Por Silver Marraz
Não gaste seus dias, suas horas, seus minutos seu tempo debruçado em ver importância em quem não te retribui
Deus me chamou de idiota e riu. Riu à beça da maneira como eu abusei da minha forma desumana de permitir que migalhas emocionais me seduzissem. Idiota, lógico. Um idiota aos olhos de um deus que existe no outro e que, por razão racional, me chamou de idiota. É que eu acreditei que a sintonia que supostamente havia entre eu e meu deus, seria mesma existente entre o outro e o deus dele, mas o que tínhamos em comum era apenas Deus.
Confesso que tenho ciência de que nós, todos sem exceção, temos um fetiche de não
ver além daquilo que a realidade nos mostra e fingir – alguns perdem a paciência mais rápido que outros – que migalhas é bom e, naturalmente, aceitamos ir morrendo a cada dia e cometendo diariamente suicídios impiedosamente.
Então, idiotamente, vamos perdendo a consciência da consciência e nos comportando como subservientes da manipulação do outro, porque cremos ser as migalhas o alimento e o bem maior de que precisamos.
Aí, eu perguntei e afirmei: “É isso, Deus? Entendi. Xeque mate”. “Idiota”, Ele respondeu. “Não pode permitir o mínimo nem o necessário, mas o bom, o melhor e não precisa ser nenhuma divindade para entender isso. Eu também existo em você e isso é um juízo determinante para que você se respeite e me respeite dentro de você.”
Aplico o idiotismo à falta de imposição a tudo: trabalho, amores, amizades, desejos, sonhos, a tudo. Tenho um deus legítimo dentro de mim tal qual o outro, mas se eu aceito o mínimo inversamente o excluo. Em outras palavras, sou o meu juiz e se eu não decidir por aquilo que mereço e me faz bem, não há justiça. Há, sim, uma alimentação de apartheid dentro de mim que vai dando lugar a algozes passearem sob e dentro com a mais cruel impiedade e com uma hospitalidade que lhe confere autoridade absoluta daquilo que não lhe pertence.
Hoje quando lembro que Deus riu ao me chamar de idiota, eu riu das minhas atitudes de acolhimento, hospitalidade em troca de uma “garantia” inexistente que eu crie com as minhas carências de... de tudo. E fui me acostumando com o imperdoável e dando chance a ver o meu eu e o meu deus sendo louvado no outro por mim e olhando para mim e dizendo “IDIOTA”.
Não é um xingamento. Longe disso. Não dá para fazer “teatro” achando que Deus não diria isso. Choques acordam mais rápido: “Preste atenção, idiota” do que “Presta ateção, filhinho”. Assim, portanto, que sai do choque Ele continuou: “Você é muito abusado, muito ousado em permitir ser pequeno para o outro. Esse é o sentido de ser idiota. Está sempre em tuas mãos o exercício do autoconhecimento, de aferir o teu valor e decidir por não milhagar afetos. Não gaste seus dias, suas horas, seus minutos seu tempo debruçado em ver importância em quem não te retribui e jamais se sinta feliz ou permaneça onde o seu valor seja o mínimo relevante”.
Nessa atividade perigosa, concordei com Deus e tirei o outro de mim. Tirei o outro sem levar lembranças, dores, mágoas, nada, nem saudades. Agora creio que renegar, muitas vezes, é um ato de liberdade, mas mais de sabedoria por amadurecer a ponto de não aceitar nem agora, nem nunca mais idiotas migalhas emocionais e migalhas emocionais idiotas que me idiotizem.
Sem mais, Deus me chamou de idiota, mas agora sorriu pra mim.
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