Por Manu Cárvalho
O cineasta Walter Salles, conhecido por clássicos como Central do Brasil e Diários de Motocicleta, alcançou um marco histórico em sua carreira com Ainda Estou Aqui, que se tornou o filme de maior público de sua trajetória no Brasil. Com impressionantes 1,7 milhão de espectadores, a obra reafirma o poder do cinema nacional em abordar temas universais através de histórias profundamente humanas.
Uma história de resistência e dor
Inspirado no livro de memórias de Marcelo Rubens Paiva, o filme narra a trajetória de Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres) após o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, durante a ditadura militar brasileira. A narrativa foca na luta de Eunice para manter sua família unida enquanto busca respostas em um período de repressão e silêncio.
A atuação de Fernanda Torres tem sido amplamente celebrada pela crítica. Descrita como "magistral" por veículos especializados, a atriz consegue transmitir com profundidade a complexidade de uma mulher resiliente, marcada pela dor e pela luta por justiça. “É uma atuação que transcende o papel, carregando o peso de uma história que ainda ressoa nos dias de hoje”, afirmou um crítico da Escotilha.
A visão poética de Walter Salles
Walter Salles, que construiu sua reputação retratando histórias pessoais com sensibilidade e precisão histórica, traz novamente sua marca registrada ao abordar temas universais como memória, resistência e amor familiar. Em Ainda Estou Aqui, a cinematografia sóbria e intimista reflete o estado emocional dos personagens, com tons neutros e iluminação natural que evocam uma atmosfera documental.
Salles descreveu o filme como "um tributo à resiliência de Eunice e à importância de manter viva a memória histórica do Brasil". A direção reforça a conexão entre o contexto histórico e o drama familiar, criando um elo poderoso com o público.
Reconhecimento nacional e internacional
O sucesso de público no Brasil foi acompanhado de uma recepção calorosa no exterior. Ainda Estou Aqui foi selecionado como o representante brasileiro para a categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2025, reacendendo as esperanças de uma indicação após duas décadas sem a presença do Brasil na premiação.
Além disso, o filme foi aplaudido em importantes festivais internacionais, incluindo Veneza, onde foi descrito como uma obra "emocionante e necessária". A performance de Fernanda Torres também chamou atenção internacional, consolidando sua posição como uma das grandes atrizes do cinema contemporâneo.
Memória coletiva e relevância atual
O filme não é apenas uma reconstrução histórica, mas um chamado à reflexão sobre as feridas ainda abertas da ditadura militar no Brasil. Ao narrar a busca de Eunice por justiça, Walter Salles lembra a importância de preservar a memória coletiva, especialmente em tempos de crescente polarização política.
Para muitos espectadores, a obra resgata o cinema nacional como uma ferramenta de conscientização e transformação social. A história pessoal de Eunice, entrelaçada com o contexto político, encontra eco em diversas famílias brasileiras que ainda buscam respostas e reconhecimento pelos danos causados durante aquele período.
Conexão com o público
O sucesso de Ainda Estou Aqui reflete o desejo do público por histórias que combinam qualidade cinematográfica com relevância emocional e social. O filme, que une performances brilhantes e uma direção sensível, reafirma o poder do cinema de conectar pessoas através da empatia e da memória.
Walter Salles, mais uma vez, entrega uma obra que transcende a tela, convidando o espectador a revisitar a história recente do Brasil e a valorizar os que lutaram por liberdade e justiça. Ainda Estou Aqui não é apenas um filme – é um lembrete poderoso de que, através da arte, as vozes do passado continuam a ecoar no presente.
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