Projeto visa transformar a zona portuária do Rio em um epicentro cultural e turístico, resgatando a memória negra e impulsionando a economia criativa
Preparem-se para uma revolução arquitetônica e cultural! O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) acaba de abrir as portas para que arquitetos e urbanistas negros deixem sua marca na história do Rio de Janeiro. O Concurso BNDES Pequena África, lançado no Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial (21 de março), convida profissionais a desenharem o futuro do Distrito Cultural da Pequena África, localizado na icônica zona portuária da cidade.

Arquitetura, história e resistência
Se você não está familiarizado com a Pequena África, anote esse nome: essa região foi palco de momentos cruciais da formação cultural e social do Brasil. O Cais do Valongo, por exemplo, é um dos mais importantes marcos da diáspora africana no mundo – reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Mundial. Foi por ali que mais de um milhão de africanos escravizados desembarcaram no Brasil, e hoje, a Pequena África simboliza resistência, memória e luta por direitos.
Mas a história que antes foi apagada, agora será contada com protagonismo negro. O concurso busca propostas que integrem urbanismo, cultura e tecnologia para transformar a região em um museu a céu aberto, resgatando o passado e projetando um afrofuturo vibrante.
E quem pode participar?
Para garantir que essa requalificação urbana tenha identidade e representatividade, o edital exige que as equipes concorrentes sejam lideradas por arquitetos e urbanistas negros. Além disso, os projetos podem envolver especialistas de diversas áreas, como arqueologia, comunicação visual, design, história e educação.
O objetivo? Criar um território onde a memória não apenas seja preservada, mas também celebrada por meio de infraestrutura urbana, soluções inovadoras e atividades culturais. As propostas devem incluir desde estratégias de mobilidade e acessibilidade, até a implementação de espaços educativos e instalações interativas que dialoguem com a comunidade e os visitantes.

Prêmios e impacto econômico
E se engana quem pensa que o projeto se limita à valorização histórica. O BNDES quer que a Pequena África se torne um motor econômico e turístico da cidade, impulsionando o afroturismo e fortalecendo a economia criativa.
Os vencedores do concurso levarão prêmios que totalizam R$ 130 mil, distribuídos da seguinte forma:
1º lugar: R$ 78 mil
2º lugar: R$ 39 mil
3º lugar: R$ 13 mil
Mas a verdadeira recompensa vai além do dinheiro. O projeto tem o potencial de gerar empregos, fortalecer o comércio local e transformar a Pequena África em um grande polo de cultura negra no Brasil e no mundo.
Uma escuta ativa da comunidade
E antes de lançar o edital, o BNDES não ficou só na teoria. A construção do concurso envolveu uma ampla escuta da população local, com mais de 150 horas de oficinas e uma pesquisa que ouviu mais de 600 pessoas. A ideia é que as propostas reflitam os desejos e necessidades reais da comunidade, garantindo que a transformação da Pequena África seja feita por e para o povo negro.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, celebrou a iniciativa:
“A nossa construção, a nossa revolução, a nossa existência nesses espaços se dá por uma luta coletiva”.
Já o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, destacou a importância da reparação histórica:
“O Brasil tem uma dívida com a população negra. O Cais do Valongo foi o maior porto de chegada de africanos escravizados no mundo. Fortalecer a Pequena África é resgatar essa história e garantir que nunca mais se repita”.
Um Brasil para todos
Além de fortalecer a identidade cultural da Pequena África, a iniciativa também reposiciona o Brasil no cenário do afroturismo global. Segundo o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, o país está batendo recordes de visitação internacional:
“O Brasil nunca recebeu tantos turistas como agora. Mas não podemos ter um Brasil para o turista e outro para os brasileiros. É um Brasil só, e ele tem que ser para todo mundo”.
Edital para arquitetos negros: Inscrições abertas!
Se você é arquiteto, urbanista ou trabalha em áreas ligadas ao patrimônio e à cultura, as inscrições vão até o dia 15 de maio. Essa é uma oportunidade única de transformar um território carregado de história em um centro de inovação, resistência e celebração da cultura negra.
O futuro da Pequena África está sendo desenhado agora – e dessa vez, por quem realmente pertence a essa história.
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