
O Carnaval do Rio de Janeiro de 2025 ficou marcado não apenas pelos desfiles grandiosos, mas também por polêmicas envolvendo a apuração das notas. A Beija-Flor de Nilópolis foi declarada campeã do Grupo Especial, conquistando seu décimo quinto título com um desfile em homenagem ao carnavalesco Laíla e a despedida de Neguinho da Beija-Flor após 50 anos na escola. No entanto, a Acadêmicos do Grande Rio denunciou inconsistências na contagem das notas, levantando questionamentos sobre a lisura do resultado.
Durante a apuração, a Beija-Flor recebeu 29,9 pontos no quesito bateria, com um 9,9 sendo descartado, totalizando 269,9 pontos. Já a Grande Rio verificou que, durante a leitura oficial, recebeu duas notas 9,9 e duas notas 10, mas, posteriormente, no site da LIESA, constavam uma nota 9,9 e três notas 10. Esse pequeno detalhe alteraria o somatório final para 270,0 pontos, o que a colocaria em empate técnico com a Beija-Flor, tornando ambas campeãs. Diante dessa discrepância, a Grande Rio emitiu uma nota oficial e prometeu questionar o caso na plenária da LIESA.
Além disso, outras escolas manifestaram insatisfação com o julgamento. A Mocidade Independente de Padre Miguel criticou a diferença de critérios dos jurados e a falta de valorização da inovação no Carnaval. Em seu comunicado oficial, a escola afirmou que “é desmotivante ter um julgamento com um olhar que não aceita o que é novo e o que é diferente” e reforçou que seu DNA inovador não será abandonado. Já a Unidos de Padre Miguel também repudiou as notas recebidas, considerando-as injustas e incompatíveis com o desfile apresentado.
A polêmica ganha ainda mais força pelo fato de que, neste mesmo ano, Gabriel David assumiu a presidência da LIESA. Gabriel é filho de Anísio Abraão David, presidente de honra da Beija-Flor e uma das figuras mais influentes do Carnaval carioca. A coincidência levanta suspeitas legítimas sobre a imparcialidade do julgamento. A nomeação de Gabriel já havia sido vista com ressalvas, justamente por seu vínculo direto com uma das escolas competidoras. Agora, diante de um erro que beneficiou a Beija-Flor e tirou a chance de um título dividido, as desconfianças se intensificam.
A imagem que mostra a inconsistência nas notas foi divulgada primeiro no site da LIESA e, posteriormente, a Grande Rio a repostou em seu Instagram, acompanhada de uma nota oficial. Isso reforça que não se trata de uma simples insatisfação com o resultado, mas de um erro concreto na apuração. A LIESA, como organizadora do Carnaval, tem a obrigação de garantir transparência e credibilidade ao processo. O caso expõe um problema antigo no julgamento das escolas: a falta de critérios claros e a influência política nos bastidores da festa.
A plenária da LIESA será um teste para a idoneidade da instituição. Se a denúncia for ignorada, o Carnaval carioca arrisca manchar sua reputação e afastar cada vez mais a confiança do público e das próprias agremiações. Se a Beija-Flor conquistou o título de forma legítima, não haverá medo de revisar os números. Caso contrário, a maior festa popular do Brasil estará sob a sombra de uma farsa.
Comments