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Betto Gomes: Jurado Estreante de Fantasia, Fala sobre o Carnaval 2025

Lalinha Rocha

Estilista e jurado estreante do Carnaval, Betto Gomes compartilha sua trajetória inspiradora, as influências de sua comunidade e a importância de um olhar técnico e sustentável na avaliação das fantasias.


Meus amores, vamos falar sobre o quesito fantasia no carnaval? Afinal de contas, cada décimo pode fazer a diferença.


Um dos jurados estreantes desse carnaval foi Betto Gomes, de 37 anos, nascido e criado no Complexo da Maré. Betto participou do quadro Estilista Revelação 2011, do programa TV XUXA, comandado pela própria Xuxa e do programa Academia da Moda, em 2021, com apresentação de Patrícia Poeta, ambos na TV Globo.

Betto Gomes participou do quadro Estilista Revelação 2011, do programa TV XUXA
Participantes Estilista Revelação 2011 - Créditos: Reprodução TV Globo / Renato Rocha Miranda

Após trabalhar em grandes marcas, abriu seu próprio ateliê de moda autoral sem gênero e sustentável, situado na Maré, na casa aonde cresceu. "Trabalhar na minha origem foi essencial para meu trabalho ganhar força, resistência e inspiração." Casado com David Costa, com quem tem dois filhos, Renan e Rian, que são suas fortalezas.


Betto Gomes
Betto Gomes na Sapucaí 2025/Reprodução: arquivo pessoal

O Atelier Betto Gomes, considerado pioneiro em moda sustentável no Complexo da favelas da Maré, grife de Betto Gomes – que leva seu próprio nome -, nascido e criado na Vila do João, uma das 16 favelas do complexo, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Em suas inspirações traz as histórias do território, identidade e memória em forma de coleções exclusivas e sustentáveis – suas peças são produzidas com base no reaproveitamento de tecidos excedentes da indústria da moda. Vestimos celebridades e desenvolvemos projetos especiais para empresas. Ou seja, se tem uma pessoa para avaliar as fantasias, é ele. Vamos à entrevista com o jurado Betto Gomes!


REVISTA PÀHNORAMA - Foi seu primeiro ano como jurado no carnaval carioca. Como surgiu essa oportunidade e como você se preparou?


BG - Sim, foi minha primeira vez como jurado, mas minha relação com o Carnaval já tem mais de uma década. Essa oportunidade veio como um reconhecimento da minha trajetória como figurinista e estilista dentro desse universo. Para me preparar, além de estudar o regulamento e o material oficial, usei minha experiência prática para analisar o que realmente faz uma fantasia funcionar na avenida.


REVISTA PÀHNORAMA - Você recebe o livro “Abre-Alas” com quanto tempo de antecedência? Sua pesquisa foi somente no material disponibilizado ou fez algum tipo de pesquisa complementar?


BG - Recebemos o “Abre-Alas” algumas semanas antes, e ele é um guia fundamental. Mas, por vir da prática e estar inserido nesse meio há anos, também faço uma pesquisa complementar, analisando referências, estudando os desfiles anteriores e observando como a fantasia se conecta ao enredo da escola.


REVISTA PÀHNORAMA - Ao ler os temas e os detalhes de cada fantasia, teve aquela que você ficou ansioso para ver como seria na avenida? Ou até mesmo aquela que você pensou: “Isso pode não ficar bacana”?


BG - Sempre tem aquela fantasia que desperta curiosidade por trazer um conceito ousado ou inovador. Ao longo dos anos, aprendi que algumas ideias no papel podem parecer incríveis, mas precisam de um acabamento primoroso para funcionarem na avenida. O contrário também acontece: fantasias que parecem simples no projeto, mas surpreendem ao vivo pelo impacto visual.


REVISTA PÀHNORAMA - Para você, qual a importância do carnaval como um todo?


BG - O Carnaval é um grande palco da nossa cultura e um motor de transformação social. Como alguém que veio da comunidade e construiu um ateliê voltado para o desenvolvimento sustentável e social, vejo de perto como essa festa gera oportunidades, movimenta a economia e dá voz a tantas narrativas. Mais do que um espetáculo, o carnaval é resistência e celebração.


REVISTA PÀHNORAMA - Como você está lidando com as críticas sobre suas notas?


BG - Críticas fazem parte, principalmente em um evento tão passional como o Carnaval. Mas sei que meu julgamento é técnico, embasado na experiência e no conhecimento de quem já viveu cada etapa desse processo. Meu compromisso é sempre com a justiça e o respeito ao trabalho das escolas.


REVISTA PÀHNORAMA - Você acredita que essas mudanças no julgamento foram positivas ou negativas?


BG - A entrega de notas diárias trouxe um dinamismo interessante e pode evitar influências externas. Mas exige uma análise ainda mais precisa e atenta, já que não há como revisar tudo ao final. Como qualquer mudança, precisa ser avaliada na prática para ajustes futuros.


REVISTA PÀHNORAMA - Quais elementos você considera essenciais para uma fantasia ser bem-sucedida?


BG - Uma fantasia de sucesso une conceito, acabamento, impacto visual e funcionalidade. No meu trabalho, sempre enfatizo que a fantasia precisa contar uma história de forma clara, ter um bom caimento e interagir bem com o movimento da avenida.

betto gomes - jurado 2025
Betto Gomes na cabine dos jurados/Reprodução: arquivo pessoal

REVISTA PÀHNORAMA - Quais são os maiores desafios ao avaliar a fantasia em um desfile?


BG - O tempo é curto, e a iluminação, o movimento e a distância podem alterar a percepção. Além disso, fantasias exuberantes precisam ser equilibradas para que o destaque não comprometa a harmonia geral do desfile.


REVISTA PÀHNORAMA - O uso de novos materiais tem se tornado um critério importante nos julgamentos?


BG - Sim, e vejo isso com bons olhos. Trabalho com materiais de baixo impacto ambiental e sei que inovação e sustentabilidade podem andar juntas. Materiais leves e tecnológicos podem dar um efeito incrível, mas precisam estar a serviço do conceito e da execução.


REVISTA PÀHNORAMA - Como você lida com a originalidade das fantasias?


BG - A originalidade é um grande diferencial, mas precisa estar equilibrada com a execução. Já vi ideias geniais perderem impacto por problemas na finalização, assim como conceitos aparentemente simples se destacarem pelo acabamento impecável.


REVISTA PÀHNORAMA - Qual conselho daria às escolas que não conseguiram gabaritar na fantasia?


BG - Atenção ao acabamento e à funcionalidade. Às vezes, um material mais adequado ou um pequeno ajuste na construção faz toda a diferença. E, claro, o olhar para a comunidade e a sustentabilidade podem agregar muito ao processo.


Lalinha.

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