[CRÍTICA] A Lista da Minha Vida: quando reencontrar seus sonhos muda tudo
- Manu Cárvalho
- 29 de mar.
- 5 min de leitura
LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho

Quem nunca escreveu uma lista de desejos na adolescência jurando que iria realizar todos eles antes dos 30? Em A Lista da Minha Vida (The Life List), dirigido e roteirizado por Adam Brooks, essa simples premissa se transforma em uma jornada emocional que mistura romance, comédia e drama com leveza e uma pitada de dor real. Lançado pela Netflix em 28 de março de 2025, o longa adapta o best-seller de Lori Nelson Spielman e traz Sofia Carson como protagonista em sua atuação mais madura até agora.
Na trama, uma mulher aparentemente bem resolvida é forçada a rever os planos que deixou pelo caminho. Por meio de uma lista escrita por ela mesma aos 13 anos, e por uma mãe que mesmo após a morte segue orientando sua filha, a narrativa nos conduz por uma espécie de mapa afetivo. A cada desejo riscado da lista, Alex Rose se reencontra com quem era, e descobre quem ainda pode ser.
A trama: herança, memória e recomeços
Alex (Sofia Carson) vive uma vida que, aos olhos de fora, é perfeitamente bem-sucedida: trabalha na empresa de cosméticos de sua mãe, tem um namorado estável, mora em um apartamento moderno e organiza cada passo de sua rotina com precisão. Mas tudo vira do avesso quando sua mãe, Elizabeth (Connie Britton), morre de forma inesperada e deixa um testamento incomum: Alex só terá direito à herança se completar todos os itens de uma lista de desejos escrita aos 13 anos.
Entre desejos simples como "ajudar alguém em necessidade" ou "fazer as pazes com minha melhor amiga", e sonhos quase esquecidos como "cantar em público" ou "me apaixonar de verdade", Alex se vê obrigada a sair de sua zona de conforto. E cada vez que cumpre um desses objetivos, recebe um vídeo inédito da mãe, gravado antes de morrer. Esses vídeos são o elo entre o passado e o presente, e servem como guias emocionais nessa travessia.
Ao lado de Brad (Kyle Allen), o jovem advogado encarregado de supervisionar a lista, Alex embarca em uma jornada que mistura reconciliação, descobertas, pequenas grandes vitórias e encontros inesperados. E é nessa jornada que ela vai entender o que significa viver de verdade.
Sofia Carson: leveza, emoção e evolução
Conhecida principalmente por seus papéis mais voltados para o público jovem, Sofia Carson se destaca aqui em uma performance contida, mas cheia de nuances. Alex é uma personagem que poderia cair facilmente no clichê da mulher perfeccionista e reprimida, mas Carson empresta vulnerabilidade e sinceridade à protagonista.
Seus momentos de maior emoção não são os de choro escancarado, mas os de silêncio, de hesitação, de dúvida. Quando Alex precisa subir ao palco para cantar e trava, ou quando hesita antes de ligar para uma antiga amiga, é nesse detalhe que Sofia brilha. Seu arco é convincente e nos leva a torcer por ela, mesmo quando suas escolhas são questionáveis.

Os apoios: Brad, Garrett e os caminhos do coração
Brad (Kyle Allen) é mais do que um advogado simpático. Ele se torna um confidente, um parceiro de aventuras e, inevitavelmente, um interesse romântico. Mas o roteiro acerta ao não forçar a relação. A conexão entre os dois surge aos poucos, com gestos simples e cumplicidade. Allen entrega um Brad sensível e divertido, equilibrando bem a função de guia e parceiro.
Já Garrett (Sebastian De Souza), coordenador do abrigo onde Alex vai dar aulas de reforço, surge como uma possibilidade alternativa. Inteligente, engajado, encantador, ele representa um tipo de amor diferente, mais ativista, mais idealista. Essa dualidade romântica é bem desenvolvida e reflete as dúvidas reais de quem está redescobrindo o próprio desejo.
As mães que nunca se vão
Connie Britton, como Elizabeth, aparece em vídeos gravados antes da morte, deixando mensagens que combinam conselhos, lembranças e encorajamentos. A dinâmica dessas gravações é o coração emocional do filme. Há algo de profundamente comovente em ver uma mãe que prepara cada passo para que sua filha se reencontre, mesmo depois de partir.
Esses vídeos não são meras ferramentas narrativas. Eles funcionam como cartas de amor às possibilidades, como lembretes de que sempre há tempo para recomeçar. Britton entrega uma atuação calorosa, forte e inesquecível, ainda que sua presença seja limitada ao "além-vídeo".
Roteiro e direção: previsível, mas eficaz
Adam Brooks, que já escreveu comédias românticas como Definitivamente, Talvez e Bridget Jones: No Limite da Razão, sabe construir uma narrativa que flui bem. O roteiro é previsível? Sim. A estrutura de lista de desejos já foi usada em filmes como Antes de Partir e Como Eu Era Antes de Você. Mas isso não diminui o impacto da execução.
A direção opta por um tom suave, com fotografia quente, montagem rápida e uma trilha sonora folk-pop que acompanha bem a jornada. O filme evita a armadilha do melodrama e, mesmo quando aborda temas como luto, culpa e medo de fracassar, nunca perde a delicadeza.

Temas e reflexões: a lista que vira espelho
Mais do que uma história de romance, A Lista da Minha Vida é sobre as cobranças que nos impomos e os sonhos que deixamos para depois. A ideia de revisitar uma lista da adolescência nos obriga a refletir sobre o quanto nos distanciamos de quem um dia fomos.
E sobre o que ainda é possível resgatar.
Alex, ao reencontrar suas paixões esquecidas — o canto, a escrita, o ensino, a amizade verdadeira —, não está apenas completando tarefas. Ela está se reconstruindo. E nesse processo, o filme convida o espectador a fazer o mesmo. Quais sonhos você deixou na gaveta? O que você abandonou por medo, prática ou pressão externa?
Recepção: entre a leveza e a emoção
A recepção crítica foi mista, mas o público parece ter abraçado o filme. No Rotten Tomatoes, o longa recebeu 47% de aprovação com base em 19 críticas. No entanto, as avaliações do público foram consideravelmente mais generosas, destacando a emoção contida e a mensagem positiva.
Críticos como os do The Guardian apontaram a previsibilidade do roteiro e a falta de momentos surpreendentes, mas reconheceram a sinceridade da atuação de Carson e a elegância do tom geral. Nas redes sociais, relatos de pessoas inspiradas pelo filme, que decidiram retomar seus próprios projetos esquecidos, são frequentes.
A Lista da Minha Vida: um lembrete gentil de quem você já foi e ainda pode ser
A Lista da Minha Vida não reinventa o gênero das comédias românticas ou dos dramas de autodescoberta. Mas entrega com competência, carinho e emoção uma história que conversa com todos que já se sentiram perdidos em suas próprias vidas.
Com atuações sinceras, roteiro afetuoso e direção sensível, o filme encontra sua força na identificação. Ao final, fica difícil não desejar fazer a própria lista e, quem sabe, começar a riscar um item por vez.
Nota final: ⭐⭐⭐⭐ (4/5)
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