LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho
Nota: ★★★★½

Após o sucesso de Duna (2021), Denis Villeneuve retorna com Duna: Parte 2, expandindo a grandiosidade e a complexidade do universo criado por Frank Herbert. Se o primeiro filme foi uma introdução cuidadosa ao mundo árido e brutal de Arrakis, esta sequência mergulha ainda mais fundo nos conflitos políticos, religiosos e filosóficos que definem a obra original. Mas será que Villeneuve conseguiu equilibrar o espetáculo visual com a densidade narrativa que a história exige?
Desde seu lançamento, Duna: Parte 2 tem sido amplamente aclamado, não apenas como uma continuação bem-sucedida, mas como uma obra que consolida a adaptação cinematográfica da saga como um dos grandes épicos da ficção científica. Com uma abordagem mais intensa e emocional, o filme eleva a história de Paul Atreides a um novo patamar, transformando a jornada de um jovem príncipe exilado em uma epopeia de vingança e destino.

Uma jornada de vingança e profecia
A trama de Duna: Parte 2 segue os eventos do primeiro filme, acompanhando Paul Atreides (Timothée Chalamet) em sua aliança com os Fremen, o povo nativo do deserto de Arrakis. Se antes ele era apenas um jovem herdeiro em fuga, agora ele precisa se tornar um líder capaz de guiar seus aliados contra os brutais Harkonnen e desafiar as forças que manipularam sua existência desde o início.
A dualidade de Paul é um dos pontos mais fascinantes da narrativa. Ele luta contra seu destino de messias enquanto vê a profecia se concretizar ao seu redor. A relação com Chani (Zendaya) se torna um pilar emocional importante, contrastando a devoção quase fanática que os Fremen começam a nutrir por ele. A dinâmica entre os dois personagens adiciona uma camada de complexidade que impede que Paul seja reduzido a um simples herói predestinado.
O roteiro explora de maneira magistral os temas centrais da obra de Herbert: colonialismo, fanatismo religioso, manipulação política e ecologia. Villeneuve mantém a essência filosófica do material original, sem abrir mão da ação e do espetáculo visual.

Elenco estelar e performances intensas
Timothée Chalamet retorna ao papel de Paul Atreides com uma atuação muito mais intensa e multifacetada. Se no primeiro filme ele era um jovem confuso tentando sobreviver, aqui ele se torna uma figura imponente, oscilando entre a vulnerabilidade e a ascensão ao poder. Seu arco narrativo é construído de forma gradual e convincente, fazendo com que a transformação do personagem tenha um peso emocional genuíno.
Zendaya, que teve uma participação limitada no primeiro filme, agora tem um papel muito mais significativo como Chani. Sua atuação traz um contraponto essencial à jornada de Paul, representando a voz de quem não acredita cegamente na profecia. A química entre os dois atores é palpável e suas interações carregam uma carga emocional que torna a relação entre os personagens um dos pontos altos do filme.
Austin Butler surpreende como Feyd-Rautha Harkonnen, entregando um vilão carismático e ameaçador. Diferente do brutal e animalesco Rabban (Dave Bautista), Feyd-Rautha é um antagonista calculista, cuja presença em cena é sempre carregada de tensão. Seu embate com Paul é um dos momentos mais aguardados da história, e o filme faz jus a essa expectativa.
O elenco de apoio também merece destaque: Rebecca Ferguson, como Lady Jessica, continua impressionante, explorando ainda mais as nuances de sua personagem. Javier Bardem retorna como Stilgar, líder dos Fremen, e traz um equilíbrio perfeito entre devoção e estratégia. Florence Pugh, como a princesa Irulan, e Christopher Walken, como o Imperador Shaddam IV, adicionam camadas políticas à trama, ampliando a complexidade do universo de Duna.

Direção, fotografia e trilha sonora: uma experiência sensorial
Se existe um diretor que sabe transformar ficção científica em arte, esse diretor é Denis Villeneuve. Com Duna: Parte 2, ele reafirma seu domínio sobre o gênero, criando um filme que é tanto um espetáculo visual quanto uma experiência profundamente imersiva.
A cinematografia de Greig Fraser mais uma vez impressiona. Cada cena é meticulosamente composta para capturar a vastidão e a hostilidade de Arrakis, ao mesmo tempo em que encontra beleza no deserto implacável. As cenas de batalha são grandiosas, mas nunca caóticas, permitindo que o público absorva cada detalhe.
A trilha sonora de Hans Zimmer merece uma menção especial. Se no primeiro filme ele já havia criado um som único para o mundo de Duna, aqui ele leva sua composição a um novo nível. Os temas musicais são poderosos e evocativos, reforçando a sensação de que estamos testemunhando algo verdadeiramente épico. A combinação entre percussões tribais e cantos etéreos cria uma atmosfera que torna o filme ainda mais envolvente.

Fidelidade à obra e adaptação cinematográfica
Um dos maiores desafios de adaptar Duna sempre foi encontrar o equilíbrio entre a complexidade da obra original e a necessidade de criar um filme acessível ao público. Villeneuve, mais uma vez, faz isso com maestria. Ele mantém a essência filosófica e política do livro, mas sabe onde enxugar e reestruturar a narrativa para que funcione no cinema.
Diferente de adaptações anteriores, como a versão de David Lynch em 1984, Duna: Parte 2 se preocupa em respeitar os temas centrais da obra de Herbert, sem ceder à necessidade de explicar cada detalhe ao espectador. É um filme que confia na inteligência de seu público, permitindo que cada um absorva a história em seu próprio ritmo.
A escolha de dividir a adaptação em duas partes foi acertada. Ao invés de condensar a história em um único filme, Villeneuve permite que cada momento tenha o tempo necessário para se desenvolver. Isso faz com que Duna: Parte 2 não apenas expanda o universo do primeiro filme, mas também aprofunde suas implicações políticas e filosóficas.

O impacto de Duna no cinema contemporâneo
O impacto de Duna: Parte 2 vai além da ficção científica. Com sua grandiosidade visual, narrativa bem construída e um elenco em plena forma, o filme se consolida como um dos grandes marcos do cinema moderno. Ele prova que é possível criar blockbusters ambiciosos que não subestimam a inteligência do público e que se preocupam em contar histórias profundas e relevantes.
O universo de Duna sempre foi uma das maiores influências do gênero, servindo de inspiração para obras como Star Wars e O Senhor dos Anéis. Com essa nova adaptação, Villeneuve não apenas resgata essa influência, mas redefine o padrão de como ficções científicas podem ser abordadas no cinema.

Conclusão: uma obra-prima da ficção científica
Duna: Parte 2 não é apenas uma continuação; é um evento cinematográfico. Denis Villeneuve entrega um filme que honra o legado de Frank Herbert, ao mesmo tempo em que estabelece novos padrões para o gênero. Com atuações impecáveis, uma direção primorosa e um design de produção impressionante, o filme se firma como um dos melhores épicos de ficção científica já feitos.
Se o primeiro Duna já era um espetáculo, esta sequência eleva tudo a um nível ainda mais grandioso. Para os fãs da obra original, é a adaptação definitiva. Para os que estão sendo introduzidos a esse universo, é uma experiência imersiva e inesquecível.
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