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[CRÍTICA] Um Filme Minecraft: criatividade pixelada em uma aventura para toda a família

Atualizado: 9 de abr.

LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho


Um Filme Minecraft
(Foto: reprodução/Warner Bros. Pictures/Legendary Pictures)

Desde seu lançamento em 2009, Minecraft se tornou um dos jogos mais influentes e amados do planeta. Com mais de 300 milhões de cópias vendidas, o game da Mojang transcendeu a categoria de simples entretenimento para se tornar uma ferramenta educativa, um espaço de criatividade e até um refúgio social para milhões de jogadores.


Com tanto alcance, a transposição de seu universo para o cinema era apenas uma questão de tempo. Em abril de 2025, ela finalmente chegou com Um Filme Minecraft, dirigido por Jared Hess (Napoleon Dynamite, Nacho Libre) e estrelado por nomes como Jack Black, Jason Momoa, Danielle Brooks e Emma Myers.


A grande pergunta, no entanto, era: como transformar um jogo sem enredo fixo, baseado na liberdade criativa do jogador, em uma narrativa cinematográfica coerente e envolvente? A resposta de Hess e do roteirista Peter Sollett, com colaboração de Allison Schroeder, foi apostar em uma comédia de aventura familiar que homenageia o espírito do jogo sem tentar replicar sua estrutura aberta. O resultado é um filme divertido, vibrante e, apesar de algumas irregularidades, eficaz em encantar crianças e agradar os fãs mais nostálgicos.


Sinopse: heróis improváveis no mundo cúbico

A história gira em torno de quatro personagens centrais: Garrett "O Lixeiro" Garrison (Jason Momoa), um ex-campeão de fliperama que agora gerencia uma loja de videogames; Natalie (Emma Myers), uma adolescente corajosa e irmã protetora de Henry (Sebastian Eugene Hansen), um garoto introvertido e criativo; e Dawn (Danielle Brooks), uma corretora de imóveis excêntrica que sonha em abrir um zoológico interativo. Todos são transportados misteriosamente para o Overworld, o universo de Minecraft, onde encontram Steve (Jack Black), o lendário construtor e sobrevivente que vive há anos enfrentando Creepers, Endermen, Piglins e outros perigos do bioma cúbico.


Presos em um mundo onde tudo é feito de blocos e onde as regras seguem uma lógica própria, os quatro humanos precisam aprender a sobreviver, minerar, construir, lutar e — acima de tudo — colaborar. O tempo é curto, pois uma ameaça se aproxima: Malgosha, a governante Piglin do Nether (voz de Rachel House), está prestes a invadir o Overworld com seu exército flamejante. Para voltar para casa, o grupo precisará desbloquear habilidades que nem sabiam que possuíam.


Construindo narrativas com blocos: os desafios da adaptação

Adaptar Minecraft para o cinema nunca foi tarefa simples. Ao contrário de outras franquias como Mario ou Sonic, Minecraft não tem personagens fixos, nem um enredo definido. Seu apelo reside na liberdade total: você cria o mundo, a história e o ritmo. Jared Hess, ao invés de tentar reproduzir essa estrutura sandbox, decidiu por uma narrativa tradicional de jornada do herói, ancorada por personagens excêntricos e situações absurdas.


Essa decisão pode desagradar parte do público que esperava algo mais próximo da experiência do jogo, mas é acertada do ponto de vista cinematográfico. O roteiro acerta ao usar elementos reconhecíveis — como a lógica de craftar, a necessidade de comer, dormir e construir abrigos, os mobs clássicos — dentro de um arco narrativo acessível para todos. Ao transformar o Overworld em um cenário quase mitológico, Hess entrega uma ode ao poder da criatividade e da colaboração.


Jack Black: o Steve que a gente precisava

Jack Black encarna Steve com a energia caótica que só ele é capaz de entregar. Apesar de Steve ser, no jogo, uma figura silenciosa e neutra, no filme ele ganha personalidade, voz e carisma. Black o transforma em uma mistura de mestre Jedi e tio doido do churrasco — alguém que carrega a sabedoria da sobrevivência, mas também o entusiasmo infantil por redstone e mesas de encantamento.


Seus momentos com Jason Momoa são alguns dos mais engraçados do longa. Há uma cena em que Steve tenta explicar, com a seriedade de um monge, como construir uma cama com lã e madeira, enquanto Garrett simplesmente se recusa a aceitar que precisa “dormir para não ser atacado por fantasmas”. Essa dinâmica de mestre e aluno atravessa o filme e dá leveza às cenas de maior tensão.


