LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho

Alguns filmes chegam como um presente para o público, trazendo atuações memoráveis e histórias que tocam a alma. Vitória, dirigido por Karim Aïnouz e estrelado pela lendária Fernanda Montenegro, é um desses casos raros. Com um roteiro sensível e uma abordagem cinematográfica sofisticada, o longa se firma como um dos grandes dramas nacionais do ano, explorando temas como envelhecimento, identidade e a força de uma mulher que nunca se permitiu ser apagada.
Uma história de resistência e redenção
No papel-título, Fernanda Montenegro interpreta Vitória, uma mulher de 85 anos que vive sozinha em uma antiga casa no centro do Rio de Janeiro. Ex-professora, ativista e amante das artes, ela passa os dias entre memórias e pequenas batalhas cotidianas, tentando manter viva sua independência enquanto o mundo ao seu redor parece mudar em uma velocidade que ela não pode controlar.
Quando sua casa histórica passa a ser alvo de um grande projeto de gentrificação, Vitória se vê diante da necessidade de lutar não apenas por seu lar, mas por sua própria existência. Entre burocracias, reencontros inesperados e lembranças dolorosas, ela embarca em uma jornada emocional que desafia sua visão sobre a vida e o tempo.

Fernanda Montenegro: uma atuação para a história
Fernanda Montenegro não precisa provar mais nada, mas sempre consegue surpreender. Em Vitória, sua atuação é de uma delicadeza avassaladora, carregando toda a profundidade e a experiência de uma carreira impecável. Cada olhar, cada pausa e cada gesto trazem uma verdade impressionante, tornando Vitória uma personagem inesquecível.
O filme não se apoia apenas em diálogos, mas em silêncios que falam tanto quanto as palavras. Montenegro domina a tela com um magnetismo que poucos atores conseguem alcançar, fazendo com que cada cena seja impregnada de emoção e significado. Sua Vitória não é apenas uma mulher idosa tentando preservar seu espaço, mas uma força da natureza que se recusa a ser esquecida.

Direção e estética envolventes
Karim Aïnouz, conhecido por sua sensibilidade ao retratar personagens femininas fortes (A Vida Invisível), traz em Vitória uma abordagem visual que mistura poesia e realismo. A fotografia, assinada por Hélène Louvart, utiliza cores quentes e sombras marcantes para refletir o estado emocional da protagonista, transformando a cidade do Rio em um cenário quase onírico, onde o passado e o presente se encontram.
O uso da câmera subjetiva aproxima o público da intimidade de Vitória, fazendo com que sintamos cada suspiro, cada olhar para objetos carregados de memória e cada passo incerto em um mundo que parece não ter mais lugar para ela. A trilha sonora sutil, pontuada por melodias clássicas e sons urbanos, reforça a melancolia e a beleza da narrativa.

Reflexões sobre tempo e memória
Além de ser um drama envolvente, Vitória é um filme que nos faz pensar. O longa discute a passagem do tempo e a maneira como a sociedade trata aqueles que já viveram suas maiores histórias. Vitória não quer ser um fantasma em sua própria cidade – ela quer ser ouvida, respeitada e lembrada.
O roteiro também aborda a solidão na velhice, sem cair em clichês ou sentimentalismos fáceis. A protagonista é forte, mas não inabalável, e essa humanidade a torna ainda mais real. Entre momentos de doçura e de pura indignação, o filme constrói uma jornada que nos faz refletir sobre nossas próprias raízes e a importância de preservar aquilo que nos define.
Vale a pena assistir o filme Vitória?
Definitivamente. Vitória é uma obra-prima do cinema brasileiro contemporâneo, um filme que emociona, provoca e celebra a força das mulheres que vieram antes de nós. Com uma atuação magistral de Fernanda Montenegro e uma direção impecável de Karim Aïnouz, o longa se torna um marco na filmografia nacional.
Se você gosta de dramas sensíveis, com performances poderosas e um olhar profundo sobre o envelhecimento e a memória, Vitória é um filme imperdível. Uma homenagem a todas as mulheres que, como a protagonista, se recusam a desaparecer silenciosamente. Nota: ★★★★½
Título Original: Vitória
Direção: Andrucha Waddington, Breno Silveira
Duração: 1h 52 min
Gênero: Policial, Drama
Ano: 2025
Classificação: 16 anos
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