[CRÍTICA] A Forja – O Poder da Transformação: um retrato inspirador de fé e redenção
- Manu Cárvalho
- 11 de abr.
- 5 min de leitura
LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! {PAST TENSE MOVIE} — Por Manu Cárvalho

Em um mundo cada vez mais acelerado e cínico, onde jovens se sentem frequentemente perdidos entre expectativas externas e vazios internos, filmes como A Forja – O Poder da Transformação assumem uma função rara: a de fazer pausas. Dirigido por Alex Kendrick e roteirizado em parceria com Stephen Kendrick, o longa, lançado nos cinemas em 26 de setembro de 2024, é um drama cristão que aposta na transformação espiritual como resposta para os dilemas mais profundos da juventude contemporânea.
Com atuações honestas e uma narrativa que mistura realismo com inspiração, A Forja oferece muito mais do que um sermão audiovisual. Ele se constrói como um convite ao autoconhecimento, à responsabilidade e, principalmente, à reconciliação com a fé e com o sentido de existir. É um filme sobre arrependimento, sobre a coragem de recomeçar e, acima de tudo, sobre o poder da graça.
Sinopse: da dispersão à direção
Isaías Wright (Aspen Kennedy) tem 19 anos, mora com a mãe solteira Cynthia (Priscilla C. Shirer) e está estagnado. Após o ensino médio, ele passa os dias entre partidas de videogame e jogos de basquete, com nenhuma perspectiva clara de futuro. Sua mãe, uma mulher de fé inabalável, não consegue mais suportar a apatia do filho. Com firmeza e amor, lhe dá um ultimato: encontrar um caminho ou sair de casa.
Movido pela pressão e, em parte, pela vergonha, Isaías aceita um emprego na academia Moore Fitness, dirigida por Joshua Moore (Cameron Arnett), um ex-atleta cristão que passa a ser seu mentor. Ao longo da narrativa, Isaías encontra desafios, tropeços, recaídas e, lentamente, se permite ser moldado — como ferro na forja — pelo calor da verdade e do amor divino.
Aspen Kennedy: o retrato da juventude em suspensão
Isaías não é um rebelde sem causa. Ele é, na verdade, um jovem comum, como tantos espalhados pelo mundo real: perdido, desconectado, sem noção clara de identidade ou vocação. Aspen Kennedy abraça essa complexidade com sensibilidade. Sua interpretação evita exageros, apostando em um realismo que se sustenta na expressividade contida dos olhos e na evolução corporal do personagem.
Nos primeiros atos, Isaías é curvado, fechado, desconfiado. Aos poucos, com as provocações certas e o afeto incondicional de quem acredita nele, vai se erguendo. Não por milagre imediato, mas por um processo interno que Kennedy interpreta com honestidade comovente.

Cynthia Wright: fé, força e firmeza materna
Priscilla Shirer, mais conhecida no meio cristão por suas pregações, entrega aqui uma atuação poderosa como Cynthia, a mãe de Isaías. Ela é o tipo de personagem que poderia facilmente cair em estereótipo, mas que ganha camadas de humanidade pelas mãos da atriz. Cynthia não é apenas "a mãe que ora"; ela é a mulher que erra, que se desespera, que é dura quando precisa ser, mas nunca perde a ternura.
Se Isaías é o protagonista da transformação, Cynthia é o catalisador. E a forma como Shirer equilibra raiva, amor, frustração e esperança é um dos grandes destaques do longa.
Joshua Moore: a firmeza dos que já foram moldados
Cameron Arnett, como Joshua Moore, atua como guia e mentor espiritual de Isaías. Seu personagem, um ex-atleta que agora dedica a vida a formar jovens através do esporte e da fé, é carismático e assertivo. Ele não fala apenas com palavras, mas com exemplo. Sua relação com Isaías passa por fases de distância, confronto e cumplicidade, refletindo o caminho real de qualquer mentoria verdadeira.
Arnett transmite credibilidade, e seu Joshua é aquele tipo de homem que impõe respeito pela integridade. Ele é o ferro já moldado, ajudando a aquecer a forja do protagonista.
A forja como metáfora: o calor que transforma
O título do filme não é apenas simbólico; é literal e conceitual. A forja, onde o ferro bruto é moldado sob calor intenso e batidas repetidas, é uma analogia perfeita para o processo de transformação de Isaías. Não há fácil, não há atalhos. Há dor, resistência, suor. Mas também há beleza, renascimento e novo propósito.
O roteiro trabalha bem essa simbologia, mostrando que a fé não é um elemento mágico que resolve tudo, mas um processo que exige entrega, paciência e perseverança. É nesse ponto que o filme se diferencia de tantas produções cristãs mais didáticas.

Roteiro e direção: simplicidade com coração
Os irmãos Kendrick já mostraram, em filmes como Quarto de Guerra e Desafiando Gigantes, que sabem construir narrativas inspiradoras. Em A Forja, eles mantêm o foco no cotidiano. A direção é funcional, sem firulas. O que importa aqui é a mensagem.
O roteiro evita vilanizar personagens, mesmo quando retrata dificuldades. Os erros de Isaías não são tratados com moralismo, mas com empatia. Há cenas de confrontos internos, de oração silenciosa, de resistência emocional. Tudo isso constrói uma narrativa que, mesmo com clichês, soa sincera.
Trilha sonora e ambientação: reforçando a jornada
A trilha sonora de Paul Mills, colaborador frequente dos Kendrick, é eficiente em sustentar os momentos mais emocionantes do filme sem se tornar invasiva. Temas suaves em piano e cordas acompanham os arcos emocionais com delicadeza, enquanto algumas músicas contemporâneas adicionam energia nos trechos mais juvenis.
A ambientação simples, com cenas em academias, ruas, igrejas e casas comuns, ajuda a reforçar a mensagem: essa é uma história que poderia acontecer com qualquer um.
O papel da espiritualidade: sem pregação, com convicção
O filme é declaradamente cristão, mas não se constrói como um panfleto. A espiritualidade está inserida de forma orgânica: nas orações, nas escolhas, nos silências. A fé é vivida, não apenas falada. Isso torna a mensagem mais acessível, mesmo para quem não compartilha da mesma crença.
Personagens como Dona Clara (Karen Abercrombie) representam esse aspecto com ternura e autoridade. Sua presença, mesmo breve, reverbera ao longo da história.

Recepção da crítica: divisão entre céticos e convertidos
Como ocorre com a maioria das produções cristãs, a crítica especializada se divide. O portal CinePOP destacou a atuação sincera do elenco e a eficiência da mensagem, mesmo com alguns clichês narrativos. Críticos mais céticos apontam para a previsibilidade da trama e para a idealização de soluções através da fé.
Já o público, especialmente o cristão, tem recebido o filme com entusiasmo. Nas redes sociais e plataformas como AdoroCinema, multiplicam-se os relatos de espectadores tocados pela jornada de Isaías. Há quem diga ter chorado, orado, se sentido representado.
Conclusão: uma história para moldar corações
A Forja – O Poder da Transformação é mais do que um drama religioso. É um convite à reflexão sobre escolhas, responsabilidade e esperança. Com uma narrativa envolvente, atuações comprometidas e uma mensagem clara sobre o poder da fé para transformar vidas, o filme encontra seu espaço como referência no cinema cristão contemporâneo.
Não é perfeito. Mas é honesto. E, em tempos de tanto ruído, talvez seja disso que mais precisamos: histórias que, mesmo simples, lembram que sempre é possível recomeçar.
Nota final: ⭐⭐⭐⭐(4/5)
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