Jason Momoa e o protagonismo disfuncional

Jason Momoa, como Garrett, traz uma mistura bem-vinda de galhofa e sinceridade. Ao contrário do Aquaman musculoso ou do Khal Drogo ameaçador, aqui ele interpreta um adulto imaturo que precisa crescer. Seu arco é previsível, mas ainda assim cativante: de homem frustrado e egocêntrico a líder improvável, ele aprende com os erros e reconhece o valor da cooperação.


A química de Momoa com Emma Myers e Danielle Brooks funciona bem. Myers, que ganhou destaque com Wandinha, interpreta Natalie com bravura e doçura. Sua relação com o irmão Henry, vivido por Sebastian Eugene Hansen, é o coração emocional do filme. Já Danielle Brooks rouba as cenas como Dawn, entregando as melhores tiradas cômicas e uma energia contagiante.


Um Filme Minecraft
(Foto: reprodução/Warner Bros. Pictures/Legendary Pictures)

Estética cúbica: o mundo do jogo nos cinemas

Visualmente, Um Filme Minecraft é uma proeza. A estética em blocos foi preservada com fidelidade, mas sem perder fluidez. Os cenários são coloridos, cheios de detalhes e com texturas que remetem diretamente ao universo do jogo. A transição entre o mundo real e o Overworld é bem executada, e os efeitos visuais equilibram o realismo com o estilo cartunesco.


A movimentação dos personagens dentro do universo cúbico é um dos destaques técnicos. Eles respeitam a física do jogo: pulam quadrado por quadrado, quebram blocos com os punhos e se movem em trilhos e barcos como jogadores reais. Há um cuidado em manter a lógica interna de Minecraft, o que garante credibilidade à ambientação e agrada os fãs.


Humor e referências: uma carta de amor aos jogadores

O humor é um dos trunfos do filme. Jared Hess insere piadas visuais, trocadilhos e situações absurdas que remetem diretamente à lógica do jogo. Há cenas em que personagens caem em ravinas por cavar direto para baixo (um pecado mortal em Minecraft), ou constroem torres de terra para fugir de mobs — tudo com muito timing cômico.


As referências aos youtubers, memes e glitches do jogo também estão presentes, mas de forma sutil. A produção entende que o público é diverso: crianças que jogam pela primeira vez, adultos nostálgicos, famílias em busca de diversão. O roteiro caminha bem nessa linha tênue entre fan service e acessibilidade.


Trilha sonora e ritmo: uma jornada familiar e dinâmica

A trilha sonora, assinada por Mark Mothersbaugh (de A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas), é energética e divertida. Mistura instrumentos clássicos com sons pixelados, criando uma ambientação sonora que casa perfeitamente com o universo cúbico. Temas específicos são associados a personagens e biomas, o que ajuda na imersão.


O ritmo do filme é ágil, sem se tornar frenético. Com 1h41min, Um Filme Minecraft não se alonga mais do que precisa. O segundo ato é o mais forte, quando os personagens aprendem a viver no Overworld e se tornam uma equipe. O clímax é visualmente impactante, com a invasão do Nether e uma batalha final que não economiza em explosões e piadas.


Um Filme Minecraft
(Foto: reprodução/Warner Bros. Pictures/Legendary Pictures)

Recepção e impacto: crítica dividida, bilheteria sólida

A recepção crítica foi mista, como era de se esperar. Sites como Variety e The Hollywood Reporter elogiaram o visual e o humor, mas criticaram a falta de profundidade emocional. Já IGN e Collider destacaram o filme como um exemplo bem-sucedido de adaptação de game. No Brasil, portais como AdoroCinema e Omelete elogiaram a dublagem nacional e a inventividade estética.


O público, por sua vez, abraçou o filme. Com um primeiro fim de semana de US$ 157 milhões nos EUA e mais de US$ 300 milhões mundialmente, Um Filme Minecraft superou até mesmo Super Mario Bros. O Filme em sua estreia. Nas redes sociais, a reação foi majoritariamente positiva, com muitos pais destacando a experiência divertida com os filhos.


Conclusão: diversão com blocos e coração

Um Filme Minecraft cumpre bem sua missão: entreter, respeitar o material original e abrir espaço para sequências. Não é perfeito — o roteiro é simples, algumas piadas não funcionam e a mensagem de “acredite em si mesmo” soa um pouco batida. Mas é feito com carinho, com atenção aos detalhes e com consciência de seu público.


Se você é fã do jogo, vai se emocionar ao ver os biomas renderizados com fidelidade, ao ouvir os sons clássicos dos mobs, ou ao ver Steve (Jack Black) soltando um “ugh!” depois de comer uma maçã dourada. Se você nunca jogou Minecraft, ainda assim vai encontrar uma aventura divertida, com personagens carismáticos e uma história sobre amizade e criatividade.


Nota final: ⭐⭐⭐⭐ (4/5)

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