No Brasil, país onde 69% das mulheres são mães (Datafolha), o mercado de trabalho parece fingir que essa realidade não existe. Um estudo da Catho escancara uma dura verdade: 69% das empresas não têm nenhum programa para incluir, capacitar ou reconhecer mães no ambiente corporativo. Não há licença-maternidade estendida, suporte psicológico ou até mesmo um gesto básico de acolhimento.
As estatísticas assustam. 42% das empresas disseram ter menos de 10% de mães no quadro de funcionários, enquanto 14% simplesmente não contratam mães ou gestantes. O que fica evidente é o abismo entre o discurso de inclusão e a prática corporativa. Em um país que se orgulha da sua diversidade, a maternidade ainda é tratada como uma ameaça à produtividade.
Patricia Suzuki, diretora de Gente & Gestão da Catho, pontua que essa negligência é mais que uma falha estratégica; é um retrocesso social. Benefícios básicos como horários flexíveis, trabalho remoto ou salário-família aparecem em índices tímidos: 21%, 7% e 17%, respectivamente. Enquanto isso, empresas ignoram o fato de que a maternidade desenvolve habilidades cruciais como resiliência, empatia e proatividade — valores que todo RH jura buscar.
A resistência parte, muitas vezes, da liderança. 17% das empresas confessaram hesitar em contratar ou desenvolver mães. A lógica é perversa: enquanto se reclama da falta de engajamento e comprometimento nos times, ignora-se um perfil de profissional que entrega, todos os dias, a prova máxima de dedicação e gestão — equilibrar filhos, casa e carreira.
No Brasil, onde as mulheres representam quase 50% da força de trabalho, como aceitar que o mercado insista em marginalizar uma parcela tão significativa? Políticas inclusivas são não apenas um dever moral, mas também um diferencial competitivo. Empresas que investem em mães retêm talentos, fortalecem a cultura organizacional e provam estar alinhadas ao futuro do trabalho.
A pesquisa da Catho é um tapa na cara. Não para as mães, que já sabem bem o que enfrentam, mas para as corporações que ainda escolhem a cegueira estratégica. O cenário não vai mudar com "mimos corporativos" ou promessas vazias, mas com coragem de encarar a maternidade como o ativo valioso que ela é.
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