Um Caso de Descaso e Impunidade – Análise do Assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes e o Domínio das Milícias no Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, cidade das belezas naturais e da arte, também é palco de uma guerra urbana onde milícias e tráfico se digladiam, enquanto a população assiste, entre assustada e descrente, ao assassinato da segurança pública. Marielle Franco e Anderson Gomes foram duas das vítimas dessa guerra que, desde então, continuam a nos lembrar das falhas abissais do Estado em oferecer segurança e justiça aos seus cidadãos. Hoje, mais de seis anos após o crime brutal, a condenação de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, os executores confessos, traz questões profundas sobre o papel das políticas públicas no combate ao crime organizado e ao avanço das milícias.
Quem controla a cidade?
Esse julgamento não encerra a dor, e tampouco resolve o problema. Ele escancara a verdade nua e crua: enquanto Ronnie e Élcio são condenados, a estrutura que os protegeu e que os motivou continua impune. Afinal, quem financiou esse crime? Quem realmente se beneficia de uma política de segurança falha que permite ao Rio de Janeiro, uma cidade sob o domínio dos fuzis, ser controlada por forças que vão muito além da polícia?
Milícias, formadas majoritariamente por ex-policiais e membros das forças de segurança, crescem à sombra de um Estado que parece de braços cruzados. Não há investimento adequado nas forças de segurança pública e, pior ainda, as políticas atuais muitas vezes fortalecem as facções que oprimem os próprios cidadãos. Em algumas áreas do Rio de Janeiro, quem dita as regras são os chefes das milícias, cobrando taxas de proteção, controlando o fornecimento de gás, internet e transporte, enquanto o Estado se mostra incapaz ou indisposto a retomar o controle. E não é só o Rio: outras capitais também sentem o peso da dominação paralela.
Investimento ou Negligência?
Como chegamos a esse ponto? A falta de investimento crônico nas áreas de segurança pública tem sido uma marca dos últimos anos. Viaturas quebradas, policiais mal pagos, equipamentos ultrapassados. Será que alguém realmente espera que uma polícia nessas condições consiga combater o tráfico e as milícias? E mais: onde está a fiscalização e o controle sobre aqueles que deveriam proteger, mas que muitas vezes acabam se aliando aos interesses de grupos criminosos?
As consequências dessas omissões são gritantes. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro mostram que, entre 2022 e 2023, os índices de criminalidade aumentaram em várias regiões dominadas por milícias. Moradores vivem em constante estado de alerta, enquanto os crimes vão desde extorsão até homicídios, tudo isso sob o olhar omisso das autoridades.
Sarcasmo e Ironia: O Estado que Não nos Protege
É irônico, para dizer o mínimo, que um dos países com uma das maiores taxas de homicídios no mundo se orgulhe de um sistema de justiça tão ineficiente. Enquanto se celebra a condenação de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, a sensação de justiça é mínima, limitada. Quantos mais terão que morrer, como Marielle, para que o governo entenda que não é possível vencer o crime organizado sem uma reforma profunda e sem enfrentar o poder das milícias?
Fica evidente que a segurança pública no Brasil não passa de uma promessa vazia. Políticas vão e vêm, mas o cerne do problema persiste: um Estado que muitas vezes fecha os olhos para a própria responsabilidade, enquanto a população paga o preço com a vida e com a liberdade. A pergunta que fica é: quando o Brasil terá governantes que tratem a segurança com a seriedade que ela merece?
A Memória de Marielle Franco e o Clamor por Justiça
Marielle Franco não será esquecida. O eco de sua luta por direitos humanos e por uma sociedade mais justa se espalhou pelo Brasil e pelo mundo. Sua morte, ao invés de calar, fortaleceu o grito de resistência. Mas esse grito, até agora, ainda não encontrou respostas concretas do Estado.
A condenação dos assassinos é uma etapa. Mas, enquanto as raízes dessa violência continuarem intactas, enquanto não houver um compromisso verdadeiro com a segurança pública, quantos mais perderão suas vidas nas mãos de milícias e do tráfico? Essa é a pergunta que o Brasil precisa responder antes que mais uma vida seja roubada pela violência e pelo descaso.
O assassinato brutal de Marielle Franco e Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, finalmente obteve uma resposta da justiça brasileira. Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, ambos ex-policiais militares, foram condenados a 78 e 59 anos de prisão, respectivamente, pela execução da vereadora e de seu motorista. Este julgamento, por júri popular, veio tarde demais para uma sociedade que desde então assiste atônita aos desdobramentos de um crime cujo eco ainda reverbera nas ruas do Rio de Janeiro e, de forma mais ampla, em toda a nação.
E aqui reside um dos dilemas mais profundos do Brasil moderno: como chegamos ao ponto em que defensores da justiça e dos direitos humanos, como Marielle, são silenciados de forma tão violenta? A sentença de Lessa e Queiroz traz algum alívio, mas deixa claro que a justiça por aqui é apenas parte de uma estrutura muito mais complexa – e, por vezes, podre até o osso.
Segurança pública no Brasil: para quem ela serve?
O governo tá ganhando muito pra não ter segurança
dá pão e circo que esse povo se satisfaz