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Ancestralidade e Tradição: A Segunda Noite de Desfiles na Sapucaí Celebra as Raízes Afro-Brasileiras

Ana Soáres

Três escolas de samba exaltam a ancestralidade africana em apresentações emocionantes


A segunda noite de desfiles do Grupo Especial do Carnaval carioca, ocorrida na última segunda-feira (3), foi marcada por uma celebração vibrante da ancestralidade africana. Das quatro escolas que cruzaram a Marquês de Sapucaí, três – Unidos da Tijuca, Beija-Flor e Salgueiro – dedicaram seus enredos às raízes afro-brasileiras, proporcionando ao público uma noite repleta de emoção e reflexão.

Unidos da Tijuca: A Saga de Logun-Edé

Unidos da Tijuca - Carnaval 2025 – Créditos: Eduardo Hollanda
Unidos da Tijuca - Carnaval 2025 – Créditos: Eduardo Hollanda

Abrindo a noite, a Unidos da Tijuca apresentou o enredo "Logun-Edé – Santo Menino que o Velho Respeita", uma homenagem ao orixá conhecido como príncipe dos orixás, filho de Oxum e Oxóssi. A escola trouxe para a avenida uma narrativa rica em simbolismos, destacando a dualidade de Logun-Edé, que representa tanto a caça quanto a pesca. A comissão de frente emocionou ao retratar a gestação sagrada do orixá, enquanto o carro abre-alas, dividido em dois módulos, encantou com sua grandiosidade e riqueza de detalhes. A ausência da cantora Anitta, uma das compositoras do samba-enredo, foi sentida, mas não diminuiu o brilho da apresentação.


Beija-Flor: Uma Homenagem a Laíla e à Cultura Afro-Brasileira

Levi Assaf interpreta Laíla criança, no tripé da Beija-flor de Nilópolis - Carnaval 2025 – Créditos: Eduardo Hollanda
Levi Asafe interpreta Laíla criança, no tripé da Beija-flor de Nilópolis - Carnaval 2025 – Créditos: Eduardo Hollanda

Na sequência, a Beija-Flor de Nilópolis entrou na Sapucaí com o enredo "Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas", homenageando um de seus mais ilustres diretores de carnaval, falecido em 2021. A escola relembrou momentos marcantes de sua trajetória, como o emblemático desfile de 1989, quando apresentou o "Cristo Mendigo". A representação de Laíla e Joãozinho Trinta no quinto carro alegórico trouxe uma carga emocional intensa, reforçando a importância desses ícones na história do carnaval. A porta-bandeira Selminha Sorriso destacou a relevância de Laíla na valorização dos enredos de temática afro-brasileira, ressaltando o Sambódromo como um espaço de resistência e afirmação cultural.


Salgueiro: Proteção Espiritual e Resistência

Zé Pelintra, no Tripé do Salgueiro - Carnaval 2025 – Créditos: Eduardo Hollanda
Zé Pelintra, no Tripé do Salgueiro - Carnaval 2025 – Créditos: Eduardo Hollanda

O Salgueiro, terceira escola a desfilar, trouxe o enredo "Salgueiro de Corpo Fechado", explorando a busca humana por proteção espiritual. A comissão de frente teve a missão de "fechar o corpo" da escola, invocando ancestrais para garantir uma passagem segura pela avenida. A escola fez referências à chegada de africanos muçulmanos na Bahia e à herança dos povos mandingas de Mali, no norte da África. A utilização de defumadores ao longo do desfile proporcionou ao público uma experiência sensorial única, envolvendo todos em uma atmosfera mística e de profunda conexão com as tradições afro-brasileiras.


Vila Isabel: Uma Viagem pelo Mundo das Assombrações

Sabrina Sato, Rainha de bateria da Vila Isabel - Carnaval 2025 – Créditos: Dhavid Normando
Sabrina Sato, Rainha de bateria da Vila Isabel - Carnaval 2025 – Créditos: Dhavid Normando

Encerrando a noite, a Vila Isabel optou por um enredo mais lúdico, "Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece", conduzindo o público por uma viagem pelo universo das assombrações e figuras folclóricas. Com uma abordagem divertida, a escola transformou medos em brincadeiras, trazendo personagens como fantasmas, lobisomens e bruxas para a avenida. A comissão de frente, liderada pelo ator José Loreto no papel do diabo, arrancou risos e aplausos, mostrando que o terror pode, sim, ser divertido. O destaque ficou por conta do quinto carro alegórico, que trouxe personagens infantis inspirados no cinema, encantando crianças e adultos.

Uma Noite de Celebração e Reflexão

A segunda noite de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro foi uma verdadeira celebração da cultura afro-brasileira e de suas influências na formação da identidade nacional. As escolas mostraram que, ao revisitar suas raízes e tradições, é possível emocionar, educar e entreter, reforçando a importância do carnaval como um espaço de resistência, memória e celebração.

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