Com certeza você já sentiu na pele que o ato da compra hoje envolve vários fatores. O seu gosto pessoal está repleto de reflexões feitas na calada da noite rolando seu feed e questionando o que realmente acha bonito.
Isso acontece porque cada vez mais os algoritmos estão assumindo o papel de estilistas silenciosos. Eles moldam não só o que enxergamos como tendência, mas também como consumimos moda. E, confesso, isso me inquieta.
Até eu já me perguntei como é possível pensar em comprar um tênis novo e na sequência ser exposta a vários anúncios de vários modelos do momento. Os algoritmos são movidos por dados e estes, como sabemos, são coletados a todo momento. Cada curtida em um post de “look do dia”, cada busca por “bota branca” no Google ou cada compra online alimenta essas máquinas invisíveis. E o que elas fazem? Criam padrões
Então me deparo com mais um problema: as novas caixinhas de padrões fashionistas que se tornarem prisões contemporâneas, em especial para nós mulheres. Ao identificar “o que vende mais”, os algoritmos reforçam certas estéticas (old money, trends do que é ser elegante, roupa para ter cara de rica) e excluem outras (escolhas cotidianas). É por isso que, mesmo em um mundo digital tão vasto, às vezes parece que todo mundo está usando as mesmas coisas. Isso é democrático ou apenas uma resposta a essa padronização?
Isso me faz refletir sobre um apagamento digital que reflete desigualdades do mundo real.
A moda sempre foi sobre um processo pessoal de autoexpressão, ir de encontro a regras obsoletas, ousar e experimentar. Mas, em um sistema tão guiado por dados, será que ainda há espaço para a criatividade e diversidade?
E estudando cada vez mais sobre este universo, vejo novas marcas usarem inteligência artificial para criar estampas ou coleções inteiras baseadas no “gosto” rastreado do público no digital. Isso pode parecer revolucionário, mas será que não estamos apenas reproduzindo em série?
Quando olho para toda essa dinâmica de simbolismo e consumo, não acho que a solução seja simplesmente demonizar o algoritmo. Ele faz parte do nosso avanço tecnológico e reflete mudanças socioculturais significativa, mas precisa ser encarado com responsabilidade. A questão é: como consumidores, precisamos estar mais conscientes desse processo, das suas escolhas e sobre moda. E com um olhar atento e acolhedor sobre nosso estilo pessoal para não cairmos em armadilhas do consumo desenfreado.
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