Fui, a convite da Revista, ao ExpoFavela Innovation, que aconteceu na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. E gostaria de trazer aqui minhas primeiras impressões e reflexões. Não conhecia a Cidade das Artes e, de cara, fiquei impressionada com a magnitude do evento. E me perguntando como não conheci antes. Não poderia ser só por ignorância de minha parte, um evento desta importância precisa da mesma visibilidade nas grandes mídias que outros eventos culturais de grande porte. Se precisasse definir em duas palavras: diversidade e pluralidade.
Um espaço que conecta empreendedores, projetos sociais e culturais a investidores. Uma verdadeira celebração da cultura periférica. Conversei com algumas empreendedoras e ouvi brevemente sobre suas histórias e suas artes. Passei por todos os muitos stands com projetos sociais de impacto de várias favelas, de incentivo educativo, artístico e cultural. No palco, artistas do trap e do rap acompanhados de bailarinos. O Funk era a música ambiente. Durante todo o dia, palestras no Teatro e lançamento de livros no espaço Favela Literária. Além do espaço Tech, que não tive o tempo de conhecer no primeiro dia de evento. E, fechando o dia com chave de ouro, um Sarau de músicos que se apresentam também nos transportes públicos e poetas recitando publicamente suas poesias pela primeira vez.
Não fiquei tempo suficiente para conhecer todos os espaços, mas dediquei um tempo pra conversar com algumas empreendedoras da Moda e o que pude observar em todas essas marcas foi a paixão por suas produções artísticas que, por necessidade ou escolha, transformada em Negócio viável. Aqui, as vozes periféricas se manifestam através dos tecidos africanos, estampas com figuras simbólicas, upcycling de Jeans, colares e brincos de cápsula de café, resíduos têxteis e lacre de latinhas, malhas em tie-dye, cores e texturas. A Sustentabilidade não surge como um valor de mercado, mas como um estilo de vida criativo de tecnologias e recursos.
Até aqui, foi o que refleti depois do primeiro dia de evento. No último dia, conversei com quase todos os empreendimentos de Moda presentes, para descobrir um pouco mais sobre suas histórias e combinarmos as colaborações para as próximas matérias. E, apesar da hipocrisia estrutural do evento e algumas questões éticas, saí também com a certeza de que este tipo de evento é essencial como política pública, social e cultural. Através da iniciativa desta Revista, conheci muitas pessoas que transformam suas histórias de vida inspiradoras em Negócio e meio de subsistência. Precisamos chegar nesse debate sem romantização de discursos demagógicos, é só com muita luta, resistência e trabalho coletivo que vimos tantos empreendimentos periféricos bem-sucedidos. Algumas propostas de colaboração em projetos diversos chegaram até nós, ali mesmo no stand, inclusive conterrâneos de Realengo em busca de movimentações culturais na região. Então, apesar dos pesares, fico feliz de me sentir parte desse movimento periférico à contramão de um destino determinista de miséria e fracasso.
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