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[CRÍTICA] A Menina dos Meus Olhos — o primeiro amor nunca sai da gente

LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho

Divertido, carismático e simples
Divertido, carismático e simples (Foto: Reprodução / Ingresso)

Existe algo de profundamente nostálgico em revisitar o primeiro amor. Mesmo quando ele fica para trás, algo em nós permanece ancorado naquele tempo. A Menina dos Meus Olhos (You Are the Apple of My Eye), lançado nos cinemas brasileiros em 13 de março de 2025, é um filme que entende esse sentimento com uma sensibilidade rara. Dirigido por Young-Myoung Cho, essa refilmagem sul-coreana do clássico taiwanês de 2011 adapta com delicadeza a história de Giddens Ko, trazendo para o cinema uma homenagem melancólica à juventude, aos laços que nos moldam e às lembranças que nunca partem de verdade.


Com atuações sinceras de Jung Jin-young e Kim Da-hyun, o longa mergulha em uma história de afeto, desejo contido e crescimento. O que poderia ser apenas mais um romance adolescente torna-se uma experiência emocional madura, que fala tanto com jovens quanto com os adultos que já foram aqueles adolescentes.


A trama: juventude, expectativas e silências

Jin-woo (Jung Jin-young) é um estudante impulsivo, brincalhão e pouco aplicado. Seon-ah (Kim Da-hyun) é a aluna perfeita: organizada, brilhante, respeitada por professores e colegas. Mas não é só pelo contraste que os dois se conectam. Há entre eles uma troca silenciosa, um jogo de provocações que esconde uma afinidade crescente.


Quando Jin-woo é punido por uma de suas traquinagens, Seon-ah acaba ficando responsável por supervisioná-lo em seus estudos. É nesse convívio forçado que os dois se aproximam. O que começa como rivalidade vira compaixão, e depois algo mais, ainda que nunca plenamente assumido. A história se desenrola ao longo de anos, acompanhando não apenas o ensino médio, mas também a entrada na vida adulta e a distância inevitável.


Entre encontros, desencontros e silências, A Menina dos Meus Olhos constrói uma narrativa que não depende de reviravoltas, mas sim da autenticidade das relações.


Jung Jin-young: entre a irreverência e o amadurecimento

Como Jin-woo, Jung Jin-young entrega uma performance que equilibra carisma juvenil com um amadurecimento progressivo. Seu personagem é um tipo comum nas escolas: aquele garoto inquieto, que prefere brincar do que estudar, que se esconde atrás da piada para não encarar o próprio sentimento.


Mas ao longo do filme, Jin-woo vai se transformando. E Jin-young consegue expressar esse crescimento com olhar e postura. As brincadeiras continuam, mas ganham camadas. O que parecia superficial revela uma vulnerabilidade tocante. Ele não é um herói romântico tradicional, mas justamente por isso é tão real.

Um retorno ao primeiro amor!
Um retorno ao primeiro amor! (Foto: Reprodução / Cine Pop)

Kim Da-hyun: delicadeza e presença marcante

Dahyun, em sua estreia cinematográfica, interpreta Seon-ah com uma mistura rara de doçura e firmeza. Sua personagem poderia ser apenas a "menina dos olhos de todos", mas ela vai além. Seon-ah não é só a garota perfeita: é uma jovem cheia de dúvidas, cobranças internas, desejos que nem sempre consegue expressar.


Dahyun explora essas nuances com segurança. Ela não precisa de grandes monólogos para mostrar que Seon-ah também sente, também espera, também sofre. Em especial nas cenas finais, a atriz demonstra um poder emocional silencioso que eleva o filme a outro patamar.


A força do cotidiano: escola, amigos e escolhas

Um dos trunfos do filme é sua habilidade de retratar a adolescência com autenticidade. As cenas na escola, as brincadeiras entre amigos, as pequenas disputas, os exageros típicos da idade — tudo isso compõe um retrato convincente da vida escolar.


A amizade entre Jin-woo e seu grupo é um alívio cômico constante, mas também um lembrete do quão fundamentais são essas relações na formação da identidade. Há piadas internas, apoio silencioso, brigas e reconciliações. E há, claro, o choque entre os sonhos do ensino médio e as realidades da vida adulta, que o filme trata com honestidade e empatia.


Direção e fotografia: poesia visual e emoção contida

Young-Myoung Cho dirige com um olhar sensível, quase contemplativo. Ele permite que a história respire, que os silências falem, que os gestos pequenos ganhem significado. Não é um filme acelerado, nem pretende ser. Sua força está na melancolia que se insinua nos detalhes.


A fotografia aposta em tons suaves, luz natural, enquadramentos que ressaltam a distância entre os personagens mesmo quando estão próximos. As paisagens escolares, os becos urbanos, os quartos silenciosos — tudo contribui para essa atmosfera de lembrança. Assistir ao filme é como folhear um álbum de memórias.

É sobre o que não deu certo e sobre as bagagens que levamos pra a vida
É sobre o que não deu certo e sobre as bagagens que levamos pra a vida (Foto: Reprodução / Terra)

Trilha sonora e ritmo: um convite à nostalgia

A trilha sonora é discreta, mas emocionalmente eficiente. Temas instrumentais pontuam os momentos mais intensos, enquanto músicas adolescentes da época ajudam a situar a narrativa temporalmente. Não há exagero. Tudo é na medida para não atropelar a emoção.


O ritmo é intencionalmente lento, o que pode afastar alguns espectadores mais acostumados a narrativas ágeis. Mas para quem se permite entrar no tempo do filme, a experiência se torna recompensadora. É um filme que pede entrega e devolve sentimento.


A passagem do tempo: quinze anos em um olhar

Um dos grandes acertos do longa é mostrar o impacto do tempo sem recorrer a maquiagem ou grandes artificia-lismos. A passagem de quinze anos é sentida no modo como os personagens mudam de postura, de fala, de espaço. A vida adulta chega como um sopro frio, silencioso, e muda tudo sem anunciar.


Há uma cena específica, no reencontro de Jin-woo e Seon-ah, em que os olhos dizem tudo o que os lábios não conseguem. É esse tipo de cinema que A Menina dos Meus Olhos propõe: mais sensação do que explicação, mais empatia do que conclusão.


Recepção e impacto: o que dizem críticos e público

A recepção internacional tem sido positiva, com destaque para a atuação de Dahyun e para a direção delicada de Cho. O Korea Times elogiou a adaptação por manter o espírito da obra original, ao mesmo tempo em que insere elementos culturais próprios da Coreia. No IMDb, o filme conquistou notas acima de 7.5, com elogios à cinematografia e à autenticidade das emoções retratadas.


No Reddit e em redes sociais, os fãs de k-dramas e cinema romântico têm celebrado a estreia de Dahyun, destacando sua entrega e naturalidade. Muitos também compartilham experiências pessoais que o filme evocou, reforçando seu poder de conexão.


A Menina dos Meus Olhos: amar, mesmo que não seja para sempre

The Apple of My Eye não é uma história de finais felizes em moldes tradicionais. É sobre a beleza do que foi, mesmo que não tenha sido eterno. Sobre o que deixamos passar, o que não conseguimos dizer, o que levamos conosco mesmo sem saber.


Com atuações comoventes, direção sensível e um roteiro que abraça a simplicidade como virtude, o filme nos lembra que o primeiro amor não precisa durar para ser inesquecível. Ele só precisa ter sido sincero. E isso, neste caso, ele é por inteiro.


Nota final: ⭐⭐⭐⭐½ (4,5/5)

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