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Ana Soáres

Fé Cega, Afronta à Tradição e Busca por Controle Total da Sociedade

A Teologia do Domínio e a Nova Catequese na Bahia




Salvador, Bahia – fevereiro de 2024 – A capital baiana, conhecida por sua rica cultura afro-brasileira e sincretismo religioso, vive um momento de tensão entre a tradição e a ascensão de uma "nova catequese" pautada na Teologia do Domínio. Essa corrente teológica, com raízes no conservadorismo cristão, propõe uma "restauração" da sociedade através da submissão a um modelo patriarcal e hierárquico, com as igrejas Pentecostal e Neopentencostal no topo da estrutura social.


Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade é uma figura emblemática da cultura brasileira. Ex-integrante dos Novos Baianos, banda que marcou a história da música baiana e brasileira, Baby é conhecida por sua voz potente, estilo irreverente e trajetória artística marcada por reinvenções.


Nos anos 70, Baby era a musa do carnaval baiano, a primeira mulher a cantar em um trio elétrico, desafiando convenções e quebrando barreiras de gênero. A artista que "fumou maconha, que tomou ácido, que fez tudo", como relata Moraes Moreira, personificava a liberdade e a rebeldia da época.


Décadas depois, Baby surge transformada em Apóstola Baby das Nações, pregando a Teologia do Domínio, movimento religioso que defende a submissão das mulheres, a hierarquia social e a dominação masculina. Essa mudança radical gerou perplexidade e questionamentos, principalmente no contexto do carnaval baiano, onde a artista outrora representava a transgressão e a ruptura.


No contexto do carnaval baiano, a presença de Baby das Nações com suas mensagens religiosas reacende a discussão sobre a apropriação cultural e o papel da fé no espaço público. As tensões entre a tradição afro-brasileira e o conservadorismo religioso colocam em xeque a identidade cultural da Bahia e do Brasil.


A história de Baby do Brasil, com suas múltiplas faces e reinvenções, é um retrato fiel das contradições e desafios da sociedade brasileira contemporânea. É um convite à reflexão sobre o papel da fé, da cultura e da tradição em um país cada vez mais plural e diverso.


A cantora Baby das Nações, tornou-se um símbolo dessa "nova catequese". Ela abandonou sua carreira musical para se dedicar à evangelização, pregando a Teologia do Domínio e defendendo a submissão das mulheres aos homens. Em 2024, ela lançou o projeto "Coalizão Apostólica Global", que visa expandir a cultura gospel para os espaços não alcançados pela igreja tradicional.



A Teologia do Domínio e seus impactos


  • Controle social: A Teologia do Domínio busca impor uma visão única de mundo, subjugando minorias e criminalizando a diversidade. Segundo pesquisa do DataFolha de 2023, 42% dos evangélicos brasileiros acreditam que a homossexualidade deve ser crime, enquanto 38% defendem a pena de morte para crimes como aborto e tráfico de drogas.

  • Exploração da fé: A "nova catequese" utiliza a fé como ferramenta de controle social e exploração econômica. Um estudo do Observatório Social da CNBB revela que 70% dos líderes evangélicos brasileiros cobram dízimos e ofertas de seus fiéis, enquanto apenas 30% investem esses recursos em ações sociais.

  • Ataque à cultura afro-brasileira: A Teologia do Domínio considera as religiões afro-brasileiras como demoníacas, buscando deslegitimar e marginalizar suas práticas. Em 2023, o número de ataques a terreiros de Candomblé e Umbanda no Brasil cresceu 25% em relação ao ano anterior, segundo dados da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Brasileira.


Resistência e luta por uma sociedade plural


Diante da crescente influência da Teologia do Domínio, grupos afro-brasileiros e movimentos sociais se mobilizam em defesa da cultura tradicional e da liberdade religiosa. Em Salvador, diversas iniciativas promovem o diálogo inter-religioso e a valorização da diversidade cultural, como o projeto "Axé, Fé e Resistência", que reúne lideranças religiosas de diferentes matrizes para discutir temas como justiça social e igualdade de gênero.


O embate entre a Teologia do Domínio e a cultura afro-brasileira em Salvador é um reflexo das contradições da sociedade brasileira contemporânea. A disputa pela hegemonia religiosa revela a luta por valores e modelos de organização social distintos. A construção de um futuro plural e democrático exige o diálogo intercultural e a defesa da liberdade de expressão e crença.


Essa coalizão, que reúne líderes religiosos de diferentes denominações, defende a "restauração" do governo apostólico, com a igreja assumindo um papel central na sociedade. Segundo essa visão, os "montes" da sociedade – educação, ciência, economia, governo, cultura e entretenimento – devem ser governados por princípios conservadores cristãos.


A ascensão da Teologia do Domínio e da Coalizão Apostólica Global representa uma ameaça à diversidade cultural e à liberdade religiosa no Brasil. É fundamental que a sociedade brasileira esteja atenta a esses movimentos e se mobilize para defender a pluralidade de valores e a democracia.


Especialistas alertam para os perigos da Teologia do Domínio, que pode levar à discriminação, à violência e à opressão. É urgente que as comunidades afro-brasileiras e outras minorias se unam para resistir à imposição de "novos valores" que visam subjugar e controlar a população.


A disputa de narrativas em Salvador é um reflexo de um embate maior que se desenrola no Brasil e no mundo. A luta pela defesa da cultura afro-brasileira, da liberdade religiosa e da democracia é fundamental para garantir um futuro justo e inclusivo para todos.


Dados para reflexão:

  • 42% dos evangélicos brasileiros acreditam que a homossexualidade deve ser crime (DataFolha, 2023).

  • 70% dos líderes evangélicos brasileiros cobram dízimos e ofertas de seus fiéis (Observatório Social da CNBB, 2023).

  • O número de ataques a terreiros de Candomblé e Umbanda no Brasil cresceu 25% em 2023 (Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Brasileira, 2023).


É importante ressaltar que a Teologia do Domínio não representa o cristianismo na totalidade. Diversas lideranças religiosas e comunidades de fé se posicionam contra esse movimento, defendendo uma visão de mundo mais justa, inclusiva e tolerante.


O futuro da cultura afro-brasileira e da democracia brasileira dependerá da capacidade da sociedade de se mobilizar em defesa da diversidade, da liberdade de expressão e dos direitos das minorias. O debate sobre a Teologia do Domínio e a trajetória de Baby do Brasil são apenas alguns exemplos da complexa realidade que o país enfrenta.


Este é um tema em constante debate. A opinião pública sobre a Teologia do Domínio e seus impactos na sociedade brasileira continua em formação. É importante buscar diferentes fontes de informação e manter um diálogo aberto e respeitoso sobre o assunto.



Ana Soáres


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