No frenesi da vida moderna, quem tem tempo para pensar na saúde dos olhos? 10 de julho marca o Dia da Saúde Ocular, uma data que deveria ser mais do que uma simples anotação no calendário. Em um mundo onde a visão é essencial para quase todas as atividades cotidianas, ignorar os cuidados com os olhos é um erro grave.
Dr. Pedro Ferrari, do Vera Cruz Oftalmologia em Campinas (SP), alerta: as principais causas de cegueira adquirida são evitáveis. Doenças como catarata, glaucoma, degeneração macular e diabetes podem ser controladas com diagnósticos precoces e tratamentos adequados. Mas quem se lembra de agendar uma consulta ao oftalmologista antes de perceber que a visão está comprometida? Poucos.
"O acompanhamento regular com um oftalmologista é fundamental para evitar que doenças oculares se agravem. A catarata, por exemplo, pode ser revertida mesmo em fases avançadas. Já os erros refrativos, como miopia, hipermetropia e astigmatismo, quando não diagnosticados precocemente, podem causar ambiopia e prejudicar o desenvolvimento ocular em crianças", explica Ferrari. A negligência, porém, ainda reina soberana.
Estatísticas mostram que a cegueira adquirida é um problema de saúde pública. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo têm problemas de visão que poderiam ter sido evitados ou que ainda não foram tratados. No Brasil, estima-se que mais de 6,5 milhões de pessoas sofrem de algum tipo de deficiência visual, sendo que muitas delas poderiam ter sido prevenidas com cuidados adequados.
A partir dos 40 anos, a necessidade de consultas regulares se intensifica. Medir a pressão ocular e realizar exames de fundo de olho ajudam a prevenir doenças como glaucoma e degeneração macular, que, sem tratamento, podem levar à perda irreversível da visão. Para os diabéticos, o cuidado deve ser redobrado, com visitas anuais ao oftalmologista para monitorar possíveis complicações oculares decorrentes da doença.
No dia a dia, pequenos hábitos podem fazer uma grande diferença. Usar óculos de sol com proteção UV, higienizar os olhos com água filtrada e shampoo neutro, e escolher produtos de maquiagem e pomadas modeladoras capilares aprovados pelos órgãos competentes são medidas simples que ajudam a proteger a visão. E, claro, evitar o tabagismo, que pode aumentar o risco de degeneração macular, especialmente em pessoas com histórico familiar da doença.
Promover a prevenção da cegueira é uma responsabilidade compartilhada. A divulgação de métodos preventivos deve ser ampliada para que a comunidade se engaje. Não basta procurar um oftalmologista apenas quando a visão está prejudicada. A prevenção é o foco principal, especialmente para crianças, que muitas vezes não sabem expressar problemas de visão, e idosos, cuja perda de visão é gradual.
Os efeitos da baixa visão vão além da saúde física. O isolamento social e o risco de quedas são apenas algumas das consequências enfrentadas por quem perde a visão. A adaptação a uma nova realidade visual requer apoio, paciência e acompanhamento adequado.
E para aqueles que já convivem com a deficiência visual, a inclusão é fundamental. Projetos como o "KB2 - Olhos que Guiam" são exemplos inspiradores de como a sociedade pode transformar a vida de pessoas com deficiência. Criado por Almir Martelli, o projeto leva deficientes visuais para pedalar em bicicletas duplas no Parque do Taquaral, em Campinas. Com a ajuda de voluntários, essas pessoas têm a chance de experimentar a liberdade do movimento e a inclusão social por meio do esporte.
O que podemos aprender com tudo isso? Que cuidar da saúde ocular é uma responsabilidade que não pode ser negligenciada. Que a prevenção é a melhor forma de garantir uma vida plena e ativa. E que, com um pouco de sensibilidade e solidariedade, podemos fazer a diferença na vida de quem enfrenta a deficiência visual. Afinal, enxergar é um privilégio que devemos preservar.
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