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Eduarda Rocha

BISSEXUALIDADE: DISCUSSÕES E REFLEXÕES SOBRE A VIVÊNCIA BISSEXUAL

Um amigo meu que é gay me acusava enquanto eu estava com um cara, que eu precisava aceitar que gostava de mulher, porque eu precisava me decidir logo. Que era ou um ou outro. Segundo ele, eu estava mentindo pra mim mesma porque não dava pra sentir atração por mais de um gênero.” (Anônima, 17 anos)


O relato acima é fruto de uma pesquisa realizada por meio de um formulário que, mesmo em anonimato, retrata uma das vivências inerentes a ser bissexual. Eu, até então, já me identifiquei como bissexual e senti na pele as experiências únicas de se fazer parte dessa comunidade, ainda que hoje me relacione homoafetivamente e ainda esteja descobrindo minha orientação. Assim, o intuito desse texto é um grito de busca por visibilidade e empatia aos bissexuais, sexualidade tão constantemente invalidada e esquecida.


A bissexualidade vista de dentro e de fora da comunidade LGBT


Por mais que as experiências de vida entre pessoas de dentro e de fora da comunidade LGBT sejam diferentes, quando o assunto é bissexualidade, são encontrados muito mais semelhanças do que diferenças, visto que ambos os grupos invalidam a sexualidade e reforçam estereótipos em uma visão limitada acerca da diversidade sexual. Indecisão e invalidez são palavras-chave utilizadas por bissexuais para descrever o olhar de pessoas integrantes ou não da comunidade que possuem esse ponto de vista antiquado sobre a bissexualidade.


“Muitos comentários invalidam a bissexualidade, tornando mais difícil pra gente aceitar a nossa própria sexualidade, pois ela é vista como uma indecisão. (Anônima, 17 anos)


“A bifobia é bem presente na minha vida, me sinto invalidado em vários momentos e acredito que qualquer situação que nos faça reprimir nossa sexualidade é um ato de lgbtfobia” (Pedro Monteiro, 20 anos)


A invisibilidade é central na discussão sobre a bissexualidade. Por invisibilidade, entenda-se o comportamento geral de não considerá-la uma sexualidade válida, como algo inviável, imoral ou anormal. Há, no entanto, outros fatores a ela atrelados que atravessam a vivência bissexual: a desconfiança de que bissexuais não gostam de fato de um sexo ou outro, a crença na infidelidade desse grupo e o entendimento de que pessoas bi sempre sentirão falta do gênero com o qual porventura não estiverem se relacionando são apenas alguns estereótipos que marcam e degradam a imagem do movimento bissexual.


“Nossa comunidade se atribui de arquétipos sociais. Acho que ainda somos muito mal vistos e representados na grande mídia.” (Pedro Monteiro, 20 anos)


“A bifobia, assim como qualquer forma de discriminação, pode assumir diferentes formas [...] (entre elas) a imposição de que a bissexualidade é uma fase e que o indivíduo em algum momento vai se definir como gay ou hétero.” (Anônima, 20 anos)


A defesa das preferências


A bissexualidade se caracteriza por meio da atração por mais de um gênero. Com isso, a discussão sobre as preferências atrativas de um bissexual é fundamental para a construção de validação e reconhecimento dessa sexualidade.


“Já recebi comentários de estar confusa em relação aos meus sentimentos ou só por geralmente falar de tal gênero me questionarem se eu virei hétero.” (Anônima, 19 anos)


“Já ouvi por diversas vezes que sou lésbica por estar me relacionando com mulheres ou que deixei de ser bi por estar com um homem.” (Brenda Rodrigues, 22 anos)



O gênero no qual a pessoa bi se relaciona e suas preferências atrativas não são medidores de bissexualidade. Tais fatores, por mais que sejam frequentemente usados, não devem ser ferramentas de invalidação dessa sexualidade. Essa pauta é uma defendida pela comunidade bissexual como uma maneira de legitimar a sexualidade e argumentar para as demais pessoas que, para ser bissexual, não é necessário comprovar-se a todo tempo.


A dificuldade de autodescoberta


Depois de toda discussão e reflexão sobre as vivências que atravessam a vida dos bissexuais, é inevitável concluir que as experiências inerentes à bissexualidade, além de gerar um caráter identitário ao grupo, também dificultam para que esses indivíduos se identifiquem e se aceitem como bissexuais.


“Acho que comecei a tomar consciência da minha sexualidade aos 12 anos e, para ser sincera, ainda não tinha ideia de que era possível gostar de mais de um gênero. Então, por uns anos, tentei me entender como lésbica ou hétero, dependendo da pessoa pela qual eu me sentia atraída no momento, o que me gerou diversas crises em relação à minha sexualidade.” (Anônima, 20 anos)


“Eu me descobri gay muito cedo e por muito tempo achei que era isso. Mais tarde, com 17, 18 anos, tomei consciência da minha bissexualidade. Meu maior empecilho foi e continua sendo a validação externa.” (Pedro Monteiro, 20 anos)


Portanto, a luta pelo reconhecimento, validação e respeito pela comunidade bissexual é importantíssima, já que permeia tão profundamente as experiências de vida das pessoas que se identificam dessa forma. O primeiro passo é dado por todos nós, ao buscar conhecer e compreender as atitudes que tomamos e que podem ser revistas e melhoradas, a fim de gerar inclusão não apenas para os bissexuais, mas para qualquer grupo alvo de descriminação.


Eduarda Rocha




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