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Ana Soáres

Beleza e Resistência: A Revolução da Estética Negra no Brasil

A ascensão de empreendedores negros e a valorização da diversidade transformam o mercado de cosméticos, impulsionando uma mudança social e econômica que celebra a pele e o cabelo afro


Estética Negra

Nos últimos anos, o mercado de beleza no Brasil tem assistido a uma transformação silenciosa, mas poderosa. Marcas de cosméticos e profissionais de estética estão, enfim, começando a entender e celebrar as particularidades da pele negra. Por muito tempo ignorada pela indústria, a estética negra, agora, ganha força com produtos e serviços que respeitam suas singularidades. O impacto dessa mudança vai muito além do consumo; ele toca a autoestima, a representatividade e a resistência de um grupo historicamente marginalizado.

Estética Negra

A pele negra, com suas características únicas, requer cuidados específicos. Desde a proteção contra manchas até a hidratação adequada, os desafios são muitos, e, por décadas, a indústria de cosméticos ofereceu soluções ineficazes. A exclusão era notória: bases que deixavam a pele acinzentada, produtos que não levavam em conta as particularidades do cabelo crespo e cacheado e a escassez de profissionais capacitados para lidar com essas demandas específicas. Mas algo mudou.

Representatividade que transforma

A ascensão de empreendedores negros no setor da beleza foi um divisor de águas. Hoje, nomes como a dermatologista Katleen Conceição, referência em tratamentos para pele negra, ou a empresária Cristiane Gomes, criadora da linha de cosméticos Negra Rosa, são exemplos de liderança e inovação. São vozes que, com autoridade e conhecimento, forçaram a indústria a olhar para um público que sempre esteve ali, mas que nunca foi ouvido.

"Quando comecei, sentia falta de produtos que realmente entendessem minha pele e meu cabelo. Era uma luta constante. A solução foi criar meus próprios produtos", conta Cristiane.
Beleza negra

A decisão de empreender partiu não apenas de uma necessidade pessoal, mas também do desejo de oferecer algo transformador para outras mulheres negras. E não é apenas o setor de cosméticos que evoluiu. Salões especializados em cabelos crespos e cacheados surgiram, oferecendo cortes, tratamentos e colorações que respeitam e exaltam a textura natural do cabelo afro.

Esses avanços vêm refletindo na economia. De acordo com um estudo da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), o mercado de beleza para pele e cabelos afros movimenta cerca de R$ 10 bilhões por ano. Um número expressivo, que ressalta o poder de consumo desse público e a crescente demanda por produtos de qualidade, que conversem diretamente com suas necessidades.

Beleza como resistência

Porém, essa mudança não é apenas uma questão de mercado. A valorização da estética negra é, acima de tudo, um ato político. Para muitas pessoas negras, a busca por produtos que respeitem suas características é parte de uma resistência maior contra os padrões estéticos eurocêntricos que dominaram o Brasil desde o período colonial. A imposição de um ideal de beleza distante da realidade de grande parte da população sempre foi uma ferramenta de exclusão, e subverter isso é, também, subverter uma ordem social racista.

Beleza negra

A história nos mostra que, durante séculos, a beleza negra foi vista como exótica ou, pior, marginalizada. Não é à toa que, até pouco tempo, o alisamento capilar era uma prática quase obrigatória para mulheres negras que queriam se sentir aceitas nos espaços de trabalho ou sociais. Hoje, os salões de beleza que celebram o cabelo natural, como o Instituto Beleza Natural, fundado por Zica Assis, se tornaram santuários de autoestima e aceitação.

O movimento de valorização da estética negra também se fortaleceu com a visibilidade proporcionada por figuras públicas. Celebridades como a cantora IZA e a atriz Taís Araújo têm usado suas plataformas para quebrar padrões e mostrar a força e a beleza da pele e dos cabelos negros. O impacto dessa visibilidade é imensurável, especialmente para jovens que, pela primeira vez, veem sua estética sendo celebrada em grande escala.

Um futuro inclusivo

Ainda que o caminho seja longo, é inegável que o Brasil está, lentamente, corrigindo o curso de uma indústria que, por muito tempo, ignorou sua maioria. Afinal, segundo o IBGE, mais de 56% da população brasileira se identifica como preta ou parda. A mudança na forma como o mercado de beleza aborda a estética negra não é apenas uma tendência; é uma questão de justiça social.

Beleza negra

O futuro da beleza no Brasil passa, necessariamente, pela inclusão. E não se trata apenas de criar produtos para pele e cabelos afros, mas de fomentar uma indústria que compreenda a pluralidade de belezas que compõem o país. Ao valorizar e respeitar a estética negra, o Brasil dá um passo importante rumo a uma sociedade mais justa, onde todos têm espaço para brilhar.

Essa mudança não é apenas um reflexo de uma demanda de mercado; é um reflexo de uma sociedade que está, finalmente, aprendendo a se enxergar por completo. E, nesse novo cenário, a beleza negra não é mais um nicho; ela é protagonista.

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