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Da redação

Dra. Jennifer Emerick Ramos, explica as possíveis complicações ao ingerir alimentos infectados


Dra. Jennifer Emerick Ramos, gastroenterologista
Dra. Jennifer Emerick Ramos - Gastroenterologista

A notícia de uma garrafa de cerveja Heineken lacrada contendo larvas e insetos chocou consumidores e levantou uma séria preocupação sobre a segurança dos produtos que chegam às prateleiras e mesas dos brasileiros. O caso, ocorrido em Búzios, Rio de Janeiro, vem gerando repercussão nas redes sociais e trouxe à tona um debate essencial sobre os riscos à saúde pública que uma contaminação desse tipo pode causar.


Para entender melhor as implicações desse episódio e os possíveis impactos na saúde de quem consome produtos contaminados, conversamos com a Dra. Jennifer Emerick Ramos, renomada gastroenterologista com ampla experiência em doenças infecciosas e questões gastrointestinais. Nesta entrevista, a Dra. Jennifer nos ajudará a esclarecer os principais riscos envolvidos, os cuidados necessários, e as responsabilidades que fabricantes, distribuidores e estabelecimentos devem assumir para garantir a segurança dos consumidores. 1. Quais são os possíveis agentes patogênicos presentes em larvas e insetos encontrados em alimentos ou bebidas lacradas, como essa garrafa de cerveja? E que tipos de doenças esses patógenos podem causar em consumidores desavisados?

Quando larvas ou insetos são encontrados em alimentos ou bebidas lacradas, como em garrafas de cerveja, há o risco de contaminação por agentes patogênicos presentes nos organismos. Esses patógenos podem causar sérias doenças se consumidos inadvertidamente. Alguns dos principais agentes patogênicos incluem:

Bactérias: Salmonella: Pode estar presente em insetos e causar doenças gastrointestinais graves, como salmonelose, que resulta em sintomas como diarreia, febre, cólicas abdominais e vômitos.

Escherichia coli (E. coli): Algumas cepas, especialmente a E. coli O157 podem ser transmitidas por contaminação fecal de insetos. Causam infecções que resultam em cólicas abdominais, diarreia (muitas vezes com sangue), e, em casos graves, insuficiência renal.

Bacillus cereus: Essa bactéria pode ser transmitida por insetos e causar intoxicação alimentar, resultando em sintomas como vômitos e diarreia.

Fungos: Aspergillus: Alguns insetos podem transportar esporos de fungos como Aspergillus, que podem produzir micotoxinas, como a aflatoxina. A ingestão dessas toxinas pode levar a problemas hepáticos e, em casos mais graves, até câncer de fígado.

Parasitas: Taenia spp.: Larvas ou insetos podem servir de hospedeiros intermediários para alguns parasitas, como as tênias, que podem causar graves infecções intestinais quando ingeridos. Geram sintomas como dor abdominal, perda de apetite ou, perda de peso inexplicada, náuseas e vômitos, diarréia ou constipação e fadiga, podendo gerar complicações mais graves como a Cisticercose: Se os ovos da Taenia solium (tênia do porco) entrarem no sistema sanguíneo, podem se alojar em órgãos como músculos, olhos e cérebro, levando a sintomas mais graves.


2. Considerando que a contaminação de uma garrafa lacrada pode ocorrer em diferentes etapas — da fabricação ao armazenamento —, de quem é a responsabilidade de garantir que o produto seja seguro para consumo até o momento da venda?

A responsabilidade de garantir que uma garrafa lacrada, como uma de cerveja, seja segura para consumo até o momento da venda envolve vários agentes ao longo da cadeia de produção, distribuição e armazenamento. Cada etapa tem um papel crucial na manutenção da segurança alimentar:


Fabricante: Produção e Envasamento: A responsabilidade inicial é do fabricante, que deve garantir que o processo de fabricação, incluindo a escolha dos ingredientes, o envase e a selagem das garrafas, siga normas rigorosas de higiene e controle de qualidade. Isso envolve:

Distribuidores e Transportadoras: A partir do momento em que o produto sai da fábrica, a responsabilidade recai sobre os distribuidores e transportadoras, que devem garantir que as garrafas sejam armazenadas e transportadas em condições adequadas para evitar danos às embalagens ou possibilidade de contaminação. Isso envolve: garantir que os produtos sejam mantidos em temperaturas apropriadas e em ambientes livres de pragas durante o transporte e verificar a integridade das garrafas e lacres para garantir que não tenham sido danificados durante a movimentação.

