Por Silver D'Madriaga Marraz
na festa, na rua, no shopping, na feira, em qualquer lugar. Se pretos, como este, de pensamentos intelectualmente racionais, coesos, aprofundados e sedimentados não em teorias pessoais, mas fundamentados em fatos – sejam eles históricos, sociais, científicos, religiosos etc. – a supremacia branca e escravocrata que acredita na falsa ideia da superioridade natural do homem branco, cairá por terra.
Por que @professor.sidnei (Instagram)? Primeiro por ser preto, segundo por ser preto e terceiro por ser preto. E quando falo preto, não estou me referindo a um mero processo de pigmentação de pele, mas de pigmimentação de consciência, de quem sabe que não lhe bastam cátedras como também atitudes diante de tantas atrocidades perpetradas secularmente sobre os pretos deste país e de África. E ele, o Dr. Sidnei Nogueira, está certo quando diz: “Não dá mais para estarmos reduzidos à dimensão ritual e festa; precisamos ir além ou fazer a sociedade saber que sempre fomos além disso e que sempre fomos maiores.”
Cabe a mim, pará-lo. Sentar, ouvi-lo, degluiti-lo, mastigá-lo, comê-lo ao cru como disse Adriana Calcanhoto, porque é preciso quebrar de uma vez por todas os estereótipos que cerceiam nossos passos nesta terra e que injusta e cruelmente nos faz dar mais passos que os necessários para ter um lugar que é nosso por direito.
Todos os pretos, sem distinção, nesta sociedade brasileira racista, enfrentam um desafio diário, uma jornada marcada por obstáculos e discriminações que se entrelaçam com a história complexa do país. Em meio à diversidade e à miscigenação que compõem a identidade brasileira, a cor da pele ainda determina a trajetória e as oportunidades de milhões de cidadãos. E, neste contexto, a experiência de ser preto carrega consigo o peso de uma herança histórica impregnada pela escravidão. Apesar de mais de um século ter se passado desde a abolição, as marcas do passado ainda ecoam nas estruturas sociais, econômicas e culturais. O racismo, de natureza estrutural, persiste como um obstáculo à plena realização da igualdade, prometida pela Constituição.
Então, vemos a supremacia branca nos silenciar, isso quando não nos invisibiliza e causa-nos dores que se manifestam em diferentes esferas da vida cotidiana. Se é no mercado de trabalho, as estatísticas revelam discrepâncias alarmantes: salários mais baixos, menor representação em cargos de liderança e dificuldades no acesso a oportunidades de crescimento profissional; se é na vida em totalidade, a segregação racial se reflete também nos indicadores sociais, como acesso à educação de péssima qualidade, moradia indigna e serviços de saúde inadequados. Isto sem entrar em profundidade sobre a violência policial, muitas vezes direcionada de forma desproporcional aos jovens pretos, marcando um capítulo sombrio dessa narrativa. A criminalização da juventude preta perpetua estereótipos e cria um ciclo prejudicial, em que a cor da pele se torna um fator de risco para a integridade física e o direito à vida.
Além disso, a construção de uma identidade cultural preta enfrenta desafios constantes. A falta de representatividade nas mídias, nas artes e em outros espaços culturais contribui para a invisibilidade e a marginalização. A diversidade étnica e cultural do Brasil não encontra, muitas vezes, eco na forma como a sociedade se organiza e se percebe.
É, Prof. Sinei, a superação do racismo na sociedade brasileira demanda um esforço coletivo, que vai além da retórica. A implementação de políticas públicas efetivas, a promoção da equidade racial e a desconstrução de estereótipos são passos essenciais nesse processo e, infelizmente, não temos pretos suficientes com consciência intelectual para isso.
Sou incrédulo? Não. Só somos poucos e se a grande massa preta que compõe este país parasse de endeusar a supremacia branca, viraríamos a mesa e nos colocaríamos no nosso verdadeiro lugar. Creio que o senhor há de concordar comigo que é fundamental reconhecer a dor de ser preto como uma realidade inegável, mas que o desafio de construir uma sociedade que verdadeiramente valorize a diversidade, promovendo igualdade de oportunidades e respeito à dignidade de todos os cidadãos, independentemente de sua cor de pele, depende da atitude de cada preto que faz parte deste país.
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