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Silver Marraz

Cachaçada pra moçada, pra rapaziada brincar com animação


Essa evolução ou ebulição cultural do país me deixa apaixonado. A riqueza da diversidade que vai do tambor do Maranhão, às modas sertanejas de Goiás, os Bois de Paratins, as rodas de samba carioca, o Carimbó Paraense, a folia de Reis de Minas, o samba de roda do recôncavo baiano. Vamos parar aqui.


Vamos dar uma volta nos estados brasileiros. Festa, festa e festa. Diversão por todos os cantos e muita música. É deste ponto que quero tratar: do som que parece apaixonante, lindo e acalentador. Acho que é isso: ACALENTA DOR. A batida forte envolve e não há como ficar parado.


O poder de comercialização desenfreado nos faz consumir textos, programas de TV, rádio e músicas de maneira muito brusca e violenta. Um lixo cultural desnecessário à criação de um ambiente intelectual humano feito de baixarias midiáticas. E aí não fica nada de fora, ou melhor, fica tudo de fora. Despem o ser humano e fica o mercadológico, o desleal, o sexualizado bizarramente ou o que restou dele, o violento, o preconceituoso, o desrespeitoso, o pornográfico e o pornofônico.


A música passou a ser instrumento de ensinamento que conduz crianças a idosos a ouvirem coisas com conteúdo duplamente desafiador. Mas, por que desafiador? Vai-se entender, se é que compreende o trocadilho. Ou você escapa dos juízos de valor e prestigia sem noção o que consome, ou olha criticamente os produtos culturais e chora nesta roda batendo palmas pra maluco dançar.


Entendo que a música seja um produto cultural hibridizado e aos poucos vá apresentando novas linguagens quando se mistura ao ritmo nacional brasileiro. A sua escrita, entretanto, muitas vezes, mostra a presença de duplo sentido e apologias às situações mais ridículas permeadas em vertentes maliciosas e ínfimas que arrefecem os estereótipos.


Aí vem o sofrimento: putão, espada, miseravão, cachorra, piriguete, pidona, fuleira, canhão e todas estas palavras servem para qualificar pessoas, seres humanos numa respeitabilidade que chega a ser absurda de tão ridícula. E o pior, todos cantam, dançam e consomem, enquanto na mais leve das situações as mulheres são comidas como frutas, perecíveis, consumíveis e descartáveis. E elas disputam o poder.


Do ponto de vista humano é cruel, mas do corporal a dança alimenta o corpo e faz bem, mas isso quando não mata a essência cultural: “rala a theca no chão”, ou “vaza canhão”, ou “ela é dog”, embora a cada momento elas sejam substituídas por outras ainda mais sem sentido, no entanto, com a mesma função de descaracterizar a tendência à integridade intelectual. Parece-me, quando vejo tanto sucesso, que as pessoas menosprezam-na e penso: será a cultura de massa realmente ruim ou eu que sou?


Não sou preconceituoso, só tenho limites à falta de respeito ao ser humano, porque a boa música esta cedendo lugar ao baixo nível e apelos sexuais à pedofilia.


Onde estaria a Ética em todas essas músicas que apresentam unicamente questões voltadas ao hedonismo? A tal pretensão universal parece que tem sido deixada de lado. A degradação musical ocorrida com a musicalidade não é tão recente, embora as de hoje doam demais, porque é o momento no qual eu vivo e presencio.


Não estou propondo que se criem músicas eruditas e clássicas para substituírem o que não presta, mas que não se alimente esta arte deplorável que machuca e fere nossa bela cultura musical.  Valorizar e propagar esta desculturalização é se apegar ao promíscuo criminoso, ao modismo de baixo calão e à falta de atenção à própria saúde, já que tanta imundície pode causar danos irreversíveis ao cérebro.


Enfim, particularmente, é fantástico que todos os anos o Brasil dê sempre oportunidade a novos artistas, às novas criações. A cada ano uma nova revelação. O que me entristece é que diante de uma cultura tão rica como é a dessa terra, o povo consuma muita música que não traz nenhum crescimento cultural e o que se percebe é que os artistas, em grande parte, são abafados por outros que não produzem músicas de qualidade para respeitar o povo que os aprecia.


Sinto a sensação de estarmos diante da política brasileira: nos mandam qualquer coisa e aceitamos sem questionar. Ouvimos. Engolimos e ponto. O resto é cachaça, diversão e contas a pagar depois da folia.


Não sei se haverá uma degradação maior para esta baixa produção midiática, já que os produtos já se tornaram importantes ao mercado e o que era para ser algo cultural se fundiu ao dinheiro e à falta de ação intelectual por parte de quem o faz e de quem curte. Mas, espero que um dia a “ficha caia”, mas que seja bem antes do lobo mal comer a chapeuzinho e institua diretamente a evidência da naturalização da questão da pedofilia cantada por aqui.


Por Silver D'Madriaga Marraz


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