ao histórico de desigualdades de gênero no país.
O contexto que deu origem ao movimento
A Coreia do Sul é conhecida por seu rápido desenvolvimento econômico e tecnológico, mas suas raízes culturais confucionistas ainda colocam grande ênfase na hierarquia familiar e nas obrigações tradicionais. Para muitas mulheres, as expectativas de casar, ter filhos e dedicar-se integralmente à família representam uma barreira à independência pessoal e profissional.
O Movimento 4B ganhou força nos anos 2000, mas explodiu em popularidade após 2018, quando milhares de mulheres protestaram contra os casos de "molka" — vídeos gravados por câmeras escondidas, sem o consentimento das vítimas. Essas manifestações ajudaram a dar visibilidade às questões de gênero na Coreia, fomentando a adesão ao 4B.
Repercussões na sociedade
O impacto do Movimento 4B é profundo e polarizador. De um lado, ele representa uma rejeição clara às estruturas patriarcais que perpetuam desigualdades e abusos. De outro, desafia as bases culturais que consideram o casamento e a família pilares essenciais da sociedade.
Segundo estudos, o movimento tem influenciado uma mudança demográfica significativa. A taxa de natalidade da Coreia do Sul é atualmente uma das mais baixas do mundo, e os casamentos entre jovens estão em declínio. Para muitos, o 4B é uma tentativa de equilibrar o jogo, forçando a sociedade a reconsiderar as desigualdades que pesam sobre as mulheres.
A influência internacional
Embora enraizado na realidade sul-coreana, o Movimento 4B começa a chamar a atenção em outras partes do mundo. Mulheres de diferentes culturas, inspiradas pela luta por autonomia e liberdade de escolha, estão adotando práticas similares. Nos Estados Unidos, por exemplo, ideias alinhadas ao 4B têm ganhado força em protesto contra políticas conservadoras que restringem os direitos das mulheres.
Críticas e desafios
Apesar de sua relevância, o Movimento 4B enfrenta críticas tanto de homens quanto de mulheres. Alguns argumentam que a rejeição total dos relacionamentos heterossexuais pode polarizar ainda mais a dinâmica de gênero e não atacar as raízes sistêmicas da desigualdade. Outros veem o movimento como uma resposta radical, mas necessária, diante das pressões insustentáveis sobre as mulheres.
Um caminho para a autonomia
O Movimento 4B é mais do que um fenômeno social; é uma declaração de independência. Ele simboliza a força das mulheres em uma sociedade que ainda luta para equilibrar tradição e modernidade. Ao desafiar normas antigas, as integrantes do movimento criam novas possibilidades para a próxima geração.
Com o 4B, as mulheres sul-coreanas estão mostrando ao mundo que é possível traçar um novo caminho, onde autonomia e liberdade de escolha são prioridades. É uma revolução que vai além das fronteiras culturais, inspirando mulheres em todo o mundo a redefinir seu papel na sociedade.
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