Por Alíne Valencio.
É por causa de uma bruxa que você é dona do teu nariz.
Olá, minha querida amiga leitora. Esta semana estamos na terceira etapa da matéria sobre Bruxas. Na semana passada, expus aqui a respeito da responsabilidade das igrejas, especialmente da católica, pelo extermínio de milhares de mulheres consideradas bruxas, simplesmente por desejarem ser donas de suas próprias vidas. E para tornar mais claro, fazendo um paralelo com os dias de hoje, sim, as bruxas existem. São todas aquelas mulheres que não aceitam, não permitem que ninguém mande em suas vidas. Seja quem for. Nem igrejas, nem padres, nem pastores, nem rabinos, nem maridos, mães, pais, irmãos, namorados, ou quem quer que seja. NINGUÉM. São aquelas mulheres que não cedem aos ensinamentos de submissão nos quais a figura feminina é a da princesa, virgem, recatada, do lar, que ri baixo, com as mãos na boca para não chamar atenção, porque mulher decente e digna é aquela que não se expõe. E, claro, o machismo sempre desvirtuando o conceito de exposição para satisfazer os desejos de um universo masculino e misógino.
Sendo assim, faz-se necessário também arraigar no imaginário feminino a aparência das bruxas, que ao longo dos séculos foi sendo lapidada, chegando ao que é hoje. Uma mulher anciã, feia, desdentada, nariguda, verruguenta e má, muito má. O imaginário feminino sempre foi povoado pela ideia da importância da aparência física, instigando mulheres a irem ao fundo do poço para alcançarem a tão sonhada aparência ditada pela sociedade, salientando: a sociedade patriarcal, conservadora e retrógrada. E o que isso tem a ver com as bruxas? Tudo. Veja bem, o raciocínio subliminar é óbvio: “Se você quer ser uma mulher livre, que manda em si mesma e na própria vida, é assim que você vai ficar. Mulher que quer ser dona do próprio nariz, cuidado. Estudar muito, questionar e se impor é nisso que dá, viu?"
Isso se confirma no simples fato de que a mulher sábia e livre, desde a época da inquisição, foi considerada pela igreja católica culpada por todos os males da sociedade, principalmente pelas indecências cometidas por homens ao longo da história. A beleza e a sensualidade de uma mulher eram motivos plausíveis para ela ser queimada e considerada herege, uma vez que sua beleza era vista como a causa da perdição dos homens. Ou seja, a culpa de um homem abusar de uma mulher, por exemplo, recaía sobre ela. Ora, parece que nada mudou até hoje, né? Afinal, muitos homens não conseguem se controlar diante de uma mulher bonita, e a responsabilidade disso é atribuída a quem? A nós, mulheres, especialmente se essa mulher for linda e desobediente. E, além disso, essa mulher merece uma punição.
Segundo a igreja católica, a responsável pela decadência do homem é Eva, que foi considerada fraca e sucumbiu ao pecado ao ouvir a serpente e comer a maçã. Isso quer dizer que tudo que aconteceu com as mulheres é culpa de Eva? Aceitamos uma barbaridade dessa? Concordamos? Desde a instauração da doutrina católica, a mulher vem sendo culpabilizada pelos males da humanidade, mas ninguém menciona os padres católicos na Europa medieval e os pastores protestantes nos Estados Unidos e na Europa, que mandaram queimar mais de 60 mil pessoas, muitas delas inocentes, por terem sido acusadas de bruxaria. Já percebeu que são sempre homens?
Além disso, pelo fato de as bruxas serem mulheres livres, a igreja criou, no imaginário coletivo, a ideia de que essas mulheres, além de fazerem sexo com diversos homens (ou seja, serem prostitutas), praticavam sexo com o diabo. Quer dizer, até o diabo caía nas garras das bruxas. Isso só significa que, por essas mulheres não aceitarem obedecer aos homens, elas mereciam ser castigadas. Assim, eles se vingavam de maneira cruel e perversa, denegrindo sua imagem e reputação, incitando todos a odiá-las e apedrejá-las em praça pública. As semelhanças com os dias de hoje estão cada vez mais familiares, vide o número de feminicídios no Brasil. O feminicídio reflete uma coisa: os homens não conseguem lidar com o fato de não terem mais controle sobre as mulheres. Simples assim. Contudo, essa realidade instiga sua ira inconsciente de que a mulher precisa ser punida severamente por isso. O mais bizarro é constatar que, dia após dia, nada mudou no sentido de vivermos numa sociedade que apoia esse tipo de comportamento. E muitas vezes, pelas próprias mulheres. Por isso, te pergunto novamente: você tem medo de bruxas?
Chegamos ao fim da terceira semana do nosso bate-papo sobre as bruxas, amiga leitora. Espero que até aqui seu desejo de se tornar uma mulher livre, sábia e dona do seu nariz, ou seja, ser uma bruxa, esteja aceso.
Um beijo e até semana que vem.
Alíne.
Comments