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Silver Marraz

Ficou feio, sim, Ludmilla.

Atualizado: 26 de abr.

Por Silver Marraz

Só Jesus expulsa o tranca rua das pessoas


Ficou feio, sim, Ludmilla. Há outras maneiras de falar sobre a favela e a intolerância que sequer defendeu quando usou o discurso de não à misoginia, ao preconceito etc. Não se usa – e isso aprendemos na família e na escola – frases abusivas para defender o não uso de frases abusivas. Não se pode fazer piada com pretos para defender que não se pode fazer piadas com pretos; não se pode chutar imagens católicas para falar que não se pode chutar imagens católicas; não se pode levar cocaína para dentro da igreja para dizer a um dependente químico que não pode usar drogas; não se pode "xingar você" com frases preconceituosas para pregar que não se pode ter preconceitos.

 

Ficou feio, sim, Ludmilla, porque é o preto, o favelado, o adepto de religiões africanas e grande parte dos seus fãs que também são fãs do guardião dos caminhos – EXU TRANCA RUA que te seguem, deusificam, elogiam. E faltou contexto, ou tiraram do contexto, certo? Acho que precisa voltar à escola urgente para saber o que é fazer um discurso fora do contexto. Frases soltas, sem explicações, reprovam na redação do ENEM, assim como também na vida. Será que de fato não sabe disso? Se não sabe, eu implico que seja uma pessoa preguiçosa de conhecimento? Se sabe, não poderia ter usado, sob hipótese alguma, nada sobre matriz africana, uma vez que a compra de uma igreja evangélica atualmente lhe confere a outra religião.

 

Você não precisa nos defender, lutar por causas que não são suas. Já tem problemas demais e ataques demais para se defender. E outro detalhe, o teu lugar de fala não te confere jamais que aja com qualquer comportamento de intolerância e, neste caso, de desrespeito não só à entidade como também a quem crê. A polêmica gerada em torno da sua frase revela uma complexa rede de significados e interpretações. Ao analisarmos criticamente seu comportamento, é possível observar nuances importantes que vão desde a questão da liberdade de expressão até a responsabilidade social que você falhou por não saber conduzir o processo.

 

Vale ressaltar que liberdade de expressão é um direito constitucionalmente garantido, porém, não absoluto. Ela deve ser exercida com responsabilidade, considerando o impacto das palavras e das mensagens veiculadas. No caso específico da sua frase, Ludmilla, sua utilização levanta questões sobre o respeito às crenças religiosas e às manifestações culturais populares.

 

A frase "Só Jesus expulsa o tranca rua das pessoas" é problemática em diversos aspectos. Primeiramente, ela desconsidera a diversidade de crenças e práticas religiosas presentes na sociedade brasileira, por sinal, LAICA. Depois, ao colocar a figura de Jesus como única capaz de lidar com uma entidade como o Tranca Rua, você não apenas desrespeita as religiões de matriz africana, mas também reforça estereótipos e preconceitos enraizados na sociedade sobre nós, povos pretos, marginalizados e estigmatizados há séculos.

 

Além disso, sua frase demonstra uma falta de sensibilidade ao tratar de temas tão sensíveis. A favela, muitas vezes estigmatizada e marginalizada, é palco de uma rica diversidade cultural e de resistência. Associar a favela de forma pejorativa, como se necessitasse da intervenção divina para resolver seus problemas, é reducionista e prejudicial.

 

No contexto atual, em que se busca cada vez mais a valorização da diversidade e o combate ao preconceito, é essencial que figuras públicas como você, Ludmilla, atuem como agentes de transformação positiva. E isso inclui o uso responsável da linguagem, o respeito às diferenças e a promoção de uma cultura de inclusão e respeito mútuo.

 

A sua frase de Ludmilla também levanta questões sobre a responsabilidade das celebridades em relação às suas falas e atitudes. Como influenciadora, você possui uma audiência significativa, e suas palavras têm o poder de impactar uma grande parcela da população, inclusive de revolta. Portanto, é crucial que você esteja ciente do alcance de suas declarações e do potencial de disseminação de ideias preconceituosas ou estigmatizantes dentro e fora de contexto.


Por outro lado, é importante reconhecer que todos somos passíveis de erros e aprendizado. Você, assim como qualquer pessoa, tem o direito de se retratar e refletir sobre suas ações. O diálogo construtivo e o debate saudável são ferramentas essenciais para o amadurecimento pessoal e para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Só não aceito que nos chame de burros com o discurso de “fora do contexto”. Isso, de fato, não dá.

 

Entretanto, reconheço que é fundamental que a discussão em torno sua frase não se restrinja apenas à crítica, mas também abra espaço para a reflexão, o diálogo e o aprendizado mútuo. Somente através do entendimento das diversas perspectivas e da busca por um convívio respeitoso e harmonioso poderemos avançar como sociedade.

 

E uso suas próprias palavras para encerrar com acréscimo meu: “Não me coloquem nesse lugar, vocês sabem quem eu sou e de onde eu vim. Não tentem limitar para onde eu vou. Respeito todas as pessoas como elas são, e independente de qualquer fé, raça, gênero, sexualidade ou qualquer particularidade de que façam elas únicas." Então, não use frases que causam incômodo ao ser humano que, inclusive, te defende e te admira. Que Exu Tranca Rua – o responsável pela limpeza astral dos caminhos do mundo ­­– possa continuar sendo luz no caminho daqueles que entendem que tudo e todos levam a um único lugar chamado DEUS. E, por isso, qualquer caminho único é uma escolha burra e estúpida de julgamentos desrespeitoso ao fragmento de DEUS em cada um de nós.


Créditos da foto: Daniel Werneck

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