Lollapalooza 2025: quando o brilho negro resiste além do palco
- Yuri Barretto
- 3 de abr.
- 3 min de leitura

Entre os dias 28 e 30 de março, o Autódromo de Interlagos, em São Paulo, se transformou mais uma vez no grande palco da diversidade musical com o Lollapalooza 2025. Mas por trás dos holofotes, o que também ganhou destaque foi a urgência de refletir sobre representatividade.
Em meio a guitarras distorcidas, beats eletrônicos e refrões que viraram coro coletivo, artistas negros entregaram algumas das performances mais memoráveis do festival. E se é pra falar de presença, talento e resistência, eles merecem todo o holofote.
Drik Barbosa: estreia com potência e ancestralidade

No sábado (29), o público viveu um momento histórico com o primeiro show solo de Drik Barbosa no Lollapalooza. Ao lado de Karol Conká, Stefanie e Budah, ela subiu ao palco com uma força que atravessou batidas e versos, celebrando a ancestralidade e a música negra contemporânea.
Com um repertório que mistura rap, R&B e referências da música africana, Drik mostrou porque é uma das maiores vozes da nova geração. No setlist, o destaque ficou para o lançamento do single "Favorita", que veio acompanhado de uma homenagem emocionante à eterna Elza Soares. Um encontro entre passado, presente e futuro da música brasileira.
Black is beautiful: o line-up que brilhou (apesar dos pesares)
Fotos: Reprodução/Instagram/@MichaelKiwanuka/@KarolConka/@Oituyo
Michael Kiwanuka, cantor britânico que funde soul, folk e blues, também marcou presença. Em sua performance, levou o público em uma viagem sonora que incluiu sucessos como "Cold Little Heart" e "You Ain’t the Problem". A energia foi densa, envolvente e necessária.
Outros nomes negros também marcaram presença: Kamau, referência no rap nacional; Juyè, com sua vibe pop e R&B; Zudizilla, que vem construindo com solidez seu espaço na cena independente; e Derrick Green, vocalista do Sepultura, mostrando que representatividade também grita no metal.
Entre notas e denúncias: quando o racismo insiste em ecoar
Apesar da beleza artística, o festival foi atravessado por uma denúncia séria. O músico Raffael Emilio, de 32 anos, relatou ter sido vítima de racismo por parte da equipe de segurança do Lollapalooza.
Segundo ele, ao sair do evento no sábado (29), foi abordado por oito seguranças que o isolaram e revistaram alegando que ele se parecia com um suposto ladrão de celulares.
"Fiquei atônito. Você é confundido e já entende que ali é uma situação de racismo", contou.
Era a primeira vez que Raffael assistia ao festival. E foi também a primeira vez que sentiu, ali, o peso de um olhar que criminaliza. Um momento de constrangimento profundo que não pode passar batido — e que levanta a pergunta: quem se sente, de fato, pertencente nesses espaços?
Mais que line-up: é hora de mudar o sistema
Apesar da potência de cada show, o line-up oficial contava com apenas 9 artistas negros entre dezenas de atrações. Um dado que não pode ser tratado como detalhe. A música negra não é exceção: é raiz, é criação, é base de quase todos os estilos que ecoaram nos palcos do Lolla.
É urgente que os organizadores do festival ampliem o olhar. Que a curadoria não seja apenas uma cota simbólica, mas um compromisso com a diversidade real — aquela que não termina quando os fogos do palco principal se apagam.
O Lollapalooza 2025 nos mostrou que artistas negros brilham. Agora, é o festival que precisa aprender a fazer o mesmo.
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