Pontos de Venda (Supermercados, Bares, restaurantes, etc.): Armazenamento no Local de Venda: Quando as garrafas chegam ao ponto de venda, a responsabilidade de garantir a segurança do produto passa para os varejistas. Isso inclui armazenar os produtos de maneira adequada, em condições sanitárias apropriadas, protegidos de pragas e mantidos nas temperaturas indicadas e monitorar prazos de validade e realizar rodízios de estoques para evitar a comercialização de produtos vencidos ou em deterioração.

Agências Reguladoras: Agências reguladoras de saúde pública e segurança alimentar, como a ANVISA no Brasil, também desempenham um papel importante. Elas estabelecem e fiscalizam os padrões de segurança que devem ser seguidos por fabricantes, distribuidores e pontos de venda. Além disso, realizam inspeções regulares para garantir que os padrões sejam mantidos em todas as fases da cadeia de produção e distribuição.


3. Quais medidas preventivas deveriam ser adotadas por fabricantes, distribuidores e estabelecimentos comerciais para evitar que bebidas impróprias para consumo cheguem aos consumidores? E quais os riscos de negligência nesse processo?

Para evitar que bebidas impróprias para consumo cheguem ao consumidor, fabricantes, distribuidores e estabelecimentos comerciais devem adotar medidas preventivas rigorosas em cada etapa da produção, transporte e armazenamento. A negligência em qualquer etapa pode resultar em riscos à saúde dos consumidores e em sérias consequências legais e reputacionais para as empresas envolvidas.

Medidas Preventivas para Fabricantes: higiene adequada nas instalações e nos equipamentos, controle de pragas para evitar a contaminação por insetos, larvas e outros organismos, treinamento contínuo dos funcionários para seguir protocolos de segurança e manipulação de alimentos e bebidas, inspeção e manutenção regular de máquinas, especialmente nas linhas de produção e envase, para evitar falhas que possam comprometer o produto final.

Sistemas de Controle de Qualidade: Implementação de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle para identificar e controlar riscos potenciais no processo de fabricação, testes de qualidade periódicos, incluindo análise microbiológica para garantir que o produto final esteja livre de patógenos, selagem adequada das garrafas para evitar a entrada de contaminantes após o envase.

Medidas Preventivas para Distribuidores: armazenamento adequado e transporte seguro

Medidas Preventivas para Estabelecimentos Comerciais: boas condições de armazenamento, higiene e controle de pragas.


4. Em sua opinião, qual deveria ser a resposta imediata da empresa fabricante e dos órgãos de vigilância sanitária ao tomar conhecimento de um caso de contaminação como este, para proteger a saúde pública e minimizar riscos aos consumidores?

Quando uma empresa fabricante e órgãos de vigilância sanitária tomam conhecimento de um caso de contaminação em um produto alimentício, como uma garrafa de cerveja contaminada, é essencial que uma resposta imediata e coordenada seja implementada para proteger a saúde pública e minimizar os riscos aos consumidores. A resposta deve incluir as seguintes etapas: A fabricante deve realizar uma investigação interna imediata para determinar a origem da contaminação, identificar os lotes afetados e avaliar o risco para a saúde dos consumidores. Isso envolve inspeções no local de produção, análise de amostras e revisão dos protocolos de segurança. A ANVISA (no Brasil) ou outros órgãos locais de saúde devem ser notificados imediatamente e iniciar uma investigação independente. Eles precisam recolher amostras e realizar análises laboratoriais para confirmar a presença de contaminantes e a extensão do problema.

Recall do Produto, se for confirmado que o produto está contaminado, a fabricante deve iniciar um recall imediato dos lotes afetados. O recall precisa ser feito de maneira transparente e eficaz, garantindo que os consumidores sejam informados rapidamente e instruídos a não consumir o produto.


Comunicação ao Público: a empresa deve comunicar publicamente o incidente, fornecendo detalhes sobre o problema, os lotes afetados, e orientações claras para os consumidores sobre o que fazer caso já tenham adquirido ou consumido o produto.


É essencial que, ao encontrar insetos ou larvas em alimentos ou bebidas, a ingestão seja evitada, e o produto deve ser imediatamente descartado ou relatado ao fabricante para análise e prevenção de contaminações maiores.


Ana Soáres

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