Na batida contagiante do samba, o Rio de Janeiro celebrou mais uma grande conquista cultural. Na noite de 1º de outubro, a Rua do Ouvidor, no coração do Centro, se transformou no palco de um evento histórico: a inauguração da Academia Brasileira de Artes Carnavalescas (ABAC). Ali, 120 ícones do carnaval brasileiro foram imortalizados, consolidando o reconhecimento de um legado que transcende gerações. A festa, repleta de cores, batuques e emoção, marcou não apenas a celebração da arte carnavalesca, mas também a preservação de uma tradição que molda a alma do país.
Sob o comando do carismático Milton Cunha, presidente da ABAC e uma das figuras mais respeitadas do carnaval, a nova academia surge como um espaço de memória e resistência cultural. “A gente convidou 120 notórios saberes do carnaval, e vamos chegar a duzentos. Aqui estão representados todos os blocos, coretos, bailes e escolas de samba do Brasil. É o saber carnavalesco de todo o país reunido”, declarou Milton, em meio à euforia da noite.
Assim como a Academia Brasileira de Letras eterniza os grandes nomes da literatura, a ABAC faz o mesmo pelo samba, reconhecendo o valor de personalidades que dedicaram suas vidas à arte carnavalesca. Entre os homenageados, nomes como Teresa Cristina, Mestre Ciça, da bateria da Viradouro, e o icônico coreógrafo Carlinhos de Jesus receberam merecido destaque. Esses imortais não apenas personificam o carnaval, mas também representam a força das comunidades que, há mais de um século, sustentam essa tradição com criatividade e paixão.
A presença da carnavalesca Maria Augusta reforçou a importância da diversidade de saberes representada na academia. “As escolas de samba surgem das comunidades negras, e é vital que uma academia reconheça isso. Respeitar o saber popular é fundamental, e ver compositores e carnavalescos que não têm formação oficial sendo reverenciados aqui é emocionante”, destacou ela, emocionada.
A celebração também foi marcada por um momento de reverência à saudosa Rosa Magalhães, que partiu em julho deste ano, aos 77 anos. Seu legado permanece vivo, agora eternizado na ABAC, que a homenageia como uma das grandes imortais do samba. Rosa deixou sua marca como uma das maiores carnavalescas do Brasil, com desfiles inesquecíveis que ajudaram a contar a história do país através da estética, da narrativa e da emoção.
A ABAC, no entanto, não será apenas um centro de memórias. Com uma proposta visionária, o espaço também oferecerá cursos, oficinas e palestras, tornando-se uma referência para a formação e o aperfeiçoamento de futuros profissionais da arte carnavalesca. Essa iniciativa não apenas garante que o passado seja celebrado, mas que o futuro do carnaval seja moldado com ainda mais criatividade, técnica e inovação.
O carnaval, mais do que uma festa, é a expressão mais autêntica da cultura popular brasileira. Ele carrega consigo as marcas da história do Brasil, desde suas raízes africanas até os desfiles grandiosos que fascinam o mundo inteiro. A fundação da Academia Brasileira de Artes Carnavalescas é, portanto, um marco na valorização dessa arte e uma garantia de que o samba, o ritmo que embala nossos corações, continuará sendo imortal.
Carlinhos de Jesus resumiu perfeitamente o espírito da noite: “A academia fortalece a memória, traz o ontem para hoje e garante o amanhã. Estamos insistindo e dizendo: aqui vamos permanecer. Aqui vamos perpetuar essa grande tradição brasileira, carioquíssima, que é a alegria do carnaval.” E assim, o samba, o som do nosso Brasil, segue pulsando, agora mais imortal do que nunca.
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