País sede o G20 vive entre milícias, tráfico e polícia, ninguém protege ninguém
O Brasil é um campo de batalha onde as armas nunca se calam. O inimigo não veste uniforme, mas carrega crachás do Estado, distintivos, ou domina territórios periféricos com fuzis à mostra. Entre milícias, tráfico de drogas e uma polícia despreparada e descontrolada, a violência não apenas sufoca; ela nos define.
O dilema entre o medo e a injustiça
No Brasil, o relógio do caos nunca para. Milícias e tráfico de drogas dominam territórios com mais eficiência que qualquer governo. E quando se espera que a polícia — o braço do Estado — nos ofereça segurança, ela dispara. Literalmente. A morte de Marco Aurélio Cardenas Acosta, estudante de medicina, aos 22 anos, é mais um capítulo revoltante de um livro que insiste em não acabar: a violência institucionalizada.
Marco foi morto por aqueles que deveriam protegê-lo, em um hotel na Vila Mariana, em São Paulo. O crime? Ter dado um tapa no retrovisor de uma viatura e fugido. Fugir de quem deveria salvá-lo é, em si, o retrato mais cruel da falência do sistema. No hospital, ainda vivo, ele implorava ao pai por ajuda: "Me ajuda", disse. Ele ainda acreditava na vida, mesmo quando o Estado já havia lhe condenado à morte.
As milícias, outrora justificadas como “defensores” contra o crime, hoje são tão ou mais nocivas do que o tráfico de drogas. No Rio de Janeiro, 57,5% do território controlado por grupos armados está nas mãos dessas organizações, que cobram por serviços básicos, aterrorizam moradores e financiam seus próprios candidatos. O tráfico, por outro lado, dita regras em outras 15% dessas áreas. O que sobra para o Estado são apenas 27,5% de “terreno livre”. Isso em um país que se orgulha de ser uma democracia.
E a polícia? Essa deveria ser a trincheira contra o caos. Mas muitas vezes, ela é o próprio caos. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam que, em 2022, 6.430 pessoas foram mortas em intervenções policiais. Os alvos são previsíveis: jovens, negros, pobres. São eles que morrem, e são eles que os jornais chamam de “suspeitos” antes mesmo que seus corpos esfriem.
A linha entre polícia e milícia é tênue. Em comunidades dominadas por grupos armados, muitos policiais são cúmplices. Alguns vendem informações, outros participam diretamente das extorsões. O que deveria ser o braço forte do Estado é, em muitos casos, uma extensão do crime organizado.
A impunidade como regra
Quando um agente do Estado mata, a punição é, quase sempre, simbólica. No caso de Marco Aurélio, os policiais envolvidos foram afastados. Não foram presos, não foram julgados. Apenas afastados. Essa é a forma como o Brasil trata seus erros: jogando-os para debaixo do tapete. Afastamentos, exonerações, um pedido público de desculpas aqui e ali. Mas a verdade é que a máquina segue matando.
E não é de hoje. Da chacina de Vigário Geral em 1993 ao massacre do Carandiru no mesmo ano, a história brasileira é pontuada por episódios em que o Estado não apenas falhou em proteger, mas se tornou o algoz. O Brasil tem uma tradição de desumanizar suas vítimas.
Milícias, tráfico e a polícia: um triângulo macabro
A conexão entre milícias, tráfico e a própria polícia é uma dança cínica. As milícias, compostas muitas vezes por ex-policiais, controlam bairros inteiros, cobrando taxas pela “proteção”. Já o tráfico, armado até os dentes, distribui um terror silencioso, que dita regras em vielas e becos. Ambos coexistem em territórios tão marginalizados quanto esquecidos. E a polícia? Ela atravessa essa guerra sem lados, mas com muito sangue nas mãos.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2022, o Brasil registrou 6.430 mortes decorrentes de intervenções policiais. Desses, a maioria são jovens, negros e moradores da periferia. E quando a polícia erra, a resposta quase sempre é a mesma: afastamento dos agentes. Um eufemismo para impunidade.
No caso de Marco Aurélio, os envolvidos foram afastados. Não presos. Não responsabilizados. Apenas movidos para outra função, como peças de um tabuleiro sem rei, sem rainha e com muitos peões descartáveis.
A realidade que sufoca
Em um país onde o crime veste farda, onde as balas perdidas encontram alvos sempre previsíveis e onde a justiça é um conceito inalcançável, o cidadão comum é apenas uma figura descartável. Marco Aurélio era um estudante de medicina, alguém com o futuro pela frente, mas isso não o salvou. Porque, no Brasil, não importa quem você é; importa onde você está.
Enquanto o sistema se autodestrói, a população vive entre o medo e a indignação. Mas há algo ainda mais aterrorizante do que a violência em si: a apatia. Todos assistem, esperam o próximo nome, a próxima hashtag. O Brasil não é um país indignado; é um país cansado.
Todos bandidos, com ou sem farda
A sensação de que estamos cercados por criminosos é esmagadora. Mas a linha que separa o bandido sem farda do fardado está cada vez mais borrada. Quem governa as comunidades? Quem decide as regras? Quem puxa o gatilho? No Rio de Janeiro, por exemplo, milícias dominam 57,5% do território controlado por grupos armados. O tráfico, outros 15%. Restam apenas 27,5% de “área livre” no Estado. A mesma polícia que deveria reverter essa estatística muitas vezes colabora para mantê-la.
Enquanto Marco Aurélio implorava pela vida, a pergunta não era se ele tinha feito algo errado. A pergunta era: quantos mais precisarão implorar?
E enquanto você lê este texto, outro Marco está implorando por ajuda em alguma esquina. Outra bala perdida está encontrando o peito de alguém que não deveria estar no caminho. Medo. O sistema é voraz, insaciável. Ele não protege. Ele consome.
O Brasil virou refém de si. Uma nação sequestrada por instituições podres, onde o cidadão é a vítima perfeita. Aqui, não há garantias, apenas estatísticas. E enquanto você lê, mais uma vida pode estar sendo apagada por um sistema que prometeu proteger, mas que prefere apertar o gatilho.
O relógio do caos continua. O Brasil está sob fogo cruzado — e nós somos os alvos.
Sem palavras pra tamanho absurdo do que esse país vem se tornando!